Obras do empreendimento Rio Wonder: o complexo de três torres foi o primeiro lançamento da Cury no Porto Maravilha (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Invest
Publicado em 12 de novembro de 2024 às 18h46.
Última atualização em 12 de novembro de 2024 às 18h59.
A Cury completou em setembro quatro anos de sua abertura de capital e fechou, no mesmo mês, mais um resultado recorde. A construtora de baixa renda teve lucro líquido de R$ 180,6 milhões, alta de 60% em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado ficou 10% acima do consenso Bloomberg, que estimava R$ 163 milhões de lucro.
A receita líquida, por sua vez, rompeu novo patamar e somou R$ 1 bilhão no período, um aumento de 40,4% frente ao terceiro trimestre do ano passado. A margem líquida, que compara o lucro com a receita, cresceu 2,1 pontos percentuais (p.p.), para 17,1%.
Os resultados da companhia acompanham o bom momento do Minha Casa Minha Vida (MCMV), maior programa habitacional do país que ganhou um impulso do governo no ano passado. Os efeitos vieram com mais força este ano não apenas para a Cury, mas para todas as incorporadoras de baixa renda.
Ainda assim, o CFO João Carlos Mazzuco defende que a construtora mostra um diferencial importante no modelo de negócios. Os pilares são três: crescimento de geração de caixa, boa relação de vendas sobre ofertas (VSO) e patamares elevados de rentabilidade, medida pelo retorno sobre patrimônio líquido (ROE).
A Cury alcançou R$ 147 milhões em geração de caixa, avanço de 7,1% frente ao mesmo período do ano passado. O ROE, por sua vez, foi de 64,2% – avanço de 14,5 p.p. na comparação anual.
Em vendas líquidas, a Cury somou R$ 1,43 bilhão, crescimento de 47,8% em 12 meses. Os lançamentos foram de R$ 1,56 bilhão, alta de 66,1% frente ao mesmo período do ano passado. E a VSO, por sua vez, foi de 43,9%, incremento de 3,5 p.p..
“Mantivemos o que fazemos todos os anos. Mesmo com todo o crescimento, continuamos com os fundamentos de avançar na geração de caixa, manter a VSO em 75% e entregar um ROE de 65%”, afirma Mazzuco em entrevista à EXAME.
Com atuação concentrada nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, a Cury tem apostado em localizações cada vez mais centrais para seus projetos. O destaque do trimestre foi a segunda fase do empreendimento Heitor dos Prazeres, localizado na região portuária da capital fluminense, que vendeu 100% das 500 unidades, confirmando, segundo a empresa, a alta demanda por projetos em localizações estratégicas.
“A alta velocidade de vendas demonstra a relevância e quão acertada foi a nossa estratégia de empreender naquela região”, diz o CFO. A incorporadora foi a primeira a apostar na região — uma aposta alta e, no início, solitária. Dos 13 empreendimentos já lançados no porto, 12 são da Cury.
A Cury tem 70% de seus empreendimentos voltados para o Minha Casa Minha Vida, e Mazzuco reforça o otimismo da empresa com o programa. “Não enxergamos problemas no programa no curto prazo. Em termos de funding, o já aprovado orçamento plurianual é suficiente para o nível de demanda atual.”
A preocupação da Cury e das maiores empresas do setor é com o saque-aniversário, que permite que o trabalhador retire anualmente, no mês do seu aniversário, um valor do FGTS – principal funding do MCMV. A retirada consistente pode prejudicar a sustentabilidade do fundo. “É uma preocupação, mas o governo já está estudando medidas para acabar com o saque aniversário, o que pode aumentar os recursos para o fundo já no próximo ano”.
Outro ponto de atenção para o setor é a inflação. O Índice Nacional de Custo da Construção – M (INCC-M) registrou alta de 0,67% em outubro, acumulando 5,72% em 12 meses. Esse resultado representa um avanço expressivo na comparação anual, quando o índice acumulava 3,37% no mesmo período.
A Cury, no entanto, ainda não projeta impacto negativo da inflação em suas margens. “Existe uma preocupação pela alta no preço dos materiais mas, por enquanto, não é nada suficiente para se pensar em ambiente negativo pros próximos meses. Está dentro do que conseguimos absorver.”