Sob pressão de países ricos e atenção dividida com G20, começa semana crucial da COP29
Dias determinantes para negociações terão desafio de equilibrar pressão sobre combustíveis fósseis e expectativas de países menos desenvolvidos. Três propostas de financiamento estão no centro da conversa
Editora ESG
Publicado em 18 de novembro de 2024 às 08h27.
Última atualização em 19 de novembro de 2024 às 10h26.
A COP29 entra em sua segunda semana de negociações, momento decisivo para o futuro do financiamento climático global. Inicialmente apelidada como a "COP do financiamento", a Conferência apresentou alguns avanços modestos em sua primeira semana, sendo o mais relevante no mercado de carbono. No entanto, as discussões cruciais sobre um novo marco financeiro precisam acelerar para que o encontro faça jus à alcunha.
Os rascunhos dos textos divulgados a cada dia de negociações têm refletido a complexidade do tema. O documento base, que começou com nove páginas, agora se estende por 25 páginas, evidenciando o desafio de conciliar as diversas visões e demandas dos países participantes. E os indicadores de pontos ainda não consensuais vem aumentando, sinalizando que ainda há muito trabalho pela frente.
Portanto, a chegada dos representantes de cada nação para a segunda semana de Cúpula marca um momento crítico. Conforme o Carbon Brief, o negociador-chefe da União Europeia foi otimista ao sugerir que um texto de apenas duas páginas poderia contemplar todos os elementos necessários - o que contrasta drasticamente com o documento atual divulgado no sábado, praticamente idêntico à longa versão do dia anterior e que mantém todos os pontos controversos que aguardam resolução ministerial.
Três propostas em análise
Três propostas principais para a estrutura da meta de financiamento estão no centro da discussão. A primeira, defendida por países em desenvolvimento, foca em "provisão e mobilização", estabelecendo uma meta de US$ 1,3 bilhão anuais em financiamento climático, aportados exclusivamente por nações desenvolvidas.
A segunda proposta, e também a preferida dos países desenvolvidos, adota uma " abordagem multicamadas", considerando ultrapassar um trilhão de dólares, porém incluindo investimentos privados globais somados a recursos de países em desenvolvimento. Por fim, a terceira alternativa busca uma mescla das anteriores, com a ideia de uma meta cumulativa ou combinada ao longo do tempo.
Há ainda um aspecto particularmente relevante nas conversas: o pleito dos pequenos estados insulares e países menos desenvolvidos, que solicitam a reserva de valores específicos dentro da nova meta financeira, US$ 39 bilhões e US$ 220 bilhões anuais, respectivamente. E apesar das demandas particulares, esses grupos estão alinhados a outros países em desenvolvimento, preservando uma frente unida nas negociações.
O debate se estende ainda à definição mais precisa do que constitui financiamento climático. Há um movimento para excluir algumas modalidades financeiras, como os empréstimos com juros elevados e investimentos em combustíveis fósseis, visando maior clareza e efetividade nos mecanismos de financiamento.
Intercâmbio de atenções entre COP29 e G20
Mais do que nunca, o sucesso da COP29 dependerá largamente da capacidade dos negociadores em transformar um documento extenso e complicado em um acordo conciso e, principalmente, efetivo. E o desafio não se resume apenas a estabelecer números e metas, mas também acriar um framework que atenda às necessidades dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas, enquanto mantém o compromisso e a participação das nações desenvolvidas.
Num intercâmbio de atenções, a pressão tempo versus complexidade combina ainda as agendas e interesses do G20, que acontece no Brasil, concomitantemente à COP de Baku. Já na véspera da cúpula de chefes de Estado no Rio de Janeiro, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, fez um apelo direto aos líderes do grupo.
O secretário enfatizou que os resultados da conferência climática exigem esforços adicionais das maiores economias mundiais, destacando ainda que os países do G20, junto com a União Europeia e a União Africana, são responsáveis por 80% das emissões globais, demandando assim "um acordo de financiamento privado "ambicioso" que corresponda à magnitude dos desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento", alertou Guterres.