Siemens Energy: a transição energética em estágio de urgência
A despeito dos avanços em direção à descarbonização, a humanidade caminhou no sentido oposto ao do desenvolvimento sustentável
Da Redação
Publicado em 10 de abril de 2022 às 07h28.
Última atualização em 11 de abril de 2022 às 12h23.
A Conferência Berlin Energy Transition Dialogue, encontro realizado em março que reúne lideranças governamentais de todo o mundo, executivos, economistas e outros grandes nomes do setor para debater ações em prol da transição energética, reforçou conceitos que têm adquirido relevância crescente no contexto atual. O panorama da transição energética, que já era decisivo globalmente, ganhou contornos de urgência, especialmente no que tange à concretização de investimentos em energias renováveis de forma mais ágil.
O encontro mostrou-se altamente produtivo por vários aspectos. Ministros de energia do mundo inteiro, incluindo o de algumas nações da América Latina, debateram o tema à luz de informações contundentes e de um cenário preocupante.
A despeito dos esforços e avanços em direção à descarbonização, o fato é que a humanidade caminhou no sentido oposto ao do desenvolvimento sustentável nos últimos anos. Para se ter uma ideia, de acordo com informações da Agência Internacional de Energia, ao invés de reduzirmos o consumo global de energia proveniente de fontes fósseis, no ano passado aumentou-se em 9% a geração de eletricidade por meio de usinas à carvão. Com dados tão alarmantes, não apenas ficamos mais distantes da meta de reduzir 1,5ºC na temperatura atmosférica, como já se questiona se esse objetivo é factível.
Apesar da transição energética, principalmente no mundo pós-Covid, ter sido encarada como um tema de profunda relevância, a conflagração de um conflito na Europa, agora traz um senso de emergência a essa questão. Somado a esta questão, o desafio geopolítico criado pela guerra na Ucrânia já estabeleceu e tem potencial para intensificar ainda mais dificuldades e desigualdades globais no setor de energia. Isto porque, afastando-se do petróleo e do gás russo, os países ricos tendem a suprir suas necessidades em outros mercados. Com isso, uma consequente escalada dos preços desses insumos fatalmente acarretará uma espiral inflacionária, impactando especialmente os países mais vulneráveis e sacrificando a população com menos recursos.
Para solucionarmos essas questões, as energias renováveis globais devem ser expandidas em um ritmo muito mais rápido do que o que estamos vendo nesse momento. É evidente que suprir a demanda de energia com fontes renováveis é um processo de longo prazo, contudo, a transição para esta nova fase será tão bem-sucedida quanto for o seu planejamento. Nesse caminho, o papel do gás natural surge como um elemento-chave. Países ao redor do mundo, especialmente na Europa, precisarão diversificar seu suprimento de energia e intensificar o uso do gás natural.
Neste panorama, inclusive, abre-se uma valiosa janela de oportunidades para a América Latina. No curto prazo, como fornecedora de petróleo e gás para suprir a lacuna criada pelas sanções à Rússia. No médio e no longo prazo, com o potencial de ser um dos maiores produtores de energia a partir de fontes renováveis e hidrogênio verde.
Seja para diversificar suas fontes de energia ou para aumentar a eficiência de seus sistemas, os países precisarão escalonar seus investimentos em novas tecnologias e em modelos de negócios inovadores. Neste ponto entra um fator essencial nessa equação: a participação do estado no aspecto fundamental da infraestrutura, da segurança e da soberania de um país. Tem ficado cada vez mais clara a necessidade de ações efetivas dos governos na definição dos modelos energéticos, na remoção de obstáculos e criação de regulamentações que facilitem investimentos no setor.
Mas não é só isso. Como apontou durante a conferência Mariana Mazzucato, economista e professora da University College London, os governos precisam adotar abordagens novas e mais holísticas da política econômica para impulsionar a ação climática e a transição energética. Em sua apresentação, ela defendeu que os governos deixem de ser apenas reativos, limitando-se a corrigir as falhas do mercado, mas adotem medidas que garantam uma governança diferente dos bens públicos, incluindo a facilitação a processos de inovação que são fundamentais para o enfrentamento da questão climática.
Dito isso, vale pontuar que a rapidez com que a transição acontece não é apenas uma questão de economia e estado, mas também de cooperação global. Isso quer dizer que a transição energética precisa ser vista não só por meio da perspectiva do setor de energia, mas também de outros grandes mercados, como o de aço, transporte e tantos outros. O setor privado desempenha um papel fundamental no avanço dessa transformação, especialmente no que diz respeito à implementação de ações efetivas que visem a promoção de soluções para o cumprimento das metas colocadas por governos e entidades. Afinal, uma transição energética bem-sucedida não é apenas do interesse de todos, mas também uma questão de responsabilidade compartilhada.
André Clark Juliano é Vice-presidente Sênior para a Siemens Energy na América Latina e Diretor Geral da Siemens Energy no Brasil