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Energias solar e eólica são mais baratas do que se pensava, diz estudo

Governo do Reino Unido revisa os números e conclui que o preço da energia gerada por fontes renováveis é quase 50% menor do que o calculado inicialmente

O custo estimado pelo governo britânico para um parque de energia eólica que comece a operar em 2025 é de 46 libras por megawatt (Andres Stapff/Reuters)
RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 3 de setembro de 2020 às 07h00.

Última atualização em 3 de setembro de 2020 às 10h24.

As fontes de energia renovável se tornaram competitivas. Este ano, por sinal, é considerado um marco pelo setor por sinalizar a virada em termos de preço, ou seja, a geração limpa se tornou igual ou mais barata do que as fontes fósseis. Um relatório publicado pelo governo britânico, no entanto, oferece uma nova dimensão para essa conta. Ao considerar o custo “normalizado” da eletricidade, ao longo da vida útil de uma planta de energia, solar e eólica se mostram bem mais baratas do que se imaginava.

O estudo foi apresentado pelo Departamento de Estratégia Industrial e Negócios (BEIS), que faz projeções periódicas sobre o tema, e atualiza um trabalho publicado em 2016. Há quatro anos, as renováveis já apresentavam uma forte queda de custo, de 24%, em relação a 2013. Dessa vez, a queda é ainda maior: 47%, em comparação a 2016. Isso significa que, em 2025, uma fazenda eólica ou solar poderá gerar energia pela metade do custo de uma térmica a gás.

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Para chegar a essa conclusão, o governo britânico utiliza uma equação para “normalizar” o custo da energia, levando em consideração o valor médio por megawatt ao longo da vida útil de um projeto. Dessa forma, é possível comparar diferentes fontes, como as renováveis com as térmicas a gás e nucleares. O custo estimado para um parque de energia eólica que comece a operar em 2025 é de 46 libras por megawatt. Na previsão anterior, o valor era de 65 libras. Para uma fazenda solar de grande porte, o custo é um pouco mais baixo: 44 libras hoje, ante 67 libras no cálculo anterior.

O BEIS também apresentou estimativas para usinas térmicas a gás e nucleares. No primeiro caso, o melhor resultado foi 85 libras e, no segundo, 102 libras por megawatt. Esses valores foram atualizados de acordo com a inflação pela Carbon Brief, publicação britânica especializada em energias limpas.

Esse tipo de estimativa é importante para os governos planejarem as suas matrizes energéticas para o futuro. Ao que tudo indica, atualmente, a melhor alternativa é a expansão da oferta por meio do vento e do sol. “O Brasil leva ainda mais vantagem por ter uma matriz predominantemente hidráulica e o melhor regime de ventos do mundo”, afirma Antonio Bastos Filho, CEO da Omega Geração, a maior operadora de parques eólicos do Brasil.

Os reservatórios das hidrelétricas podem ser utilizados como uma espécie de bateria. Enquanto o vento sopra e o sol brilha, eles enchem, armazenando energia. Quando as renováveis param de funcionar, o Operador do Sistema Elétrico Nacional (ONS), que controla a geração no País, pode abrir as comportas e gerar eletricidade pelas turbinas, compensando a intermitência da eólica e da solar.

Novo patamar

Com a crescente competitividade, as fontes limpas de energia se preparam para voos mais altos. Segundo Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), está ocorrendo hoje no mercado um reposicionamento dos principais grupos, que buscam ganhar porte para acessar um custo menor de capital. “No início, tínhamos as empresas de grupos familiares. Agora, a maior força está nas concessionárias de energia e nas empresas ligadas a fundos de investimento”, diz Gannoum.

A expectativa é de ver cada vez mais o surgimento de grandes grupos no setor, embora, segundo Gannoum, o momento não é de consolidação. “Já houve uma consolidação, há três anos. O que temos hoje é um ajuste de portfólio”, explica Gannoum.

Ajuste ou consolidação, o fato é que a Omega, nos últimos dois meses, anunciou algumas grandes transações: comprou da EDF Renewables metade dos Complexos Eólicos Ventos da Bahia 1 e Ventos da Bahia 2, que juntos somam 182,6 MW, por 660 milhões de reais; e comunicou ao mercado que está em negociação para adquirir outros dois parques, ainda na fase de projeto, cuja capacidade somada chega a 460 MW.

“As energias renováveis serão as mais competitivas daqui para frente”, afirma Bastos Filho. “E se colocarmos na conta os benefícios ambientais, não tem nem como comparar”. A queda recente no preço do petróleo também não preocupa. “Quem compra energia de um projeto eólico tem garantia de preço e não fica dependendo do sobe e desce do valor da commodity. Pode ter certeza que o petróleo não vai ficar nesse patamar para sempre”, afirma o CEO.

Com os custos mais baixos para a energia renovável, os incentivos a esse tipo de tecnologia devem diminuir no Brasil. Ontem, o governo de Jair Bolsonaro publicou a medida provisória 988 que, entre outras coisas, desloca a destinação de recursos arrecadados na conta de energia de fontes convencionais. Antes, esses recursos financiavam iniciativas de pesquisa e desenvolvimento de energias renováveis no Brasil. A ideia agora é usar os recursos para reduzir aumentos tarifários de toda a rede elétrica - independente do tipo de energia utilizada.

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