Desastres climáticos no Brasil crescem 2,5 vezes em quatro anos, aponta estudo
A Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica analisou o período entre 1991 e 2023 e projetou um cenário otimista e outro pessimista frente o aquecimento global
Repórter de ESG
Publicado em 30 de dezembro de 2024 às 10h14.
Os desastres climáticos no Brasil aumentaram250% nos últimos quatro anosem comparação à década de 1990, segundo um estudo da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica.
Desde 1991, foram registrados 64.280 eventos climáticos extremos no país, com um crescimento médio de 100 registros por ano.
Das enchentes no Rio Grande do Sul até a seca na Amazônia em 2024, estes são agravados pelo aquecimento global e devem acontecer cada vez mais caso não houverem ações drásticas em mitigação das emissões e adaptação das cidades.
Janaína Bumbeer, gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário, destacou em nota que as medidas de adaptação são cruciais.Entre as soluções possíveis, ela cita as baseadas na natureza, visando mitigar os impactos e fortalecer comunidades frente à emergência climática.
"São ferramentas eficazes para fortalecer a resiliência de cidades costeiras, enfrentando desafios ambientais, sociais e econômicos de forma integrada. A recuperação de manguezais e dunas, por exemplo, promovem a adaptação ao ambiente urbano e costeiro, aumentando a resiliência contra eventos climáticos extremos", disse.
Nos últimos anos, o ritmo se acelerou: [grifar]entre 2020 e 2023, foram 16.306 eventos, enquanto nos anos 1990 foram 6.523 registros. Secas correspondem a 50% das ocorrências, seguidas por inundações e tempestades.
A publicação lançada na sexta-feira (27) e coordenada pelo Programa Maré de Ciência da Unifesp, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a Unesco, utilizou dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID).
Impactos econômicos e sociais
Desde 1995, os prejuízos causados por desastres climáticos somaram R$ 547,2 bilhões, comR$ 188,7 bilhões concentrados nos quatro primeiros anos da década de 2020. Isso representa 80% do total da década anterior, indicando um impacto crescente no PIB nacional.
Os pesquisadores também destacaram que, além dos danos econômicos, eventos climáticos extremos trazem aumento nos custos de energia, alimentos e saúde, com destaque para a maior incidência de doenças como dengue -- associadas ao aumento da temperatura.
Projeções para as próximas décadas
O estudo apresentou dois cenários baseados em projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O primeiro é otimista e considera que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas até 2030: neste caso, o Brasil poderá registrar até128.604 desastres climáticos entre 2024 e 2050-- o dobro do observado nas últimas três décadas -- e as perdas econômicas podem alcançar R$ 1,61 trilhão até 2050.
Já o cenário mais alarmante e pessimista, traz um aumento da temperatura acima de 4°C e os registros podem chegar a quase600 mil até 2100, um aumento de nove vezes em relação aos últimos 30 anos, e com custos ultrapassando os R$ 8,2 trilhões -- 15 vezes o total registrado desde 1991.
"Febre" no oceano
Especialistas ressaltam que o oceano está em aquecimento intenso, com um aumento abrupto de cerca de 0,3°C a 0,5°C desde março de 2023.
O fenômeno, descrito como “Febre Azul”, também agrava eventos como furacões e inundações, afetando milhões de pessoas e impactando profundamente os ecossistemas. As inundações no Rio Grande do Sul e as secas no Centro-Oeste em 2024, são exemplos recentes da nova realidade imposta pelo clima no Brasil.
Diante da escalada climática, a ciência alerta queações coordenadas para reduzir emissões e fortalecer resiliência são essenciais para evitar cenários ainda mais drásticos.