Como a Irani se tornou a primeira empresa de embalagens no Novo Mercado
A seleta lista da B3 reúne apenas empresas com alto nível de governança corporativa
Maria Clara Dias
Publicado em 21 de dezembro de 2020 às 16h50.
Última atualização em 22 de dezembro de 2020 às 12h25.
Os critérios adotados por investidores estão cada vez mais rigorosos e, ao elevar a barra, poucas empresas têm posição de destaque nas recomendações em ESG - sigla para os critérios ambientais, sociais e de governança - no mercado brasileiro.
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A Irani Papel e Embalagem realizou o feito. Na última semana, a empresa anunciou ter concluído a migração para o Novo Mercado, grupo restrito de empresas listadas na bolsa brasileira (B3) que são bons exemplos de governança corporativa. Com a migração, a Irani se tornou a primeira companhia de embalagem focada em papel ondulado a entrar no Novo Mercado. No setor de papel e celulose, a marca já havia sido alcançada pela Suzano.
O novo passo exigiu algumas mudanças na estrutura da empresa, que já é listada em bolsa desde 1977. Em julho, a Irani começou um processo de follow-on que resultou na captação de 405 milhões de reais. O processo se resume à venda de ofertas públicas de ações ordinárias com direito a voto (ON) entre os acionistas, modalidade exigida para as empresas no Novo Mercado. “Apesar de já termos essa postura, foi com o follow-on que nos comprometemos com os investidores. Dissemos que migraríamos para o Novo Mercado em seis meses, e o fizemos em apenas quatro”, afirma o presidente da Irani, Sérgio Ribas.
A primeira ação para atender às exigências de transparência e fiscalização, segundo Ribas, foi a criação de um comitê de Auditoria, responsável por ampliar as discussões de compliance dentro da companhia. A B3 considera o comitê de auditoria como requisito básico para a entrada no Novo Mercado.
Atualmente existem pouco mais de 400 companhias listadas na B3, e destas, apenas 165 estão no Novo Mercado. “Esse é um processo de profissionalização da empresa, e consequentemente de melhorias para nós”, diz.
O passo seguinte, segundo Ribas, foi a criação de dois comitês especiais voltados à estratégia sustentável e gestão de pessoas. “O Comitê de estratégia tem um papel de interlocução entre as expectativas dos acionistas e os planos reais da Irani”, diz. “Desse modo, podemos ter uma visão de futuro e atender ao que tem sido pedido pelo mercado e seguir o que é correto em termos de políticas de sucessão, entre outros pontos fundamentais”.
Com a venda das ações, a Irani desenvolveu um plano de expansão batizado de “Plataforma Gaia”. Ao todo, serão cinco projetos na fase 1 voltados à melhoria da eficiência energética e capacidade de produção das fábricas que devem acontecer até 2023 e que juntos somam 743 milhões de reais.
O primeiro foca na expansão da área de recuperação de químicos nas unidades de fabricação de papel. Com o investimento, a previsão é de que a produção de celulose seja 29% maior e a geração de energia aumente em 56%.
Para o segundo projeto, a Irani quer ampliar a capacidade de produção em 50% e levar equipamentos de última geração para a unidade de fabricação de embalagens de papelão ondulado em Santa Catarina. Já para o terceiro projeto, está prevista a atualização tecnológica em uma máquina de papel, aumentando sua capacidade de produção em 30%. Hoje, a máquina produz papel Kraft, matéria-prima usada em sacolas e vendida em larga escala para empresas.
“Acreditamos que esse investimento está ligado a uma importante tendência: a busca por alternativas para substituição do plástico e por produtos menos agressivos ao meio ambiente”, diz Ribas.
Já para o quarto e quinto projeto, a Irani se volta à ampliação da geração de energia de duas usinas hidrelétricas, também em Santa Catarina, aumentando a capacidade de produção em 10% e 33%. A empresa prevê ainda uma segunda fase, que vai consistir na expansão da planta de Minas Gerais. Juntas, as duas fases irão mobilizar 1,2 bilhão de reais.
Foco no E e no S
A Irani também opera no mercado de créditos de carbono e se orgulha da produção sustentável baseada na produção de papel e celulose vinda de florestas próprias. Com projetos de economia circular, a empresa também afirma que hoje trata seus resíduos com responsabilidade e impacto mínimo ao meio ambiente, além de ser neutra em carbono, ou seja, compensa mais do que emite o componente.
Entre janeiro e setembro deste ano, a Irani teve uma receita 10,9% superior em comparação com o mesmo período do ano passado, totalizando 738 milhões de reais. Neste momento, o comitê de estratégia está elaborando o planejamento que irá basear as ações da empresa no período de 2021 a 2030. “O objetivo é sempre olhar para a próxima década, considerando oportunidades de negócios, principais tendências e buscar o alinhamento entre os desejos dos acionistas e as entregas da empresa”, diz Ribas.
A Irani aposta na mudança dos padrões de consumo como o motor do desenvolvimento da empresa na próxima década, encabeçada pela expansão do comércio online, delivery e demanda por produtos de higiene e limpeza. “Diferente de uma onda de sustentabilidade que vimos há 15 anos, dessa vez a segunda onda parte do consumidor final, que passa a exigir produtos mais sustentáveis, e as embalagens de papel passam a ser as melhores opções nesse contexto”, diz.
Tornar-se autossustentável também é uma missão da Irani para o futuro: 47% da energia da empresa hoje é comprada pelo mercado, e o objetivo é passar a produzir 100% disso ainda nos próximos anos. A entrada no Novo Mercado, segundo Ribas, abre espaço para o financiamento de novos ciclos de expansão que terão como objetivo atingirtodas essas metas.