Arroz que vira energia: como esta empresa transforma resíduos em eletricidade
Com uma usina própria e metas sustentáveis, a Fumacense Alimentos é autossustentável e quer comercializar energia ainda em 2021
Maria Clara Dias
Publicado em 18 de janeiro de 2021 às 13h00.
Última atualização em 18 de janeiro de 2021 às 14h12.
Gastar pouca energia e descartar o lixo direitinho costumam estar entre as metas de dez em dez indústrias. Amarrar essas duas pontas, no entanto, não é tarefa fácil. Para unir a produção sustentável e o mínimo impacto ambiental, a fabricante de arroz Fumacense Alimentos entendeu que a resposta estava em reaproveitar todos os resíduos — e transformá-los em energia.
Com um processo de queima, a empresa de Morro da Fumaça, em Santa Catarina, que fabrica produtos à base de arroz, transformou 22.000 toneladas de resíduos em energia elétrica em 2020. O processo é comum na parboilização do arroz, e o vapor resultante da queima das cascas da planta gerou 6.293 MW (megawatts), energia suficiente para abastecer 5.000 residências de até três pessoas durante o período de um ano, segundo a empresa.
A necessidade de ampliar a atuação ambiental foi percebida ainda em 2008, quando a Fumacense teve acesso a um estudo que mostrou que as cascas de arroz descartadas a céu aberto eram responsáveis pela emissão de grande quantidade de gás metano na atmosfera. “Ficamos assustados quando percebemos o volume de resíduos que produzíamos. A empresa estava em fase de crescimento”, disse Lucas Tezza, coordenador da usina de energia elétrica da Fumacense.
Uma década depois, toda a geração de eletricidade da indústria já estava por conta da Fumacense. Em um sistema de cogeração de energia (que combina calor e eletricidade), a usina termelétrica no município de Morro da Fumaça tem queimado 90 toneladas de cascas de arroz por dia — e transformado isso em energia elétrica.
Segundo Tezza, os ganhos vão bem além do ponto de vista ambiental. A autossuficiência faz com que a matriz da empresa anule os custos com energia elétrica. “Produzir nossa própria energia gera uma economia absurda. Nossa fatura mensal é praticamente zero”, diz.
Com a queima das cascas, surgiu a necessidade de olhar para um outro tipo de resíduo: as cinzas. Para isso, a empresa se uniu a fabricantes, indústrias siderúrgicas e ceramistas locais para incorporar as cinzas do arroz na produção de cimentos e tijolos. O esforço faz com que as produtoras extraiam até 15% menos matéria-prima do solo, segundo Tezza. “Essa é uma contribuição nossa e que apostamos muito. Não cobramos nada, apenas oferecemos essa matéria para os ceramistas”.
Para 2021, a empresa estima aumentar o consumo de energia, ao mesmo tempo que mantém o nível médio de queima de combustíveis. Tezza prevê ainda que o vapor do arroz gere ainda mais energia do que será demandado pela Fumacense. Esse cenário representaria a entrada da empresa no mercado livre de energia, ambiente de livre contratação no qual consumidores podem comprar a energia elétrica diretamente dos geradores. “Todo o nosso excedente será jogado na rede para venda. Iremos nos tornar comercializadores entre o final de 2021 e início de 2022".
"Estamos sempre inovando e buscando entender se nossas operações estão afetando o meio ambiente. Sabemos que zerar impacto ambiental é algo muito difícil, mas estamos bem próximos disso”, diz.