América Latina lidera nas pesquisas sobre biodiversidade — e isso é bom para a COP16
De acordo com relatório da editora acadêmica Elsevier, a América Latina é responsável por 11% da produção científica no tema, mas a concentração da biodiversidade entre suas pesquisas é a maior do mundo
Publicado em 15 de outubro de 2024 às 17h51.
Última atualização em 15 de outubro de 2024 às 18h04.
Um novo relatório da editora acadêmica Elsevier, publicado nesta terça-feira, aponta que apesar da contribuição menor da América Latina nas pesquisas internacionais, a região é três vezes mais ativa que a média global quando o tópico é a biodiversidade.
A América Latina é responsável por apenas 11% de toda a produçãocientíficamundial sobre a diversidade biológica. No entanto, o relatório aponta para uma crescente especialização no tema:a concentração da pesquisa sobre biodiversidade na América Latina é três vezes maior que a média global.
Os destaques no continente são a Costa Rica, com um nível de produção acadêmico no tema (chamado Índice de Atividade Relativa) medido em 8,18, a Bolívia, com taxa de 8,32, e o Panamá, com 15,30. A concentração da pesquisa brasileira sobre biodiversidade é de 3,11 -- acima da média global, de 1,0, e da média latino-americana, de 3,0.
O relatório ainda aponta que a taxa de impacto de citação ponderado por campo (ou FWCI), indicador que mostra se as pesquisas de uma área de conhecimento recebem mais ou menos citações do que o esperado,é notavelmente maior na América Latina, o que aponta a relevância do tema para o país.
Enquanto as pesquisas sobre biodiversidade globalmente recebem um FWCI de 1,2, 20% abaixo da média das pesquisas de outros temas, a América Latina vê uma alta nos números. Na região, a taxa é percebida entre 1,5, taxa na Argentina, e 3,2, percebida na Bolívia, quase o triplo da média mundial.
Brasil e suas universidades são destaque
O estudo analisou a produção científica de diferentes países e regiões, considerando o número de publicações, citações e colaborações internacionais sobre o tema.O Brasil e México são os países que mais escrevem sobre o tema, respondendo por 58% de toda a produção latino-americana.
O relatório apresenta ainda dados animadores sobre a pesquisa brasileira: das 30 universidades que mais produzem estudos sobre o tema, 20 estão concentradas no Brasil. Entre os cinco principais nomes estão a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Entre os outros continentes, a maioria da produção está concentrada na Europa, que contribui com 32% da pesquisa sobre biodiversidade mundial. Estados Unidos e Canadá oferecem 17% dos estudos, enquanto o Leste Asiático é responsável pela fatia de 16%.
COP16 da Biodiversidade
A análise do relatório sobre a importância da biodiversidade para a América Latina considera também as discussões previstas para a COP16 da biodiversidade, que começa na próxima semana em Cali, na Colômbia.
Para Dante Cid, vice-presidente de Relações Acadêmicas da América Latina da editora Elsevier, é uma ótima notícia que a pesquisa sobre a diversidade biológica na América Latina reflita a riqueza da natureza na região. “O grau de citação em políticas públicas acima da média geral também é algo a ser celebrado, trazendo a esperança de uma crescente conscientização pela sustentabilidade, tão necessária”, explica.
Como tema principal, a COP16 trata da avaliação do progresso no Marco Global de Biodiversidade, que estabeleceu durante a última Conferência metas ambiciosas para 2030 e 2050.
Veja abaixo as metas da COP da Biodiversidade:Até o fim desta década, 30% dos ecossistemas terrestres e marinhos devem ser restaurados, conservados e geridos. Os países desenvolvidos devem fornecer ao menos US$ 30 bilhões anuais para iniciativas de biodiversidade. Quanto à poluição, os riscos de poluição e seu impacto devem ser reduzidos até que não prejudiquem a biodiversidade.
Até 2050, a integridade e resiliência dos ecossistemas deverá ser mantida, enquanto o ritmo e risco de extinção de todas as espécies deve ser reduzido a 10%.
Outros tópicos avaliados são:- Revisão dos planos de biodiversidade de cada país;
- Os mecanismos de financiamento necessários para a conservação;
- O papel da cooperação internacional nas pesquisas e na proteção da biodiversidade;
- Como a América Latina pode produzir conhecimento e ações para gerir a biodiversidade global.