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A China produz tanto plástico biodegradável que criou um risco ambiental

Volume de material que sai das fábricas chinesas ultrapassa a capacidade do país de desintegrar a matéria-prima, segundo relatório do Greenpeace

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 09h12.

Última atualização em 17 de dezembro de 2020 às 09h22.

Tudo em excesso faz mal, diz o ditado. Às vezes, a sabedoria popular supera qualquer plano científico para resolver um problema. Tome como exemplo a questão do plástico biodegradável na China . O gigante asiático elegeu o material como a solução para acabar com a poluição gerada pelos polímeros em geral . Como é de costume, passou a fabricar em enormes quantidades. O resultado é que o volume do material produzido supera a capacidade de processamento do país. O que era para ser uma solução, virou mais um problema.

Quem chamou atenção para a situação foi o Greenpeace . Segundo a ONG ambientalista, nos últimos 12 meses, 36 empresas chinesas anunciaram que vão passar a produzir plástico biodegradável, elevando a produção nacional em mais de 4 milhões de toneladas por ano. Essas companhias estão atendendo uma determinação do Partido Comunista, que estabeleceu o banimento de uma série de polímeros não biodegradáveis a partir de 2025. O relatório do Greenpeace foi divulgado pela BBC.

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Até a entrada em vigor da nova lei, é esperado que o comércio eletrônico chinês esteja produzindo mais de 5 milhões de toneladas de lixo biodegradável por ano. A questão é que nem todos esses polímeros “verdes” são desintegrados naturalmente pelo meio ambiente. Muitos requerem processos industriais para serem absorvidos em seis meses pela natureza. O número de indústrias processadoras de plástico biodegradável não aumentou na mesma proporção do de fabricantes do material.

Para o Greenpeace, essa é a prova de que trocar um plástico por outro não resolve o problema da poluição. “Na ausência de unidades de compostagem, a maior parte do plástico biodegradável vai acabar em aterros ou, pior, nos rios e nos mares”, afirmou à BBC Molly Zhongnan Jia, pesquisador do Greenpeace para o setor de plástico no Sudeste Asiático.

Plástico no oceano quadruplicará até 2040

Até 2040, o volume de plásticos no mercado dobrará, o volume anual de plásticos que entra no oceano quase triplicará (de 11 milhões de toneladas em 2016 para 29 milhões de toneladas em 2040) e a quantidade de plástico nos oceanos quadruplicará (atingindo mais de 600 milhões de toneladas) caso não sejam tomadas medidas urgentes.

É o que revela o estudo Breaking the Plastic Wave, publicado pela Pew Charitable Trusts e a SYSTEMIQ – junto com a Fundação Ellen MacArthur, Universidade de Oxford, Universidade de Leeds e Common Seas. De acordo com o estudo, sem nenhum tipo de mudança esse problema ambiental poderia causar custos anuais de 940 bilhões de dólares todos os anos.

Para a Fundação Ellen MacArthur, aumentar os esforços em reciclar o plástico já não é o suficiente para resolver o problema. Com a reciclagem, ainda vazariam 18 milhões de toneladas de plástico para os oceanos todos os anos, a um custo anual de 820 bilhões de dólares. É uma redução em relação aos 29 milhões de toneladas que seriam enviados ao mar sem nenhum tipo de mudança, mas ainda não o suficiente.

Qual é, então, a solução? Para o líder da iniciativa Nova Economia do Plástico da Fundação Ellen MacArthur, Sander Defruyt, é necessário repensar todo o sistema de produção de novos materiais. “Toda nossa economia global é linear e voltada ao desperdício”, diz. No lugar de uma economia linear – de retirada de matéria prima, produção e venda dos itens e posterior descarte ou reciclagem – a fundação aposta em um modelo circular, em que os itens produzidos sejam reutilizados. “Precisamos olhar para o que colocamos no mercado. Estamos tão acostumados a ver o plástico como descartável que a solução precisa começar no design de produtos”, afirma o especialista.

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