A diversidade está além da pauta, baseada nos valores da empresa. (Angelina Bambina/Getty Images)
A nova cultura na Qualicorp – que começou a ser implementada em 2019 – e os programas de diversidade estão mostrando resultados: cresceu para 55% a presença feminina em cargos de liderança, inclusive com a contratação de gestantes. Também foi feita uma campanha para o Dia da Visibilidade Trans, com lives realizadas por influenciadores e colaboradores da empresa, e reconhecimento da linguagem neutra. Além disso, negros e pardos representam 30% dos colaboradores e pessoas com mais de 50 anos são 7% do quadro total.
Esfera conversou com a diretora de Pessoas e Cultura da Qualicorp, Flávia Pontes, sobre o programa QualiPlural de Diversidade e Inclusão, iniciativa que começou em 2020 na companhia.
Esfera: Recentemente, celebramos o Mês do Orgulho LGBTQIA+ e sabemos a importância de ver as marcas se manifestarem e também de as pessoas se sentirem livres para se expressar sobre o tema. Nesta premissa, como a Qualicorp está evoluindo neste tema?
FP: É nítido que a agenda ESG se impôs e as empresas que estão adotando essas práticas, de forma legítima, terão muito a ganhar. Na atual gestão, a Qualicorp tem adotado uma agenda ativa com datas comemorativas, campanhas e ações educativas para promover a sensibilização e mobilização de seus funcionários sobre o tema. Essas diretrizes foram consolidadas em outubro de 2020, com o programa Qualiplural.
Esfera: Já vemos corporações que promovem aberturas de vagas exclusivas para negros, LGBTQIA+, pessoas acima dos 50 anos e outros grupos que enfrentam preconceito e resistências para entrar ou permanecer em suas vagas. O que, na prática, é feito atualmente na companhia?
FP: Lançamos o Qualiplural, primeiro programa focado em diversidade e inclusão da companhia, que selou não só o compromisso com essas e outras temáticas atuais, mas também com a promoção de um ambiente seguro, respeitoso e acessível a todos.
Dentro dessa nova visão, surgiram iniciativas como o processo seletivo às cegas, em que o foco são as competências técnicas e interpessoais, por exemplo. Desde 2019, a cultura da empresa colocou no foco uma gestão humanizada, que levou a um quadro de colaboradores com 33% de negros, 68% de mulheres, 8% de pessoas autodeclaradas LGBTQIA+ e 7% com 50 anos ou mais.
É nítido que, ao promovermos ações de inclusão, diversos benefícios são revertidos, pois populações diversas contribuem com ideias, projetos e riqueza cultural.
Esfera: Na sua visão, o que acha que ainda falta para avançarmos nos temas diversidade e inclusão?
FP: Há um longo caminho a percorrer no Brasil para que igualdade, inclusão e diversidade se tornem premissas de uso corrente no universo do trabalho. Contudo, há avanços graduais, como mostra o levantamento recente do Instituto Ethos, com dados fornecidos por 169 empresas: destas, 97% têm uma área responsável por implementar ações de inclusão e diversidade; 98% dispõem de sanções para práticas discriminatórias (aplicáveis inclusive às lideranças); e 46% avaliam seus executivos também pelo critério de promoção de diversidade e inclusão.
A Parada do Orgulho LGBTQIA+ do Brasil – que neste ano voltou a ser um evento de rua em São Paulo, após a pausa imposta pela pandemia – já é uma das maiores do mundo. A cultura pop e musical do país também tem grandes estrelas, de Pabllo Vittar a Anitta, passando por diversos outros nomes, todos com milhões de seguidores e projeção internacional. E, recentemente, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde): Orientação Sexual, a primeira a trazer dados sobre qual proporção da população brasileira é formada por gays, lésbicas e bissexuais.
Estes são alguns sinais de que, por mais que ainda seja preciso fazer muito para que diversidade e inclusão se tornem familiares a toda a sociedade - incluindo as empresas -, esses temas já estão no radar. É um avanço civilizacional, o garantir mais espaço para que mulheres, negros, PcDs, transexuais, travestis, transgêneros, lésbicas, gays, queer, assexuais, pan e tantas outras pessoas possam ter direito ao tratamento respeitoso no local de trabalho, igualdade de remuneração, de ascensão profissional. Cidadania não é - não pode ser - um privilégio vinculado a um rótulo. Todos têm de ser incluídos. Isso é humanidade.