A onda de violência promovida pelo PCC no ano passado não deixou marcas apenas nos moradores de São Paulo. O arranhão na imagem da capital paulista também chegou ao ranking de qualidade de vida da consultoria americana Mercer, especializada em Recursos Humanos. São Paulo caiu seis posições na pesquisa divulgada nesta segunda-feira (2/4), entre 215 cidades de todo o mundo. Em 2006, a cidade ocupava a 108ª posição no ranking. Neste ano, aparece em 114ª, atrás de lugares como Tel Aviv (105ª), sempre sujeita à tensão entre israelenses e palestinos, e Assunção(111ª), no Paraguai.

Para elaborar a classificação, a Mercer usa a cidade de Nova York como base. Sua nota sempre é igual a 100. Localidades com nota superior indicam uma qualidade de vida melhor que a grande metrópole americana. Notas inferiores significam um nível pior. Neste ano, a nota de São Paulo foi 74,6, ante os 77,1 de 2006. De acordo com a consultora Denise Perassoli, que ajudou a coordenar o estudo da Mercer no Brasil, a deterioração da nota foi reflexo direto do aumento da violência na cidade. "A classificação só não foi pior porque São Paulo tem boas notas em outros itens, como serviços de lazer e entretenimento", diz Denise.

As brasileiras citadas no ranking
Posição em 2007	Posição em 2006	Cidade
104	104	Brasília
114	108	São Paulo
115	116	Rio de Janeiro
126	129	Manaus
Fonte: Mercer

No caso da violência, as cidades recebem uma nota de 0 (caos absoluto) a 10 (paz absoluta). É bem verdade que a nota de São Paulo já não era alta - em 2006, foi igual a 2 -, mas, com a onda de violência do ano passado, a nota caiu para um, igual à do Rio de Janeiro. Entre os critérios usados pela Mercer para dar as notas, um 2 eqüivale a uma cidade em que os crimes violentos fazem parte da rotina; não se pode circular por determinadas áreas em nenhum horário do dia, sob o risco de ser vítima de um crime; e, em diversos casos, recomenda-se o uso de segurança particular.

Outras brasileiras

As demais cidades do país citadas na pesquisa não apresentaram grandes mudanças. Brasília, a melhor colocada, permaneceu no 104º lugar, com a mesma nota de 2006 - 78,8. O Rio de Janeiro manteve a nota 74,5, embora tenha subido uma posição, para 115ª. Manaus também recebeu a mesma pontuação do ano passado (71,5), mas avançou da 129ª para a 126ª posição.

Como as notas do Rio e Manaus foram as mesmas nos dois anos, o avanço no ranking reflete a deterioração de cidades que estavam à sua frente na pesquisa, e não uma melhoria na qualidade de vida de cariocas e manauaras.

Além de servir de alerta sobre a qualidade de vida das cidades brasileiras, as movimentações têm efeitos práticos na vida das empresas que pretendem deslocar executivos do exterior para comandar negócios no Brasil. O aumento da violência e o nível de vida relativamente baixo implicam dificuldades para convencer os profissionais a se mudar para o país. Para vencer parte da resistência, as companhias precisam investir mais na remuneração dos executivos. "As empresas que gerenciam uma força de trabalho global devem levar em conta uma série de fatores quando estruturam os pacotes de remuneração de seus empregados expatriados", afirma a diretora da Mercer Yvonne Sonsino.

Apesar da classificação modesta, Denise Perassoli vê boas perspectivas para o país. Segundo a consultora, a qualidade de vida das cidades brasileiras listadas é "intermediária", e a tendência é melhorar. A estabilidade econômica e as expectativas de investimentos devem impulsionar a economia local. Além disso, é possível que São Paulo recupere parte do terreno perdido na próxima pesquisa, já que - até o momento - a onda de violência na cidade parece mais contida. "Há chances de subirmos no ranking", diz Denise.

 

As dez melhores em qualidade de vida
Posição em 2007	Posição em 2006	Cidade	País
1	1	Zurique	Suíça
2	2	Genebra	Suíça
3	3	Vancouver	Canadá
4	4	Viena	Áustria
5	5	Auckland	Nova Zelândia
6	6	Düsseldorf	Alemanha
7	7	Frankfurt	Alemanha
8	8	Munique	Alemanha
9	9	Berna	Suíça
10	10	Sydney	Austrália
Fonte: Mercer