Economia

Venezuela evita calote outra vez e contraria pessimistas

Não faltaram investidores em bonds e analistas prevendo um calote da Venezuela, que tem calado muitos deles ao conseguir manter suas notas em dia


	Venezuela: a Venezuela, mesmo com problemas financeiros, tem conseguido manter suas notas em dia
 (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Venezuela: a Venezuela, mesmo com problemas financeiros, tem conseguido manter suas notas em dia (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 27 de outubro de 2015 às 20h13.

Nos últimos 12 meses, não faltaram investidores em bonds e analistas prevendo um calote da Venezuela.

Só na semana passada, duas empresas, a Loomis Sayles Co. e a Ice Canyon LLC, se uniram ao coro, dizendo que o país, abalado pela queda nos preços do petróleo, provavelmente interromperá os pagamentos de suas dívidas no ano que vem.

Contudo, a Venezuela, mesmo com problemas financeiros, tem conseguido manter suas notas em dia.

Os preços dos bonds mostram que cada vez mais os investidores estimam que a empresa petrolífera estatal venezuelana pagará os US$ 4,3 bilhões devidos no mês que vem e que o governo honrará os US$ 2,1 bilhões em pagamentos devidos em fevereiro.

Depois disso, o país não teria outro pagamento sobre o principal de uma dívida externa antes de agosto de 2016.

Para a Rogge Global Partners e o Bank of America Corp., a Venezuela poderá confundir novamente os fatalistas o ano próximo.

O governo poderia prosseguir com a política de reduzir as importações para preservar o caixa de que precisa para pagar dívidas, uma estratégia que o ajudou a economizar cerca de US$ 20 bilhões somente neste ano, disse Francisco Rodríguez, economista do Bank of America.

“Os analistas sempre dizem, neste ano eles conseguirão se manter e o ano que vem será crítico, mas tivemos essa mesma discussão um ano atrás”, disse Michael Ganske, que ajuda a gerenciar US$ 4,5 bilhões em dívidas, incluindo bonds venezuelanos, como chefe de mercados emergentes da Rogge Global Partners em Londres. “Há um substancial risco de calote precificado”.

Os traders de swaps de crédito sinalizam que há 68 por cento de chance de a Venezuela interromper o pagamento de seus bonds em outubro de 2016. É o nível mais alto do mundo para um título soberano.

O Ministério da Informação da Venezuela não respondeu a um pedido de comentário enviado por e-mail sobre os planos da PDVSA para realizar os pagamentos dos bonds.

A Petróleos de Venezuela SA tem um pagamento de US$ 1,45 bilhão referente às suas notas de 5 por cento que vencem na quarta-feira. Os títulos eram negociados a 99,34 centavos de dólar às 8h36, horário de Nova York, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A produtora de petróleo também deverá pagar na próxima segunda-feira US$ 2,1 bilhões sobre seus bonds de 8,5 por cento com vencimento em 2017. O preço dessas notas subiu para 71,95 centavos de dólar em relação a uma baixa recorde de 50,08 centavos registrada em 21 de janeiro.

As notas do governo com vencimento em 26 de fevereiro também subiram. Elas treparam 63 por cento em relação ao nível mais baixo de 2015, registrado em janeiro, para 88,86 centavos de dólar.

Com as reservas externas da Venezuela próximas ao nível mais baixo em 12 anos, de US$ 15,2 bilhões, e a economia em frangalhos, a perspectiva de calote ainda é alta.

O Fundo Monetário Internacional projeta que a economia da Venezuela encolherá 10 por cento neste ano, maior retração do mundo, enquanto sua taxa de inflação chegará a 159 por cento. O petróleo, que está em baixa de 48 por cento nos últimos 12 meses, responde por 95 por cento das receitas do país com exportações.

Em um evento da Bloomberg em Nova York na semana passada, Edgardo Sternberg, gerente de recursos da Loomis Sayles, que tem sede em Boston, nos EUA, disse que “com certeza” ocorrerá um calote em algum momento do ano que vem.

Ajuda chinesa

No mesmo evento, Paulo Vieira da Cunha, chefe de pesquisa macroeconômica da Ice Canyon LLC em Los Angeles, disse que a Venezuela fará os pagamentos neste ano e no primeiro trimestre de 2016, mas dará calote depois disso, a menos que venda parte da PDVSA para os chineses.

Para Rodríguez, do Bank of America, a Venezuela tem a capacidade de mudar as políticas econômicas ou buscar mais financiamentos da China que possam ajudar o país a evitar ter de interromper os pagamentos de suas dívidas.

“Eu acho que não se pode concluir que a Venezuela está, inevitavelmente, na rota para o calote como o mercado e alguns analistas estão concluindo”, disse ele, de Nova York.

“Isso pode acabar em duas possibilidades, com a Venezuela dando calote ou com a Venezuela consertando suas políticas. Eu não acho que a solução seja acreditar que a Venezuela dará calote”.

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