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Um novo ano de recessão na Grécia

Após seis anos de sacrifícios, os gregos terminam o ano com 40% a menos de receita disponível do que antes do começo da crise

Greve na Grécia: diante do conflito social, o governo abriu o ano com uma política de linha dura que se refletiu na quebra de uma greve de trabalhadores do metrô (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de dezembro de 2013 às 16h13.

Atenas - A Grécia viveu em 2013 seu sexto ano consecutivo em recessão e, apesar de ter melhorado em alguns indicadores, como déficit primário e faturamento turístico, a política de austeridade reduziu ainda mais o nível de vida dos cidadãos, que viram como a polarização política desembocava em violência.

Após seis anos de sacrifícios, os gregos terminam o ano com 40% a menos de receita disponível do que antes do começo da crise, enquanto neste período o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu 25%.

O preço desta precarização foi um aumento da tensão social e uma maior polarização da vida pública, que em junho levou à ruptura do governo tripartite e no fim do ano a três assassinatos políticos.

O compromisso assumido com a "troika" (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) de despedir quatro mil funcionários este ano e 11 mil no ano que vem, e de pôr 25 mil na denominada reserva laboral enfureceu ainda mais uma sociedade que, de um índice de desemprego considerado baixo antes da crise (8%) passou a ter uma taxa que supera os 27%.

Um panorama de cinco greves gerais e interrupções seletivas diárias marcou a vida cotidiana do país, onde mais de três milhões de pessoas, das 11 milhões que lá vivem, estão abaixo da linha de pobreza. Muitas delas sequer têm teto.

Diante do conflito social, o governo abriu o ano com uma política de linha dura que se refletiu na quebra de uma greve de trabalhadores do metrô e outra de marinheiros na qual se aplicou uma medida extraordinária que prevê penas de prisão para quem se negar a comparecer ao trabalho.

Em junho, o então governo tripartite formado por conservadores, social-democratas e esquerda moderada viveria seu momento mais crítico, tanto em nível interno como na reputação internacional.


Em 11 de junho, o primeiro-ministro, o conservador Antonis Samaras, anunciou o fechamento fulminante da rede de rádio e televisão pública e a dispensa imediata de 2.600 trabalhadores. As emissoras saíram do ar na mesma noite.

O argumento foi que, após décadas de má gestão e a impossibilidade de reformar o emaranhado corrupto que tinha se instalado no órgão, a única via possível era sua dissolução e a criação de novas redes.

De quebra, o governo solucionava de uma tacada só a metade das demissões comprometidas com a troika para este ano.

O decreto não só provocou uma inundação de críticas vindas de todo o mundo, mas fez com que um tribunal declarasse ilegal o blecaute informativo e determinasse que o governo deveria retomar o sinal.

O partido de centro-esquerda Dimar abandonou o governo, deixando a Nova Democracia (ND, conservador) e o Pasok (social-democrata) com uma pequena maioria parlamentar de 155 cadeiras, apenas quatro a mais que a oposição. Uma vantagem que alguns meses depois cairia para três, após uma deputada do Pasok deixar a bancada.

No último trimestre, o ambiente político se polarizou ainda mais e de nada serviu que Samaras propagandeasse várias vezes o que batizou como a "história do sucesso da Grécia": as contas públicas experimentaram um superávit primário (que não contabiliza o pagamento dos juros da dívida), e o turismo voltou aos índices de faturamento anteriores à crise.

Em setembro, um seguidor do partido neonazista Amanhecer Dourado matou o rapper de esquerda Pavlos Fyssas. Era o primeiro assassinato político da extrema direita em décadas.

Por causa do assassinato, o governo ordenou abrir uma profunda investigação contra os deputados, membros e seguidores deste partido; foi ordenada a detenção de boa parte de sua cúpula e o parlamento aprovou uma lei para suspender o financiamento público de partidos envolvidos em crimes.

A princípio, parecia que o apoio popular a este partido - que com a crise tinha subido graças a ações como a repartição de alimentos "só para gregos" - diminuiria.

Antes do assassinato de Fyssas, os neonazistas contavam com intenção de voto de apenas 15%, o que os colocava como a terceira força política do país, só atrás do ND e do esquerdista Syriza, mas seu apoio caiu depois do crime para cerca de 5%.

No entanto, apenas um mês e meio depois, dois membros do Amanhecer Dourado foram mortos a tiros na frente de um escritório do partido em Atenas.

Um grupo anarquista antes desconhecido reivindicou o ataque como um "ato de vingança" pelo assassinato do rapper, o que voltou a reviver o fantasma do terrorismo político e recuperou os índices de apoio ao Amanhecer Dourado para 10%.

A Grécia termina assim o ano com uma população pouco esperançosa de que a situação se reverta em um futuro imediato e um governo que deve assumir a hercúlea tarefa de começar o ano assumindo a presidência rotatória da União Europeia, em um semestre que também terá eleições europeias e municipais, vistas como um plebiscito às políticas de Samaras.

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Atenas - A Grécia viveu em 2013 seu sexto ano consecutivo em recessão e, apesar de ter melhorado em alguns indicadores, como déficit primário e faturamento turístico, a política de austeridade reduziu ainda mais o nível de vida dos cidadãos, que viram como a polarização política desembocava em violência.

Após seis anos de sacrifícios, os gregos terminam o ano com 40% a menos de receita disponível do que antes do começo da crise, enquanto neste período o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu 25%.

O preço desta precarização foi um aumento da tensão social e uma maior polarização da vida pública, que em junho levou à ruptura do governo tripartite e no fim do ano a três assassinatos políticos.

O compromisso assumido com a "troika" (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) de despedir quatro mil funcionários este ano e 11 mil no ano que vem, e de pôr 25 mil na denominada reserva laboral enfureceu ainda mais uma sociedade que, de um índice de desemprego considerado baixo antes da crise (8%) passou a ter uma taxa que supera os 27%.

Um panorama de cinco greves gerais e interrupções seletivas diárias marcou a vida cotidiana do país, onde mais de três milhões de pessoas, das 11 milhões que lá vivem, estão abaixo da linha de pobreza. Muitas delas sequer têm teto.

Diante do conflito social, o governo abriu o ano com uma política de linha dura que se refletiu na quebra de uma greve de trabalhadores do metrô e outra de marinheiros na qual se aplicou uma medida extraordinária que prevê penas de prisão para quem se negar a comparecer ao trabalho.

Em junho, o então governo tripartite formado por conservadores, social-democratas e esquerda moderada viveria seu momento mais crítico, tanto em nível interno como na reputação internacional.


Em 11 de junho, o primeiro-ministro, o conservador Antonis Samaras, anunciou o fechamento fulminante da rede de rádio e televisão pública e a dispensa imediata de 2.600 trabalhadores. As emissoras saíram do ar na mesma noite.

O argumento foi que, após décadas de má gestão e a impossibilidade de reformar o emaranhado corrupto que tinha se instalado no órgão, a única via possível era sua dissolução e a criação de novas redes.

De quebra, o governo solucionava de uma tacada só a metade das demissões comprometidas com a troika para este ano.

O decreto não só provocou uma inundação de críticas vindas de todo o mundo, mas fez com que um tribunal declarasse ilegal o blecaute informativo e determinasse que o governo deveria retomar o sinal.

O partido de centro-esquerda Dimar abandonou o governo, deixando a Nova Democracia (ND, conservador) e o Pasok (social-democrata) com uma pequena maioria parlamentar de 155 cadeiras, apenas quatro a mais que a oposição. Uma vantagem que alguns meses depois cairia para três, após uma deputada do Pasok deixar a bancada.

No último trimestre, o ambiente político se polarizou ainda mais e de nada serviu que Samaras propagandeasse várias vezes o que batizou como a "história do sucesso da Grécia": as contas públicas experimentaram um superávit primário (que não contabiliza o pagamento dos juros da dívida), e o turismo voltou aos índices de faturamento anteriores à crise.

Em setembro, um seguidor do partido neonazista Amanhecer Dourado matou o rapper de esquerda Pavlos Fyssas. Era o primeiro assassinato político da extrema direita em décadas.

Por causa do assassinato, o governo ordenou abrir uma profunda investigação contra os deputados, membros e seguidores deste partido; foi ordenada a detenção de boa parte de sua cúpula e o parlamento aprovou uma lei para suspender o financiamento público de partidos envolvidos em crimes.

A princípio, parecia que o apoio popular a este partido - que com a crise tinha subido graças a ações como a repartição de alimentos "só para gregos" - diminuiria.

Antes do assassinato de Fyssas, os neonazistas contavam com intenção de voto de apenas 15%, o que os colocava como a terceira força política do país, só atrás do ND e do esquerdista Syriza, mas seu apoio caiu depois do crime para cerca de 5%.

No entanto, apenas um mês e meio depois, dois membros do Amanhecer Dourado foram mortos a tiros na frente de um escritório do partido em Atenas.

Um grupo anarquista antes desconhecido reivindicou o ataque como um "ato de vingança" pelo assassinato do rapper, o que voltou a reviver o fantasma do terrorismo político e recuperou os índices de apoio ao Amanhecer Dourado para 10%.

A Grécia termina assim o ano com uma população pouco esperançosa de que a situação se reverta em um futuro imediato e um governo que deve assumir a hercúlea tarefa de começar o ano assumindo a presidência rotatória da União Europeia, em um semestre que também terá eleições europeias e municipais, vistas como um plebiscito às políticas de Samaras.

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