Economia

"Terça do gato gordo" destaca desigualdade no Reino Unido

Em menos de dois dias, maiores executivos britânicos devem colocar no bolso mais do que um trabalhador típico ganha no ano inteiro, diz organização

Gato gordo: o termo é usado como apelido para homens ricos e poderosos desde 1928 (Tripp/Flickr)

Gato gordo: o termo é usado como apelido para homens ricos e poderosos desde 1928 (Tripp/Flickr)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 5 de janeiro de 2016 às 17h35.

São Paulo - Hoje é o dia do "gato gordo" no Reino Unido.

A data foi criada pelo High Pay Centre, um think tank independente que monitora o pagamento na ponta da pirâmide de renda.

A ideia é mostrar a que ponto chegou o abismo entre os rendimentos dos altos executivos e dos trabalhadores comuns, uma das facetas do aumento da desigualdade, objeto de intenso debate nos últimos anos.

"Até o final da primeira terça-feira de 2016, os maiores chefes do Reino Unido terão ganhado mais dinheiro do que o trabalhador britânico típico em um ano inteiro", diz o comunicado da organização.

Os presidentes das companhias do Financial Times Stock Exchange 100 Index, que reúne as 100 maiores em valor de mercado listadas na bolsa inglesa, ganham em média £ 4,96 milhões de libras por ano (ou mais de 29 milhões de reais).

Considerando uma rotina de 12 horas de trabalho por dia, com menos de 10 dias de férias por ano e expediente em 3 a cada 4 fins de semana, isso significa £ 1.260 por hora (ou R$ 7.410).

Ou seja: 22 horas de trabalho (ou pouco menos de dois dias) de um destes executivos é suficiente para alcançar as £ 27.645 que um típico trabalhador britânico ganha em um ano.

“‘Não estamos nisso juntos, parece. O pagamento excessivo no topo está alimentando a desconfiança nos negócios em um momento no qual os negócios precisam demonstrar que são parte da solução para tempos difíceis e salários espremidos, promovendo uma recuperação da qual todos os empregados podem se beneficiar”, diz Stefan Stern, diretor do HPC.

O cálculo é levemente distorcido, já que para os executivos é usado o valor médio e para o trabalhador é usado o valor da mediana (que divide o conjunto ao meio - no caso, metade do país ganha mais e metade ganha menos).

Sam Bowman, diretor de uma organização de apoio ao livre mercado chamada Adam Smith Institute, escreveu um post de blog dando 7 razões pelas quais o alto pagamento de executivos não deveria ser motivo de preocupação.

Entre eles, cita a ideia de meritocracia: os executivos ganham tanto pois dão resultados concretos para suas firmas, e esta relação só tem crescido desde os anos 60 (há pesquisas que dizem o contrário).

O termo "gato gordo" como sinônimo de homens ricos e poderosos que vivem às custas do trabalho de outros surgiu nos Estados Unidos por volta de 1928, segundo o Merriam Webster.

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