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Se o governo não agir, trânsito do Rio vai parar na Copa de 2014

Problemas de congestionamentos podem ser resolvidos a tempo, com o desenvolvimento das linhas de metrô

Provável palco da final em 2014, Maracanã fica próximo de área com trânsito complicado (.)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

São Paulo - No dia 15 de junho, o ânimo dos torcedores cariocas só não esfriou porque era dia de estreia do Brasil na Copa do Mundo. Pouco tempo antes de a seleção enfrentar a Coreia do Norte, alguns pontos da capital fluminense apresentaram congestionamento, complicando a volta para casa de quem queria acompanhar o jogo. Especialistas em trânsito discordam quanto à possibilidade dos problemas nas ruas se repetirem com maior intensidade quando o Rio de Janeiro sediar as partidas do torneio de futebol. "Ainda dá tempo de resolver os problemas, mas o governo tem que agir com inteligência e muita conversa", diz o engenheiro Fernando MacDowell, especialista em trânsito e transportes.

Como em toda grande cidade, no Rio de Janeiro há diversos locais com problemas crônicos de trânsito. Ricardo Lemos, diretor de desenvolvimento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da capital fluminense, explica que as áreas críticas são as de acesso à cidade, pontos como as linhas amarela e vermelha, a Avenida Brasil e a ponte Rio-Niteroi.

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O problema é que estas vias são também as principais formas de se chegar, usando carro ou ônibus, ao Estádio do Maracanã, cotado para ser palco de jogos importantes, e da grande final da Copa de 2014. "Estes acessos tem mais ou menos o mesmo destino, e este lugar tem que ser monitorado", reconhece o especialista da CET.

Mesmo assim, Lemos afirma não "ter receio" do momento em que o Rio de Janeiro receber a Copa. “Quando tiver jogo, a quantidade de pessoas indo para o Maracanã não vai ser muito diferente de dias de clássico como "Fla-Flu" (Flamengo x Fluminense). Além disso, o estádio tem um acesso razoável via transporte público. Ônibus, metrô e trem param na porta. Não tem necessidade de usar automóvel”, afirma.

O argumento do diretor de desenvolvimento da CET vai ao encontro dos planos da administração pública para resolver os problemas de trânsito do Rio até o Mundial de futebol. Está prevista pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa, do Governo Federal, a construção de um corredor de ônibus do sistema BRT (sigla em inglês para Bus Rapid Transit) ligando a Barra da Tijuca, na zona Oeste, ao Aeroporto Internacional Tom Jobim. A obra, que será tocada pela prefeitura da cidade, deve custar cerca de 1,6 bilhão de reais. O corredor, criado para desafogar o trânsito na linha amarela, deve ser inaugurado em maio de 2013.

Para o engenheiro Fernando MacDowell, a obra não será suficiente para adequar o trânsito do Rio a um evento do porte da competição de 2014. "O trânsito na Copa só não terá problemas se, por exemplo, o metrô do Rio estiver operando conforme o previsto."


Ele explica que a estação Maracanã, que pertence à linha dois do metrô, embora não seja a maior da cidade, foi projetada para ser a de maior escoamento de pessoas. "O acordo atual para a operação nesta linha prevê trens de seis vagões, passando a cada quatro minutos. Isto não é suficiente. Podemos chegar a trens de oito vagões, passando a cada 100 segundos (aproximadamente um minuto e meio)", declara o engenheiro.

MacDowell também critica as alternativas previstas para incrementar o transporte público. "O BRT é uma brincadeira", diz. Na opinião do especialista, o sistema funciona bem em cidades menores, mas não é solução para metrópoles como Rio e São Paulo. A prova do argumento é matemática. "Dizem que o BRT transporta cerca de 35 mil pessoas por hora, mas esta conta não existe na prática. O sistema não comporta mais do que 30 ônibus a cada 60 minutos. Cada veículo comporta 220 passageiros, já sobrecarregado, com seis pessoas por metro quadrado. Isso dá 6,6 mil pessoas transportadas por hora."

O engenheiro e o diretor da CET concordam em um ponto. Além da questão do transporte, a organização do trânsito carioca no momento em que a Copa começar no Brasil dependerá de uma boa atuação da engenharia de tráfego. "Não devemos relaxar, mas não acho que haverá grandes problemas. Existem propostas, soluções, como a reprogramação de semáforos, e outras ações operacionais importantes. Mas todo o planejamento vai depender do programa do evento. Ainda não temos um 'projeto Copa'", diz Ricardo Lemos, da CET.

"As operações estruturais tem que ser feitas, e a CET do Rio é uma das mais importantes nesse processo", afirma Fernando MacDowell. O engenheiro defende, entretanto, o apoio do governo para melhorar o sistema de softwares que operam o trânsito. "Precisamos de um sistema inteligente como o de São Paulo, e não uma coisa arcaica como o que temos".

Apesar do ceticismo, o engenheiro reconhece que ainda há tempo para se estudar soluções e resolver boa parte do trânsito da cidade. "Quando se tem uma equipe técnica competente, dá para fazer metrô, túneis, pontes, tudo com recursos adequados e em tempo hábil. Se continuar no ritmo atual, as exigências dificilmente serão cumpridas. Mas se o governo reunir uma equipe boa, com muita conversa e inteligência, tudo vai ser feito."

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