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Rússia já não tem reservas por fuga de capital, diz Piketty

Prender “alguns bilionários de tempos em tempos” não é forma de resolver esse desafio, disse o economista francês

Rússia: “a longo prazo, a Rússia deveria ter muito mais reservas, considerando o nível de seu superávit comercial”, disse Piketty (Richard Heathcote/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 27 de novembro de 2015 às 21h26.

Adicione as reservas russas ao grupo de vítimas da desigualdade de renda que Thomas Piketty acredita que está dando nova forma às maiores economias do mundo.

A Rússia , que enfrenta dificuldades para reconstruir as reservas esgotadas durante a crise cambial do ano passado, não foi capaz de formar um estoque maior nos últimos 15 anos porque não criou um sistema financeiro mais transparente para diminuir a desigualdade e distribuir os espólios da expansão dos preços das commodities , disse Piketty, autor do best-seller “O capital no século XXI”.

Prender “alguns bilionários de tempos em tempos” não é forma de resolver esse desafio, disse o economista francês em entrevista em Moscou na quinta-feira.

“A longo prazo, a Rússia deveria ter muito mais reservas, considerando o nível de seu superávit comercial”, disse ele. “É importante perceber que está sendo roubado dinheiro da Rússia, pela fuga de capitais e pelo fato de que os bilionários e milionários de fora e às vezes de dentro do país conseguirem se beneficiar muito mais do que deveriam com os recursos naturais da Rússia”.

Piketty, 44, que deu uma palestra na Escola Superior de Economia de Moscou, pode estar tentando ensinar o Pai Nosso ao vigário.

O governo está buscando espremer uma receita maior do setor de energia por meio de um aumento tributário, enquanto o Banco Central da Rússia estabeleceu uma meta de cerca de US$ 500 bilhões para as reservas após queimar um quinto de suas posses para respaldar o rublo, no ano passado.

Tributação, deoffshorização

Vladimir Putin, que está no poder há 16 anos como premiê ou presidente, tem apoiado os esforços para repatriação de um capital de até US$ 1 trilhão mantido pelas empresas e por altos funcionários públicos no exterior como parte do que ele chamou de “deoffshorização” da economia.

Putin, que introduziu uma alíquota de imposto de renda fixa de 13 por cento em 2001, também tem visto alguns de seus principais ministros abordarem o assunto da reinstalação de um sistema tributário progressivo.

O imposto de renda atual é “relativamente pequeno” em um país com “muita desigualdade” e “tão pouca transparência”, disse Piketty.

Desigualdade, transparência

“A Rússia estaria em uma posição muito melhor hoje se essa reforma por mais transparência e tributação progressiva tivesse sido realizada antes”, disse Piketty.

“Já é hora, especialmente na crise atual, de mudar o curso e lidar com a desigualdade e com a transparência de forma muito mais direta”.

O debate está ganhando urgência depois que o governo permitiu que as finanças familiares suportassem o peso da primeira recessão do país em seis anos, colocando a Rússia a caminho da maior queda de consumo com Putin no comando.

Neste ano, 21,7 milhões de pessoas, ou cerca de 15 por cento da população, estão vivendo abaixo do nível de subsistência, segundo o Serviço Federal de Estatísticas do país. A crise marca o “primeiro [aumento] significativo” da pobreza na Rússia desde a crise de 1998-1999, segundo o Banco Mundial.

Apesar de um período de preços elevados do petróleo ter contribuído para um aumento inédito nos padrões de vida e o Banco Mundial estimar que haja ocorrido uma duplicação da classe média no período 2000-2013, para mais de 60 por cento da população, a desigualdade cresceu desde que Putin assumiu, pela medição do coeficiente Gini.

Os 10 por cento mais ricos entre os russos controlam 87 por cento de toda a riqueza familiar no país, uma parcela que é “significativamente mais alta” do que a observada em qualquer outra potência econômica, disse o Credit Suisse Group AG em seu Relatório Global de Riqueza deste ano.

“Nós nem sequer sabemos quantos contribuintes com rendas altas estão pagando o imposto todos os anos”, disse Piketty. Dados mais detalhados mostrarão “quem está se beneficiando com o crescimento na Rússia na comparação com os pobres, na comparação com a classe média”.

Para a Rússia, a combinação certa de políticas pode reverter anos de fugas de capitais, de acordo com Piketty.

"A Rússia tem de pôr fim à perda de capitais e à fuga de capitais e precisa investir o excedente proveniente de recursos naturais e receitas de exportação", disse ele. "Poderia ter havido muito mais investimento nacional dessa maneira".

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Adicione as reservas russas ao grupo de vítimas da desigualdade de renda que Thomas Piketty acredita que está dando nova forma às maiores economias do mundo.

A Rússia , que enfrenta dificuldades para reconstruir as reservas esgotadas durante a crise cambial do ano passado, não foi capaz de formar um estoque maior nos últimos 15 anos porque não criou um sistema financeiro mais transparente para diminuir a desigualdade e distribuir os espólios da expansão dos preços das commodities , disse Piketty, autor do best-seller “O capital no século XXI”.

Prender “alguns bilionários de tempos em tempos” não é forma de resolver esse desafio, disse o economista francês em entrevista em Moscou na quinta-feira.

“A longo prazo, a Rússia deveria ter muito mais reservas, considerando o nível de seu superávit comercial”, disse ele. “É importante perceber que está sendo roubado dinheiro da Rússia, pela fuga de capitais e pelo fato de que os bilionários e milionários de fora e às vezes de dentro do país conseguirem se beneficiar muito mais do que deveriam com os recursos naturais da Rússia”.

Piketty, 44, que deu uma palestra na Escola Superior de Economia de Moscou, pode estar tentando ensinar o Pai Nosso ao vigário.

O governo está buscando espremer uma receita maior do setor de energia por meio de um aumento tributário, enquanto o Banco Central da Rússia estabeleceu uma meta de cerca de US$ 500 bilhões para as reservas após queimar um quinto de suas posses para respaldar o rublo, no ano passado.

Tributação, deoffshorização

Vladimir Putin, que está no poder há 16 anos como premiê ou presidente, tem apoiado os esforços para repatriação de um capital de até US$ 1 trilhão mantido pelas empresas e por altos funcionários públicos no exterior como parte do que ele chamou de “deoffshorização” da economia.

Putin, que introduziu uma alíquota de imposto de renda fixa de 13 por cento em 2001, também tem visto alguns de seus principais ministros abordarem o assunto da reinstalação de um sistema tributário progressivo.

O imposto de renda atual é “relativamente pequeno” em um país com “muita desigualdade” e “tão pouca transparência”, disse Piketty.

Desigualdade, transparência

“A Rússia estaria em uma posição muito melhor hoje se essa reforma por mais transparência e tributação progressiva tivesse sido realizada antes”, disse Piketty.

“Já é hora, especialmente na crise atual, de mudar o curso e lidar com a desigualdade e com a transparência de forma muito mais direta”.

O debate está ganhando urgência depois que o governo permitiu que as finanças familiares suportassem o peso da primeira recessão do país em seis anos, colocando a Rússia a caminho da maior queda de consumo com Putin no comando.

Neste ano, 21,7 milhões de pessoas, ou cerca de 15 por cento da população, estão vivendo abaixo do nível de subsistência, segundo o Serviço Federal de Estatísticas do país. A crise marca o “primeiro [aumento] significativo” da pobreza na Rússia desde a crise de 1998-1999, segundo o Banco Mundial.

Apesar de um período de preços elevados do petróleo ter contribuído para um aumento inédito nos padrões de vida e o Banco Mundial estimar que haja ocorrido uma duplicação da classe média no período 2000-2013, para mais de 60 por cento da população, a desigualdade cresceu desde que Putin assumiu, pela medição do coeficiente Gini.

Os 10 por cento mais ricos entre os russos controlam 87 por cento de toda a riqueza familiar no país, uma parcela que é “significativamente mais alta” do que a observada em qualquer outra potência econômica, disse o Credit Suisse Group AG em seu Relatório Global de Riqueza deste ano.

“Nós nem sequer sabemos quantos contribuintes com rendas altas estão pagando o imposto todos os anos”, disse Piketty. Dados mais detalhados mostrarão “quem está se beneficiando com o crescimento na Rússia na comparação com os pobres, na comparação com a classe média”.

Para a Rússia, a combinação certa de políticas pode reverter anos de fugas de capitais, de acordo com Piketty.

"A Rússia tem de pôr fim à perda de capitais e à fuga de capitais e precisa investir o excedente proveniente de recursos naturais e receitas de exportação", disse ele. "Poderia ter havido muito mais investimento nacional dessa maneira".

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