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Retomada da liderança pelo BB fortalece confiança do mercado e ações se valorizam

Resultados ajudam a reverter a imagem que os investidores tradicionalmente mantêm em relação aos bancos públicos

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

O resultado do Banco do Brasil (BB) - que recolocou a instituição financeira à frente das demais - colabora para ampliar a confiança do mercado em relação a seus papéis, mas ainda é insuficiente para descolar sua imagem do governo e, consequentemente, de eventual uso político. O BB encerrou o primeiro semestre com ativos totais de 598 bilhões e 839 milhões de reais -- quase 2 bilhões e 500 milhões a mais do que o grupo Itaú-Unibanco, até então o número um no ranking nacional.

Apesar de o lucro líquido ter crescido 0,55% nos primeiros seis meses do ano em relação a igual período do ano passado - pouco mais de 4 bilhões de reais -, as ações ordinárias do Banco do Brasil (BBSA3) subiram 2,37% na última quinta-feira, 13, data de divulgação dos resultados. No mesmo dia, os papéis preferenciais dos principais rivais Bradesco (BBDC4) e Itaú-Unibanco (ITUB4) apuraram quedas de, respectivamente, 1,08% e 1,22%, em um pregão no qual o Ibovespa encerrou em alta de 0,81%, aos 57.047 pontos. Foi a maior pontuação desde 6 de agosto do ano passado, quando fechou a 57.542 pontos.

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Segundo analistas consultados pelo Portal EXAME, os resultados do BB ajudam a reverter a imagem que os investidores tradicionalmente mantêm em relação aos bancos públicos. Em geral, eles enxergam a compra deste tipo de ativo como um risco mais elevado que o de comprar papéis de uma instituição privada. O temor é ter em mãos um papel "micado", a exemplo do que ocorreu no passado com o Banerj e o Banespa.

"A figura do banco público precisa ser analisada por dois ângulos. Por um lado, a captação de recursos se torna bem mais barata. Por outro, muitas vezes, são feitos investimentos em áreas que não trazem lucratividade, como por exemplo obras sociais", afirma o ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Luís Troster,

Para o analista de instituições financeira da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, o BB vem se reestruturando desde o governo Fernando Henrique Cardoso e essa imagem de uso político vem se diluindo. "A instituição adotou políticas de governança corporativa e está em conformidade com as regras do novo mercado.Os resultados mostram que o BB é hoje um instrumento de política econômica, que difere do conceito de uso político".

Ainda segundo Santacreu, ao contrário dos governos dos Estados Unidos e da Europa, que usaram recursos do orçamento público para irrigar a economia diante da crise, a tática, no Brasil, foi utilizar o BB para isso. "A instituição estava em condições de ofertar mais crédito e a um custo mais barato que os bancos privados e fez isso."

A estratégia de ampliar a oferta de crédito com taxas de juros menores, em um momento de escassez de recursos, foi decisiva para a arrancada do BB, apesar de o resultado semestral ter sido beneficiado pela receita extra advinda da venda de ações da Visanet. Segundo o balanço, a carteira de crédito cresceu 32,8%, em um prazo de 12 meses encerrado em junho, e alcançou 252,48 bilhões de reais. Os empréstimos para pessoas físicas avançaram 69% em um ano e totalizaram 68,47 bilhões de reais.

Aquisições

Ainda segundo os analistas, os reflexos das recentes aquisições de bancos estaduais feitas pelo BB - Besc (Santa Catarina), BEP (Piauí) e Nossa Caixa (São Paulo) – e do Votorantim, também já começam a aparecer nos resultados da instituição. (Continua)


"A aquisição da Nossa Caixa traz um diferencial competitivo para a carteira de crédito do BB, principalmente na modalidade do consignado, na qual a instituição não era muito forte. Ela traz alta rentabilidade com baixo risco de inadimplência. Você tem um custo de captação baixíssimo e um spread competitivo (diferença entre a taxa de captação e a cobrada dos clientes)", afirma o analista da Planner, Pérsio Nogueira Junior.

Segundo os dados do balanço, em 12 meses encerrados em junho, a modalidade de crédito consignado na carteira de crédito do BB apurou avanço de 110,7%.

Outra vantagem é o ganho de capilaridade. Segundo estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), desde a década de 90, com a maior concentração do segmento bancário, houve um enxugamento do número de agências no Brasil. Em 1990 eram 19.996 contra 18.308 em 2007. No caso específico da Nossa Caixa, ela possui agências em todo o território paulista, principalmente no interior de São Paulo, um dos principais polos de crescimento econômico do país. Já em relação ao Besc, Santa Catarina, ao lado do Rio Grande do Sul, responde por um terço do total de agências bancárias hoje do país.

Santacreu, do Austin Rating, considera que também a aquisição do Banco Votorantim foi estratégica, uma vez que ampliou os negócios do BB na área de crédito automotivo, um dos segmentos cuja demanda segue aquecida. Em virtude da crise, o governo mantém medidas de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos o que amplia a busca por financiamentos.

Exportação

Segundo os analistas, o BB ainda levou vantagem em relação à concorrência por ofertar mais crédito para a exportação, área na qual tem grande expertise, em um momento de seca. A crise fechou as torneiras de crédito lá fora e aqui dentro. O grau da estiagem de recursos foi tanto que levou o Banco Central a ofertar, via leilão, Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACCs). Trata-se de uma modalidade oferecida pelos bancos privados que permite ao exportador receber crédito antes do embarque da mercadoria.

Além de ampliar o alcance do Programa de Financiamento a Exportações (Proex) - linha de crédito do BB com subsídio do Tesouro Nacional - para empresas com faturamento bruto anual de até 600 milhões milhões de reais – a instituição lançou uma linha de crédito para capital de giro em moeda nacional, sem variação cambial, com alíquota zero de IOF, especial para exportadores, o BB Giro Empresa Flex – Exportações.

Inadimplência

Os analistas também rebatem afirmações que a estratégia agressiva de ofertar mais crédito a juros mais barato possa se traduzir em risco de inadimplência para o BB no futuro. Segundo eles, a ampliação da carteira deve levar à diluição do risco de calote.

Segundo o balanço do BB, a inadimplência da carteira, que considera operações vencidas em prazo superior a 90 dias, subiu de 2,5% para 3,3% em 12 meses. Com isso, a provisão para perdas esperadas com calotes cresceu 27,3% sobre março, e 88% ante junho de 2008, para 3 bilhões e172 milhões de reais.

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