Economia

Sugar CO2 do ar e enterrá-lo pode conter a crise climática?

Rascunho da terceira parte do quinto relatório da ONU sobre clima sugere uso da técnica de bioenergia com captura e armazenamento de carbono. Já surge oposição


	Emissões: riscos potenciais de captar e armazenar CO2 estão sujeitos a  incerteza científica
 (SXC.Hu)

Emissões: riscos potenciais de captar e armazenar CO2 estão sujeitos a  incerteza científica (SXC.Hu)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 14 de abril de 2014 às 15h05.

São Paulo – Visualize o seguinte ciclo: uma usina de bioenergia usa biomassa, que inclui árvores, restos de plantas, ou lascas de madeira, para gerar eletricidade ou combustível e, em seguida, captura o carbono liberado na atmosfera pelo processo de transformação, bombeando-o para reservatórios geológicos subterrâneos.

A técnica descrita acima chama-se Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono, ou simplesmente BECCS, na sigla em inglês. Ela vem ganhando apelo nos últimos anos por ser uma “tecnologia negativa em carbono”.

Por esta característica, a técnica é apontada pela terceira parte do quinto relatório do IPCC, o painel de experts do clima da ONU, como uma alternativa para conter as mudanças climáticas, segundo consta em um rascunho do documento obtido pelo jornal britânico The Guardian.

Além de não emitir gás de efeito estufa na geração de energia (já que suga e armazena toda emissão), essa técnica também reduz a concentração de CO2 no ar através do repetido processo de cultivo de espécimes vegetais – que vão crescer e absorver dióxido de carbono – para posterior conversão da biomassa em energia.

Críticos da tecnologia já se manifestam, questionando, principalmente, os efeitos ainda desconhecidos do processo de armazenamento do dióxido de carbono na terra.

Eles argumentam que as chamadas técnicas de "emissões negativas" não estão bem fundamentadas cientificamente e que seus riscos ao meio ambiente e à saúde humana (podem ocorrer vazamentos, por exemplo),  precisam ser melhor conhecidos.

Outra preocupação é com a conversão em grande escala de terras para a tecnologia, que poderia ameaçar os meios de vida de milhões de pessoas em países em desenvolvimento, da mesma forma que os biocombustíveis têm sido associados à grilagem de terras e aumentos de preços de alimentos.

“São propostas fantasiosas que distraem a atenção da solução óbvia, que é reduzir o uso de combustível fóssil", disse ao jornal Almuth Ernsting, co-diretor do observatório de bioenergia da Ong Biofuelwatch.

O rascunho do relatório da ONU admite que "os custos e riscos potenciais de BECCS estão sujeitos a considerável incerteza científica", e pondera que tais tecnologias de remoção de CO2 "podem convidar à complacência no tocante aos esforços de mitigação".

Em abril de 2013, segundo um relatório especializado da Universidade de Stanford, existiam 16 projetos de BECCS em pequena escala e em vários níveis de desenvolvimento pelo mundo.

Terceira parte do IPCC – a mitigação

De hoje até o próximo sábado (12), líderes governamentais e cientistas se reúnem em Berlim, na Alemanha, para rever a terceira parte do quinto relatório do IPCC.

O sumário para formuladores de politica será divulgado no domingo e apontará caminhos para a mitigação das mudanças climáticas.

O lançamento ocorre duas semanas após a divulgação da segunda parte do relatório, que fez um diagnóstico do clima extremo e seus efeitos para a vida no planeta.

Acompanhe tudo sobre:CarbonoClimaEfeito estufaEmissões de CO2IPCCMeio ambienteONU

Mais de Economia

Aneel aciona bandeira verde e conta de luz deixará de ter cobrança extra em agosto

Governo prevê espaço extra de R$ 54,9 bi para gastos em 2025

BID faz acordo com Coreia do Sul e vai destinar US$ 300 milhões em financiamento para América Latina

Alckmin: reforma tributária vai ampliar investimentos e exportações

Mais na Exame