Religião e inovação não combinam, diz estudo de Princeton
Banco de dados com mais de 100 países mostra que no nível individual, há uma relação forte e negativa entre religiosidade e abertura à inovação
João Pedro Caleiro
Publicado em 13 de abril de 2015 às 17h29.
São Paulo - A religião é central para a sociedade assim como a inovação é crucial para a economia. Mas qual é a relação entre as duas coisas?
É este o tema de um estudo publicado recentemente pelos economistas Roland Bénabou, Davide Ticchi e Andrea Vindigni, da Universidade de Princeton .
O trio investigou a relação no nível individual entre religiosidade e uma série de atitudes pró ou anti-inovação. Foram utilizados dados de 5 edições da World Values Survey (1980, 1990, 1995, 2000, e 2005), uma pesquisa de valores realizada em mais de 100 países.
11 indicadores de abertura à inovação foram cruzados com 5 medidas de religiosidade (como crenças e frequência em cultos), controlando por país, ano e outros fatores sociodemográficos.
A conclusão: "uma maior religiosidade é quase uniformemente e de forma muito significativa associada com visões menos favoráveis da inovação".
Uma pessoa que se identifique como religiosa - que dê mais ênfase à Deus ou vá mais à Igreja, por exemplo - tem uma chance muito mais significativa de achar que "dependemos demais da ciência e não o suficiente na fé" ou que a ciência "faz a vida mudar rápido demais".
Das 5 principais atitudes pró-inovação, como achar que "novas ideias são melhores que as antigas" e acreditar que "cada um molda o próprio destino", 4 tem correlação negativa e significativa com alta religiosidade. A exceção é a importância de "ter novas ideias e ser criativo" - nesse caso, a relação vira de ponta cabeça, o que os autores definem como um "quebra-cabeça".
As 5 medidas de religiosidade tem relação negativa forte com a importância dada para as crianças terem imaginação, independência e determinação/perseverança, por exemplo.
Segundo os pesquisadores, é impossível concluir a direção da causalidade. As pessoas menos propensas à inovação tendem a ser mais religiosas ou é o contrário?
Bibliografia
Em um trabalho anterior, o trio de Princeton havia comparado diferentes países e estados americanos e concluído que há uma relação negativa importante entre níveis de religiosidade e a inovação em si (medida pelo número de patentes per capita).
A conexão "mais religiosidade, menos inovação" permanece forte mesmo controlando por outras variáveis como renda, acesso à educação e legislação de patentes.
No começo do ano passado, dois pesquisadores de Harvard publicaram um trabalho que parte do Ramadã islâmico para mostrar como a religião pode atrapalhar o crescimento.
Depois, foi a vez de um trio de pesquisadores apresentar em Georgetown um estudo sobre os efeitos econômicos negativos do "excesso" de liberdade religiosa.
Mas nem tudo é tão simples. O trio de Princeton lembra de um trabalho de Barro and McCleary que encontrou uma relação com o crescimento positiva considerando "crença em céu e inferno" e negativa quando o critério é "comparecimento na igreja".
Eles também lembram um trabalho de Guiso, Sapienza e Zingales em 2003 que usando o mesmo banco de dados da World Values Survey, mostrou que pessoas mais religiosas tendem a confiar mais em outras pessoas, nas instituições públicas e no mercado.
Os modelos teóricos sugerem que essa confiança, assim como o medo da punição divina, podem induzir os indivíduos a agirem de forma menos oportunista e mais cooperativa. Ou seja, a religiosidade também estaria associada a certas "atitudes sociais que conduzem a uma maior produtividade e crescimento", diz Luigi Guiso.
![Cristãos](https://classic.exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_catolicos-no-iraque.jpg?quality=70&strip=info&w=920)
2 /7(Muhammad Hamed/Reuters)
Cristianismo | População | Riqueza | Número de super-ricos |
---|---|---|---|
Geral | 2,4 bilhões | US$ 107,2 trilhões | 7.384.680 |
% do total mundial | 33% | 55% | 56,2% |
![Muçulmanos](https://classic.exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_ramada-india.jpg?quality=70&strip=info&w=920)
3 /7(REUTERS/Ahmad Masood)
Islamismo | População | Riqueza | Número de super-ricos |
---|---|---|---|
Geral | 1,6 bilhão | US$ 11,3 trilhões | 854.100 |
% do total mundial | 22% | 5,8% | 6,5% |
![Hindus](https://classic.exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_indu.jpg?quality=70&strip=info&w=920)
4 /7(©afp.com / Roberto Schmidt)
Hinduísmo | População | Riqueza | Número de super-ricos |
---|---|---|---|
Geral | 1,1 bilhão | US$ 6,5 trilhões | 512.460 |
% do total mundial | 15% | 3,3% | 3,9% |
![Judeus](https://classic.exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_ultra-ortodoxos.jpeg?quality=70&strip=info&w=920)
5 /7(Ammar Awad/Reuters)
Judaísmo | População | Riqueza | Número de super-ricos |
---|---|---|---|
Geral | 14 milhões | US$ 2,07 trilhões | 223.580 |
% do total mundial | 0,19% | 1,1% | 1,7% |
![Outras religiões](https://classic.exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_tibetanos-nepal.jpg?quality=70&strip=info&w=920)
6 /7(Getty Images)
Outras / sem religião | População | Riqueza | Número de super-ricos |
---|---|---|---|
Geral | 2,08 bilhões | US$ 67,8 trilhões | 4.165.380 |
% do total mundial | 29% | 34,8% | 31,7% |
![](https://classic.exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_barcos_em_monaco5.jpg?quality=70&strip=info&w=920)
7 /7(Senet/Wikimedia Commons)