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Religião e inovação não combinam, diz estudo de Princeton

Banco de dados com mais de 100 países mostra que no nível individual, há uma relação forte e negativa entre religiosidade e abertura à inovação

Na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o Papa Francisco tira uma "selfie" no celular com jovens católicos. (28/8/2013) (Osservatore Romano/EPA)

João Pedro Caleiro

Publicado em 13 de abril de 2015 às 17h29.

São Paulo - A religião é central para a sociedade assim como a inovação é crucial para a economia. Mas qual é a relação entre as duas coisas?

É este o tema de um estudo publicado recentemente pelos economistas Roland Bénabou, Davide Ticchi e Andrea Vindigni, da Universidade de Princeton .

O trio investigou a relação no nível individual entre religiosidade e uma série de atitudes pró ou anti-inovação. Foram utilizados dados de 5 edições da World Values Survey (1980, 1990, 1995, 2000, e 2005), uma pesquisa de valores realizada em mais de 100 países.

11 indicadores de abertura à inovação foram cruzados com 5 medidas de religiosidade (como crenças e frequência em cultos), controlando por país, ano e outros fatores sociodemográficos.

A conclusão: "uma maior religiosidade é quase uniformemente e de forma muito significativa associada com visões menos favoráveis da inovação".

Uma pessoa que se identifique como religiosa - que dê mais ênfase à Deus ou vá mais à Igreja, por exemplo - tem uma chance muito mais significativa de achar que "dependemos demais da ciência e não o suficiente na fé" ou que a ciência "faz a vida mudar rápido demais".

Das 5 principais atitudes pró-inovação, como achar que "novas ideias são melhores que as antigas" e acreditar que "cada um molda o próprio destino", 4 tem correlação negativa e significativa com alta religiosidade. A exceção é a importância de "ter novas ideias e ser criativo" - nesse caso, a relação vira de ponta cabeça, o que os autores definem como um "quebra-cabeça".

As 5 medidas de religiosidade tem relação negativa forte com a importância dada para as crianças terem imaginação, independência e determinação/perseverança, por exemplo.

Segundo os pesquisadores, é impossível concluir a direção da causalidade. As pessoas menos propensas à inovação tendem a ser mais religiosas ou é o contrário?

Bibliografia

Em um trabalho anterior, o trio de Princeton havia comparado diferentes países e estados americanos e concluído que há uma relação negativa importante entre níveis de religiosidade e a inovação em si (medida pelo número de patentes per capita).

A conexão "mais religiosidade, menos inovação" permanece forte mesmo controlando por outras variáveis como renda, acesso à educação e legislação de patentes.

No começo do ano passado, dois pesquisadores de Harvard publicaram um trabalho que parte do Ramadã islâmico para mostrar como a religião pode atrapalhar o crescimento.

Depois, foi a vez de um trio de pesquisadores apresentar em Georgetown um estudo sobre os efeitos econômicos negativos do "excesso" de liberdade religiosa.

Mas nem tudo é tão simples. O trio de Princeton lembra de um trabalho de Barro and McCleary que encontrou uma relação com o crescimento positiva considerando "crença em céu e inferno" e negativa quando o critério é "comparecimento na igreja".

Eles também lembram um trabalho de Guiso, Sapienza e Zingales em 2003 que usando o mesmo banco de dados da World Values Survey, mostrou que pessoas mais religiosas tendem a confiar mais em outras pessoas, nas instituições públicas e no mercado.

Os modelos teóricos sugerem que essa confiança, assim como o medo da punição divina, podem induzir os indivíduos a agirem de forma menos oportunista e mais cooperativa. Ou seja, a religiosidade também estaria associada a certas "atitudes sociais que conduzem a uma maior produtividade e crescimento", diz Luigi Guiso.

São Paulo - O patrimônio geral dos 1,6 bilhão de muçulmanos no planeta cresceu 132% entre 2000 e 2014, de acordo com números divulgados hoje pela consultoria New World Wealth. No entanto, este grupo continua tendo apenas 5,8% da riqueza mundial, contra 55% controlada pelos 2,4 bilhões de cristãos . A relação é ainda mais desigual entre os hindus, que formam 15% da população mundial mas têm apenas 3% da riqueza. A consultoria também analisou os super ricos, aqueles com patrimônio líquido acima de US$ 1 milhão, que controlam US$ 66 trilhões do total de US$ 195 trilhões que estão nas mãos dos indivíduos. Neste grupo, os cristãos também dominam. Isso porque 7 dos 10 países com mais ricos do mundo são de maioria cristã: Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Suíça, Canadá, França e Austrália. China, Japão e Índia são as exceções. Clique nas fotos para ver uma radiografia da riqueza mundial por religião :
  • 2. Cristãos

    2 /7(Muhammad Hamed/Reuters)

  • Veja também

    CristianismoPopulaçãoRiquezaNúmero de super-ricos
    Geral2,4 bilhõesUS$ 107,2 trilhões7.384.680
    % do total mundial33%55%56,2%
  • 3. Muçulmanos

    3 /7(REUTERS/Ahmad Masood)

  • IslamismoPopulaçãoRiquezaNúmero de super-ricos
    Geral1,6 bilhãoUS$ 11,3 trilhões854.100
    % do total mundial22%5,8%6,5%
  • 4. Hindus

    4 /7(©afp.com / Roberto Schmidt)

    HinduísmoPopulaçãoRiquezaNúmero de super-ricos
    Geral1,1 bilhãoUS$ 6,5 trilhões512.460
    % do total mundial15%3,3%3,9%
  • 5. Judeus

    5 /7(Ammar Awad/Reuters)

    JudaísmoPopulaçãoRiquezaNúmero de super-ricos
    Geral14 milhõesUS$ 2,07 trilhões223.580
    % do total mundial0,19%1,1%1,7%
  • 6. Outras religiões

    6 /7(Getty Images)

    Outras / sem religiãoPopulaçãoRiquezaNúmero de super-ricos
    Geral2,08 bilhõesUS$ 67,8 trilhões4.165.380
    % do total mundial29%34,8%31,7%
  • 7 /7(Senet/Wikimedia Commons)

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