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Reeleição de Bush aumenta necessidade de negociar novos acordos

Segundo especialistas, o republicano continuará investindo em acordos bilaterais com países pequenos, a fim de esvaziar a negociação em bloco, como defende o Brasil

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h45.

Areeleição do republicano George W. Bushpara a presidência dos Estados Unidos é um sinal de que o Brasil deverá intensificar a conclusão de acordos bilaterais com outras nações latino-americanas. Essa seria uma forma de neutralizar a estratégia americana de negociar em separado com países pequenos, esvaziando o poder de negociação de tratados comerciais em bloco, como defende o Brasil. A avaliação é de Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone).

Segundo Jank, a disparidade de poder entre os Estados Unidos e os pequenos países latinos facilita a conclusão de acordos comerciais favoráveis aos americanos, o que desvia o fluxo de comércio e de investimentos americanos do Brasil para essas nações.

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Congeladas pelas eleições americanas, as negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) devem ser retomadas em 2005. Jank afirmou, porém, que somente a melhora das relações entre americanos e brasileiros, que dividem a presidência do fórum de negociações, poderá trazer resultados positivos para o bloco.

A Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) também não está muito otimista sobre a conclusão de um amplo acordo de livre comércio no âmbito da Alca. "Não diria que há boas perspectivas no curto prazo", afirma o economista-chefe da Sobeet, Fernando Ribeiro. As divergências em torno de questões fundamentais, como o acesso às compras governamentais e aos serviços, podem emperrar novamente as negociações. Para que o tratado seja assinado em 2005, como prevê o cronograma de criação da Alca, seria necessário que esses temas fossem deixados para mais tarde. "É possível que se assine apenas um acordo parcial no próximo ano", diz Ribeiro.

Continuidade

Apesar das divergências comerciais, Jank e Ribeiro afirmam que os próximos quatro anos de Bush serão marcados pela continuidade de suas políticas externas. Ou seja, pouco mudará para o Brasil nesse período. "No geral, as relações comerciais com os Estados Unidos vão bem, independente de quem seja o presidente americano", afirma Ribeiro. O economista lembra que o país é o que mais investe no Brasil e também seu principal parceiro comercial.

O Brasil também será afetado, indiretamente, pelo modo como Bush enfrentará o grande déficit em conta corrente (cerca de 300 bilhões de dólares por ano) e federal (aproximadamente 500 bilhões por ano) que pressionam os Estados Unidos, segundo Ribeiro. Uma alternativa será promover uma desvalorização do dólar, a fim de incentivar as exportações e conter a importação.

Se isto acontecer, os mais afetados serão os países asiáticos, como China e Japão, que investem maciçamente em títulos americanos públicos e privados, além de manterem um intenso intercâmbio comercial com os americanos. "Como a moeda brasileira acompanha a americana, pode-se esperar também uma pequena desvalorização do real, o que será favorável para o Brasil", diz Ribeiro.

Juros americanos

A reeleição de Bush também não alterará a política monetária do Federal Reserve (Fed), o banco central do país. Para combater o déficit público, será necessário elevar as taxas de juros, a fim de obter dois resultados: atrair novos investidores e reduzir a demanda dos consumidores, o que também combateria o aumento das importações.

Ribeiro afirma que, apesar da situação econômica dos Estados Unidos, o Fed deverá manter sua política de ajuste gradual dos juros, reafirmada com insistência pelo seu presidente, Alan Greenspan. Para o Brasil e outros países emergentes, o fato é tranquilizador, porque lhe dará tempo para se adaptar aos novos patamares.

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