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Redução de meta eleva chances de rebaixamento e adia cortes

Corte das metas fiscais deste e dos próximos anos aumentaram o risco do Brasil vir a perder o seu grau de investimento

Moedas de Real: metas para 2016 e 2017 foram reduzidas para 0,7 e 1,3 por cento do PIB, respectivamente (Bruno Domingos/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 22 de julho de 2015 às 23h38.

São Paulo - O corte das metas fiscais deste e dos próximos dois anos aumentou o risco de o Brasil vir a perder o seu grau de investimento e jogou ainda mais para o futuro a possibilidade de queda do juro básico no país.

"O mercado vai achar muito difícil acreditar em novas promessas. Uma redução era esperada, mas uma redução tão grande e em prazos tão longos mostra uma falta de empenho do governo para implementar esforço fiscal", afirmou o sócio-gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi.

O governo anunciou nesta quarta-feira redução da meta de superávit primário deste ano para 8,747 bilhões de reais, ou 0,15 por cento do Produto Interno Bruto ( PIB ), ante 66,3 bilhões de reais, ou 1,1 por cento do PIB, devido à frustração da receita em meio a um cenário de contração econômica.

As metas para 2016 e 2017 foram reduzidas para 0,7 e 1,3 por cento do PIB, respectivamente, ante meta anterior de 2 por cento. Além disso, anunciou que poderá abater da meta fiscal deste ano até 26,4 bilhões de reais, caso haja frustração de receita esperada com medidas que também dependem de aprovação do Congresso Nacional. "Grosso modo, o governo pode até ter déficit primário", afirmou Petrassi.

Economistas acreditam que as decisões não serão bem recebidas pelos mercados financeiros e devem alimentar apostas nas mesas de operação de que as agências Fitch e Moody's podem, além de rebaixar o rating brasileiro para o último degrau do grau de investimento, colocar a nota brasileira em perspectiva negativa.

Com isso, aumentariam as chances do Brasil vir a perder no futuro o tão cobiçado grau de investimento. A agência Standard & Poor's é a única das três grandes agências que já rebaixou a classificação do país para o último degrau do grau de investimento, mas perspectiva estável. A expectativa é que a Moody's se manifeste em breve sobre a nota brasileira após visita ao país recentemente.

"O governo está postergando o ajuste, e as metas deste ano e dos próximos, a meu ver, estão muito longe de estabilizar a relação entre dívida/PIB", afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, referindo-se a uma das métricas utilizadas pelas agências de rating para avaliar a solvência de um país.

Além disso, a política fiscal menos contracionista deve dificultar a missão do Banco Central de trazer a inflação para o centro da meta de 4,5 por cento até o fim de 2016. Isso deve levar investidores a adiarem ainda mais suas apostas sobre quando a Selic começará a cair após o fim do atual ciclo de aperto monetário, movimento que já vinha acontecendo há algumas semanas.

Para Petrassi, a despeito das condições fiscais desfavoráveis, o Banco Central ainda deve encerrar o aperto monetário em breve. "Mas, no longo prazo, há mais sobrecarga para o BC", disse.

Especialistas acreditam que os mercados financeiros devem continuar apontando para a elevação da Selic para no máximo 14,25 por cento, ante patamar atual de 13,75 por cento. Essas apostas refletem sinalizações recentes da autoridade monetária e a atividade econômica bastante enfraquecida. "Amanhã até podemos ver as taxas curtas (da curva de DIs) apresentarem alguma alta, mas sem grande importância", afirmou o operador da corretora Renascença Thiago Castellan Castro.

Atualmente, a curva de juros futuros aponta elevação de 0,25 ponto percentual na reunião da semana que vem do Comitê de Política Monetária (Copom), após cinco altas de 0,50 ponto.

Na reunião seguinte, em setembro, os DIs dividem-se entre a manutenção da taxa em 14 por cento ou nova elevação de 0,25 ponto, encerrando o ciclo de aperto monetário. O primeiro corte de juros aconteceria apenas em meados do ano que vem, de acordo com operadores, com base em cálculos de agentes do mercado baseados no fechamento dos DIs desta quarta-feira.

O chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas ressaltou que juros mais altos no curto prazo poderiam dificultar ainda mais o reequilíbrio das contas públicas. "O ajuste vai ser mais longo, então não tem sentido, se você não tem um saldo primário para pagar os juros da dívida, subir mais os juros. Aí você vai criar mais problemas para atividade e coletar menos impostos", afirmou ele.

"Eu acho que o BC tem que colocar os pés no chão e acabar com o romantismo de querer trazer (a inflação) para 4,5 por cento no ano que vem a qualquer preço", acrescentou.

Texto atualizado às 23h38

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São Paulo - O corte das metas fiscais deste e dos próximos dois anos aumentou o risco de o Brasil vir a perder o seu grau de investimento e jogou ainda mais para o futuro a possibilidade de queda do juro básico no país.

"O mercado vai achar muito difícil acreditar em novas promessas. Uma redução era esperada, mas uma redução tão grande e em prazos tão longos mostra uma falta de empenho do governo para implementar esforço fiscal", afirmou o sócio-gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi.

O governo anunciou nesta quarta-feira redução da meta de superávit primário deste ano para 8,747 bilhões de reais, ou 0,15 por cento do Produto Interno Bruto ( PIB ), ante 66,3 bilhões de reais, ou 1,1 por cento do PIB, devido à frustração da receita em meio a um cenário de contração econômica.

As metas para 2016 e 2017 foram reduzidas para 0,7 e 1,3 por cento do PIB, respectivamente, ante meta anterior de 2 por cento. Além disso, anunciou que poderá abater da meta fiscal deste ano até 26,4 bilhões de reais, caso haja frustração de receita esperada com medidas que também dependem de aprovação do Congresso Nacional. "Grosso modo, o governo pode até ter déficit primário", afirmou Petrassi.

Economistas acreditam que as decisões não serão bem recebidas pelos mercados financeiros e devem alimentar apostas nas mesas de operação de que as agências Fitch e Moody's podem, além de rebaixar o rating brasileiro para o último degrau do grau de investimento, colocar a nota brasileira em perspectiva negativa.

Com isso, aumentariam as chances do Brasil vir a perder no futuro o tão cobiçado grau de investimento. A agência Standard & Poor's é a única das três grandes agências que já rebaixou a classificação do país para o último degrau do grau de investimento, mas perspectiva estável. A expectativa é que a Moody's se manifeste em breve sobre a nota brasileira após visita ao país recentemente.

"O governo está postergando o ajuste, e as metas deste ano e dos próximos, a meu ver, estão muito longe de estabilizar a relação entre dívida/PIB", afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, referindo-se a uma das métricas utilizadas pelas agências de rating para avaliar a solvência de um país.

Além disso, a política fiscal menos contracionista deve dificultar a missão do Banco Central de trazer a inflação para o centro da meta de 4,5 por cento até o fim de 2016. Isso deve levar investidores a adiarem ainda mais suas apostas sobre quando a Selic começará a cair após o fim do atual ciclo de aperto monetário, movimento que já vinha acontecendo há algumas semanas.

Para Petrassi, a despeito das condições fiscais desfavoráveis, o Banco Central ainda deve encerrar o aperto monetário em breve. "Mas, no longo prazo, há mais sobrecarga para o BC", disse.

Especialistas acreditam que os mercados financeiros devem continuar apontando para a elevação da Selic para no máximo 14,25 por cento, ante patamar atual de 13,75 por cento. Essas apostas refletem sinalizações recentes da autoridade monetária e a atividade econômica bastante enfraquecida. "Amanhã até podemos ver as taxas curtas (da curva de DIs) apresentarem alguma alta, mas sem grande importância", afirmou o operador da corretora Renascença Thiago Castellan Castro.

Atualmente, a curva de juros futuros aponta elevação de 0,25 ponto percentual na reunião da semana que vem do Comitê de Política Monetária (Copom), após cinco altas de 0,50 ponto.

Na reunião seguinte, em setembro, os DIs dividem-se entre a manutenção da taxa em 14 por cento ou nova elevação de 0,25 ponto, encerrando o ciclo de aperto monetário. O primeiro corte de juros aconteceria apenas em meados do ano que vem, de acordo com operadores, com base em cálculos de agentes do mercado baseados no fechamento dos DIs desta quarta-feira.

O chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas ressaltou que juros mais altos no curto prazo poderiam dificultar ainda mais o reequilíbrio das contas públicas. "O ajuste vai ser mais longo, então não tem sentido, se você não tem um saldo primário para pagar os juros da dívida, subir mais os juros. Aí você vai criar mais problemas para atividade e coletar menos impostos", afirmou ele.

"Eu acho que o BC tem que colocar os pés no chão e acabar com o romantismo de querer trazer (a inflação) para 4,5 por cento no ano que vem a qualquer preço", acrescentou.

Texto atualizado às 23h38

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