Raio X das 277 emendas à reforma da Previdência mostra transição no foco
Emendas serão analisadas pelo relator, que deve apresentar parecer até dia 15. Se não passarem na comissão especial, ainda podem ser analisadas em Plenário
João Pedro Caleiro
Publicado em 31 de maio de 2019 às 19h02.
Última atualização em 3 de junho de 2019 às 09h57.
Terminou nesta quinta-feira (30), às 19 horas, o prazo para apresentação de emendas ao texto da reforma da Previdência (PEC 6/19). No total, foram 277, das quais 163 entregues no último dia (59%).
Depois da conferência das assinaturas, as emendas serão analisadas pelo relator na comissão especial da Câmara, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), que pode acatá-las ou não, no todo ou em parte.
Para apresentar emendas, cada autor precisava coletar pelo menos 171 assinaturas de deputados. Se não passar na comissão especial, qualquer uma ainda poderá ser analisada pelo Plenário.
As bancadas do PDT e do PL fizeram emendas substitutivas globais – na prática, textos novos. A economia prevista com a aprovação integral do texto original é de R$ 1,236 trilhão em dez anos.
Raio X das emendas
As regras de transição dos atuais servidores públicos e trabalhadores do setor privado foram o principal foco das emendas apresentadas.
Juntos, os termos “transição” ou “pedágio” surgiram como os principais tópicos nas emendas à reforma da Previdência, com 71% – estão em 197 das 277 sugestões apresentadas. Na outra ponta, “abono salarial” só aparece em 8 (3%).
Muitas sugestões são amplas, com várias mudanças ao mesmo tempo; mas também há emendas que tratam de pontos específicos. Como um texto pode conter mais de um tópico, o total de menções é muito superior ao de emendas.
palavras-chave | Emendas | % total |
---|---|---|
transição, pedágio | 197 | 71% |
servidor, servidora, servidores, RPPS | 154 | 56% |
RGPS, regime geral | 142 | 51% |
mulher, mulheres, gênero | 130 | 47% |
lei complementar, desconstitucionalização | 125 | 45% |
valor da aposentadoria, valor do benefício, cálculo, média aritmética, | 115 | 42% |
tempo de contribuição | 112 | 40% |
idade mínima, sobrevida | 93 | 34% |
militar, militares, Forças Armadas, bombeiros | 73 | 26% |
policial, policiais, guardas, penitenciário, penitenciários, socioeducativo, socioeducativos | 65 | 23% |
rural, rurais | 59 | 21% |
alíquota, alíquotas, progressiva, progressivas, confisco | 41 | 15% |
BPC, benefício de prestação continuada, benefícios de prestação continuada | 30 | 11% |
capitalização, capitalizado, 201-A, | 19 | 7% |
mandato, mandatos | 11 | 4% |
abono salarial | 8 | 3% |
A tabela acima indica o total de emendas com um ou mais termos de cada grupo de palavras-chave, no texto da norma ou nas justificativas.
Ainda que um tópico seja citado mais de uma vez, o levantamento evita a dupla contagem ao considerar como apenas uma a proposta que traga ao mesmo tempo, por exemplo, “policial” e “policiais”.
Esses resultados foram obtidos a partir do Sistema de Informações Legislativas (Sileg), por meio de um buscador que examinou o conteúdo das 277 emendas em comparação a assuntos debatidos na comissão especial que analisa a reforma da Previdência – ou, de modo simplificado, as “palavras-chave” mais usadas por parlamentares nas reuniões.
Parecer
Samuel Moreira reafirmou ontem que espera concluir o relatório até no máximo 15 de junho, mas ressalvou que poderá adiantar o trabalho.
“Concentro esforços para ajudar o presidente da Câmara a cumprir o cronograma que deseja”, disse, citando pedido feito por Rodrigo Maia, que não quer esperar o final do semestre para a votação em Plenário.
“Posso até adiantar um pouco, é possível que até o final da semana que vem ou no começo da outra o relatório seja entregue”, continuou.
Mudanças
A Proposta de Emenda à Constituição 6/19 pretende alterar o sistema de Previdência Social para os trabalhadores do setor privado e para os servidores públicos de todos os Poderes e de todos os entes federados (União, estados e municípios).
A idade mínima para a aposentaria será de 65 anos para os homens e 62 para as mulheres. Há regras de transição para os atuais contribuintes.
O texto retira da Constituição vários dispositivos que tratam da Previdência Social, transferindo a regulamentação para lei complementar. O objetivo, segundo o governo, é conter a diferença entre o que é arrecadado pelo sistema e o montante usado para pagar os benefícios.
Em 2018, o déficit previdenciário total – setores privado e público mais militares – foi de R$ 264,4 bilhões.