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Quem ganha e quem perde com a guerra no Iraque

A Carlson Wagonlit, agência da Accor especializada no turismo de negócios, seguiu a cartilha da prudência nos dias que antecederam a guerra entre Estados Unidos e Iraque. Os executivos da empresa no Brasil elaboraram um plano de negócios enxuto, prevendo uma queda de 50% nas viagens internacionais. Mas o primeiro tiro no Oriente Médio soou […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h32.

A Carlson Wagonlit, agência da Accor especializada no turismo de negócios, seguiu a cartilha da prudência nos dias que antecederam a guerra entre Estados Unidos e Iraque. Os executivos da empresa no Brasil elaboraram um plano de negócios enxuto, prevendo uma queda de 50% nas viagens internacionais. Mas o primeiro tiro no Oriente Médio soou como uma bomba na central de atendimento da empresa em São Paulo: as reservas de viagens internacionais agendadas por representantes de multinacionais do mundo inteiro desabou 70% no primeiro dia de batalha. A reação natural numa hora dessas é ficar na zona de conforto , diz Antônio Luiz Cubas de Souza, diretor-executivo da Carlson Wagonlit. Todos os segmentos ligados ao trânsito de passageiros vão sofrer um duro golpe por conta do efeito psicológico desse conflito.

Há 30 anos no negócio de viagens, Souza faz sua análise comparando a reação das pessoas à Guerra do Golfo, 12 anos atrás, e o medo generalizado dos dias atuais. O que faz a diferença é o terrorismo pós-atentado de 11 de setembro. É como se a guerra não tivesse mais fronteiras também os seus riscos , diz Souza. O custo da incerteza ainda que emocional pode ser contabilizado. Nos meses que antecederam a guerra, a insegurança foi repassada ao câmbio, ao preço do petróleo e seus derivados, aos prêmios de seguro, ao risco-país de nações emergentes como o Brasil (que serve de parâmetro para os juros dos financiamentos e emissões de títulos).

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Desde o final do ano passado, o nervosismo do mercado foi embutido no preço dos ativos , diz Fábio Akira, economista do JPMorgan. Em parte, essa tensão precipitada explica a calma nos mercados financeiros do Brasil após o início da guerra. Na avaliação de Akira, pesam a favor do Brasil nesse momento a geografia e a economia: "O país está longe do Oriente Médio e demonstrou nos últimos meses que reduziu sua fragilidade financeira. Em parte, por conta do aumento das exportações, em parte porque o governo manteve uma política conservadora para os juros . Mesmo distante e com mais credibilidade, o país sofre os reflexos da guerra. Confira como diferentes setores deverão reagir ao conflito.

Seguros

A guerra no Iraque colocou de sobreaviso a indústria mundial de seguros, mais cautelosa e conservadora desde os atentados de 11 de setembro. Os acionistas agora exigem lucro das empresas, que têm sido deficitárias nos últimos anos , afirma Ivan Passos, vice-presidente técnico de riscos industriais e comerciais da Sul América. A avaliação dos riscos associados à produção industrial e principalmente ao comércio internacional ficou mais rigorosa, e o preço das apólices subiu em média 60% nos últimos três meses. Os contratos de seguro têm ainda uma cláusula que isenta as companhias da obrigação de cobrir perdas em caso de guerras. Para as empresas brasileiras, fazer entregas em países na área do conflito nesse momento é literalmente assumir riscos.

Transporte aéreo

O efeito dominó da imobilidade começa nas agências de viagem e segue afetando toda a cadeia de serviços do setor. Atinge hotéis, restaurantes, locadoras de veículos, feiras de negócios e, principalmente, as companhias aéreas. O Sindicato Nacional das Empresas Aéreas projeta para as próximas semanas uma queda de 20% no número de passageiros das rotas internacionais. Em nota oficial a Lufthansa, a maior companhia aérea da Alemanha, reiterou que seus resultados em 2003 não devem alcançar os patamares registrados no ano passado por conta da guerra. A Associação das Transportadoras Aéreas (ATA), um organismo internacional, estima, que com a queda no número de passageiros, o setor vai perder 10,7 bilhões de dólares neste ano.

Segurança

Subsidiárias de empresas americanas reforçaram a segurança das unidades em todo o mundo contra ataques terroristas, mas foram flexíveis no Brasil, afirma James Wygand, gerente geral para o Cone Sul da consultoria Control Risk. O Brasil é um país fora das zonas de riscos , explica. As filiais de multinacionais locais parecem mais preocupadas com a segurança de negócios. Cresceram nas últimas semanas as avaliações de riscos comerciais , diz Wygand. As companhias tentam antecipar o que muda nas relações comerciais a partir desse conflito.

Agronegócio

Os produtos agropecuários têm peso na pauta de exportação brasileira para o Oriente Médio. Carnes em geral, açúcar, café e soja representam boa parte dos embarques para países como Arábia Saudita, Síria, Jordânia, Egito, Marrocos e mesmo Iraque. Para ter uma idéia, dos 15 maiores mercados da indústria do açúcar, seis estão na região, com destaque para Egito e Emirados Árabes, segundo e quinto em geração de divisas. Cerca de 20% das exportações de carnes brasileiras seguem para essa região. Nos últimos três meses, os embarques cresceram 15%. Ainda não sabemos se os países fizeram estoques por conta do conflito ou simplesmente compram mais do Brasil , diz Enio Marques, diretor-executivo da Associação Brasileira de Exportadores de Carne. Analistas projetam estabilidades para os negócios, levando em conta que alimento é prioridade em qualquer circunstância, ainda mais em caso de guerra. O Brasil é um país neutro, pode até ganhar mercados durante o conflito , diz Getúlio Pernambuco, chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional da Agricultura e da Pecuária (CNA).

Cadeia Petroquímica

O preço da nafta, matéria-prima da indústria petroquímica produzida a partir do óleo negro, subiu 30% em dólar neste ano fruto das altas do barril de petróleo. A Petrobras repassa os aumentos integrais para a indústria petroquímica, que absorve parte dos aumentos e repassa outra parcela, gerando pressão por aumentos de preços ao longo de toda a cadeia uma longa cadeia. A extensa gama de produtos gerados a partir da nafta abastece setores tão distintos quanto têxteis, eletroeletrônicos, construção civil e embalagens para alimentos, bebidas e produtos de limpeza. "A pressão de custos está insuportável", diz Paulo Saab, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). Segundo levantamento realizado pela Eletros, os plásticos subiram 60% no ano passado. Há previsão de altas de 10% e 20% neste mês e em abril. Tanto os eletrodomésticos da linha branca quanto gabinetes de televisores e de áudio, além de outros produtos de vídeo, dependem da produção de plásticos.

Automotivo

Tratores, ônibus, automóveis e partes de veículos fabricados no Brasil ganharam mercado no Oriente Médio desde meados da década de 90. A região tornou-se uma das prioridades para a Marcopolo, fabricante de ônibus. Os desembarques da empresa na região somam 1 150 veículos neste ano, 200 deles no Kuwait. Quando as sirenes anunciaram que o país vizinho ao Iraque estava sendo bombardeado no primeiro dia dos ataques, a luz vermelha ascendeu nos escritórios da empresa em Caxias do Sul, na serra gaúcha. Dependendo do rumo da guerra, as entregas podem ser antecipadas. A unidade brasileira Volkswagen já tenta antecipar os embarques, mas para escapar dos aumentos dos custos. De acordo com Antonio Roberto Cortes, vice-presidente mundial da Volkswagen Caminhões e Ônibus, os gastos com logística e seguro devem aumentar entre 10% e 15%. A Arábia Saudita é o segundo maior mercado da fábrica da Volks (o primeiro é o Chile). Em 2001, a unidade brasileira fechou um contrato de venda de 700 ônibus, somando um total de 62 milhões de dólares. Neste ano já foram entregues 311 unidades, e a previsão era de que o restante seria entregue até 2004.

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