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Queda de 0,4% da indústria em outubro não representa retração

Apesar de ser o segundo mês consecutivo de queda, o resultado não deve ser interpretado como uma inversão da tendência de crescimento da indústria, segundo o economista Bráulio Lima Borges, da LCA Consultores

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h32.

A produção industrial recuou 0,4% de setembro para outubro, na série livre de influências sazonais. Esse foi o segundo mês consecutivo de retração da atividade das indústrias, já que, em setembro, a produção havia caído 0,2%. Segundo o economista Bráulio Lima Borges, da LCA Consultores, os números mostram que a indústria está realmente reduzindo a velocidade de expansão. "A queda assinala claramente uma desaceleração do setor", afirma.

Apesar disso, os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não significam que a indústria está invertendo o comportamento ascendente e entrando em recessão. "A produção continuará crescendo, mas agora em um ritmo mais modesto e de modo mais volátil", diz. Para 2004, a projeção da LCA é de que a indústria cresça 8%. Já para 2005, a expectativa é de um incremento de 4,6%.

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Em relação a outubro do ano passado, a produção industrial cresceu 2,7%. Também nesse tipo de comparação, os dados revelam que as empresas estão diminuindo o passo. Em setembro, a produção havia crescido 7,4% sobre igual período de 2003. O IBGE, responsável pela pesquisa, atribuiu a desaceleração de outubro a dois fatores. O primeiro é que o mês teve menos dias úteis (20) que setembro (23). O segundo é a maior base de comparação, quando se confrontam os dados de 2003 e 2004.

Mas as explicações do IBGE são insuficientes, segundo Borges, da LCA. O economista lembra que algumas categorias de produtos já vinham caindo desde setembro. É o caso dos bens de consumo duráveis, que recuaram 2,3% em outubro e 2% no mês anterior, e dos bens de capital, cuja queda foi de 1,3% em outubro e de 4,5% em setembro.

Juros e Natal

Outubro é o mês em que, geralmente, as empresas começam a apertar o ritmo para atender aos pedidos de Natal. Com isso, era de se esperar um incremento da produção, mas Borges lembra que a influência das festas de fim de ano deixou de ser captada pela pesquisa do IBGE por dois motivos. O primeiro é que os dados já são dessazonalizados, ou seja, excluem picos de atividade decorrentes de fatores como datas comemorativas.

Além disso, mesmo que o IBGE não descontasse esse incremento sazonal, os números de outubro não refletiriam todo o peso da demanda natalina, neste ano, porque muitas empresas se anteciparam e começaram a produzir para o Natal já em agosto. O motivo é que diversas projeções apontam para uma forte demanda neste final de ano. "Talvez tenhamos o melhor Natal dos últimos anos", diz Borges.

O encarecimento do crédito ao consumidor final e o aumento da taxa básica de juros, segundo o economista, são outros fatores que melhor explicam a acomodação da atividade das indústrias. Borges explica que os contratos de swap de 360 dias já vinham subindo desde junho, em contraste com a taxa básica de juros (Selic), que permanecia em 16% ao ano desde abril. Os contratos de swap são importantes sinalizadores do encarecimento do crédito para o tomador final.

A partir de setembro, quando o Banco Central elevou a Selic para 16,25% ao ano, a desaceleração foi estimulada também pelo incremento dos juros básicos da economia. "Outubro foi o mês em que a produção industrial mais sentiu a alta da Selic", diz Borges.

Boa hora

Apesar de tudo, os números divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (9/12) podem ter vindo em boa hora, segundo o economista. Num momento em que o BC assinala repetidas vezes sua preocupação com uma inflação de demanda, a desaceleração industrial pode conter novos aumentos da Selic.

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