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Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2009 às 13h22.
Última atualização em 18 de maio de 2017 às 20h04.
A diferença de cerca de 50% entre os preços dos combustíveis no Brasil e os praticados no mercado internacional colocou o governo contra a parede. Diante da inquietação de empresas e consumidores, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que vai baixar os preços da gasolina e do diesel dentro de três ou quatro meses.
A grande discussão está em como fazer o corte. Uma redução de preços, além de impactar o caixa da Petrobras, significaria a queda na arrecadação de impostos. Pelos cálculos da corretora do banco Itaú, 10% de redução nos preços do diesel e da gasolina corresponderia a uma diminuição de 3 bilhões de reais no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da Petrobras, o equivalente a 7% dos 43,4 bilhões de reais de Ebitda projetado para o ano de 2009.
Entre os especialistas, a questão suscita opiniões divergentes. Para uns, o governo já poderia promover uma redução nos preços dos combustíveis, uma vez que a Petrobras estaria prestes a zerar as perdas que teve com a disparada do petróleo no ano passado. Outros acreditam que o governo vai postergar sua decisão ao máximo, podendo ao final promover um mix de leve redução de preços com um pequeno aumento da Cide (Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico). E há, ainda, quem não acredite que a queda virá. Veja abaixo o que dizem os especialistas.
Peter Ping Ho, analista da corretora Planner: Agora é o melhor momento para o governo reduzir os preços da gasolina e do diesel. As perdas da Petrobras com a alta do petróleo - que chegaram a bater 10 bilhões de reais entre 2005 e 2008 - já estão praticamente zeradas. Um corte nos combustíveis seria uma forma de ajudar a economia nesse momento de crise, uma vez que o frete mais baixo beneficia toda a cadeia produtiva. Como a crise é global, a recuperação da economia mundial deverá ser lenta, o que praticamente descarta uma nova disparada do petróleo e possibilita uma redução de 8% nas refinarias e 5% nas bombas.
Mônica Araújo, estrategista da corretora Ativa: Quando não há uma regra clara, fica difícil saber qual seria o melhor momento para um ajuste de preço. No terceiro trimestre, a Petrobras já deverá ter uma boa ideia de como está o andamento de suas metas para 2009 e o preço do petróleo deverá ter se consolidado na casa dos 50 dólares o barril. É quando acreditamos que haverá um corte entre 7% e 10% nos preços dos combustíveis. Redução de receita nunca é bom para a empresa, mas essa variação é algo que faz parte do negócio.
Luiz Broad, analista da corretora Ágora: Pelas nossas contas, a Petrobras deve recuperar as perdas que teve com a disparada do petróleo entre julho e agosto. Quando isso acontecer, esperamos uma queda de 15% nos preços nas refinarias, o que representaria uma redução de 6 bilhões de reais na receita da empresa em 2009. Esse corte de preços, no entanto, não quer dizer que o consumidor pagará menos. Pode ser que nem chegue às bombas. Tudo dependerá da decisão do governo sobre a Cide.
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE): O preço dos combustíveis no Brasil é definido politicamente. Se o governo decidir que precisa baixar, ele vai baixar, mesmo que isso represente perdas para a Petrobras. Tanto um corte nos preços como um aumento na Cide seriam prejudiciais para a empresa. Eu acredito que o governo vai adiar ao máximo a decisão, podendo ao final elevar levemente a Cide para aumentar a arrecadação e baixar simbolicamente os preços dos combustíveis. Isso geraria um efeito eleitoral positivo, sem prejudicar demais as contas da Petrobras.
Pedro Silva Barros, pesquisador do Núcleo de Análise de Conjuntura Internacional da PUC-SP: A queda nos preços dos combustíveis vai acontecer quando o governo achar conveniente. Como a Petrobras responde por mais de 90% do mercado, é o governo quem dá as cartas. Quando teve a disparada do petróleo no ano passado, a Petrobras elevou os preços, mas o reajuste foi muito inferior ao que seria necessário para acompanhar o preço no mercado internacional. Agora, provavelmente o governo fará o inverso, reduzindo menos. Para a economia, minimizar as variações dos preços é bom, embora não seja interessante para os acionistas minoritários da Petrobras.
Francisco Anuatti Neto, professor do Departamento de Economia da USP de Ribeirão Preto: O melhor momento para reduzir o preço dos combustíveis depende de uma equação difícil de calcular. A Petrobras tem objetivos tanto empresariais como de política pública, e suas decisões refletem também interesses eleitorais. Nesse jogo de forças, o momento ideal será aquele que for bom para o governo. Atualmente, não vejo motivos para uma redução. Não há pressões inflacionárias. Uma queda só virá quando for mais interessante politicamente.
Andrés Kikuchi, chefe de Análise da Link Investimentos: Não acredito que o governo vá realmente reduzir o preço dos combustíveis. A inflação está baixa e o preço das commodities, controlado. Uma redução agora poderia comprometer a rentabilidade da Petrobras, que tem um ambicioso plano de investimentos a cumprir. Esse plano é importante não só para a empresa, mas também para o Brasil, já que reduz a dependência energética do país. Se o governo decidir baixar os preços agora, provavelmente terá de subi-los no ano que vem, quando a economia começar a se recuperar. E isso não é interessante em um ano eleitoral.