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Quadro global indica que festa acabou para o Brasil, diz BNP

Para o economista-chefe para a América Latina do BNP Paribas, “no Brasil, hoje, não adianta pisar fundo na demanda, é necessário ter um motor melhor de oferta”

Festa brasileira acabou? BNP acha que sim (Scott Heavey/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 17 de junho de 2013 às 13h26.

São Paulo - A revisão das projeções do BNP Paribas indicam um cenário global com menos crescimento e inflação em 2013 (esse último, não no caso do Brasil). “No Brasil, esse quadro indica que a festa acabou”, afirmou Marcelo Carvalho, economista-chefe do BNP Paribas para a América Latina.

“Hoje, o mundo está mais complicado para países como o Brasil do que imaginávamos há três meses”, disse Carvalho. O cenário internacional já esteve mais favorável para o Brasil nos últimos anos, com a China crescendo muito, exportações de commodities mais caras e o desemprego impedindo um quadro de inflação. “Essa história acabou. O mundo mudou“, disse carvalho.

“A china não cresce no mesmo ritmo e o preço das commodities não sobe tanto. O Brasil usou sua capacidade ociosa e hoje tem um quadro batendo em restrições de oferta, o Brasil incentivou muito o lado da demanda e se esqueceu de trabalhar no lado da oferta”, disse Carvalho. Esse descasamento leva a pressões de inflação e uma piora nas contas externas e no câmbio.

“É como se fosse dirigir um carro velho. Você pode tentar pisar mais fundo no acelerador, o carro pode fazer mais barulho mas não vai andar muito mais rápido. Você precisa de um motor melhor. No Brasil hoje, não adianta pisar fundo na demanda, você precisa de um motor melhor de oferta”, disse. O “motor melhor do lado da oferta” significa investir em capital humano (aumentar a produtividade, através de melhorias na educação) e investir em capital físico, através de investimentos públicos e privados.

No entanto, não dá para colocar a culpa no resto do mundo, segundo Carvalho. “Temos muitos fatores domésticos que levam a essa relação entre inflação e crescimento”, disse. O Brasil está se descolando de seus pares na América Latina , tanto em relação ao crescimento do PIB quanto à inflação. México, Peru, Chile e Colômbia vem crescendo a uma média de 3% nos últimos anos – o Brasil cresce cerca de 2%. A inflação nesses vizinhos nos últimos dois anos foi da ordem de 3%, enquanto no Brasil ela chegou a 6%, segundo Carvalho. “O dilema inflação e crescimento é muito pior no Brasil que nos seus pares na América Latina. A razão para isso me parece resultante do descasamento entre oferta e demanda, que é muito mais grave no brasil que nos seus pares da região”, afirmou.

Projeções

A projeção do BNP Paribas para o crescimento da economia brasileira em 2013 foi revisada para baixo, passando de 3% para 2,3%. Para 2014, a expectativa caiu de 3,5% para 3%. A principal razão para a revisão, segundo Carvalho, tem a ver com o primeiro trimestre mais fraco que o imaginado e com o mundo que cresce menos. O crescimento do Brasil no primeiro trimestre foi de 0,6%, ante expectativas de cerca de 1%.


“Temos uma política monetária que tenta ser mais contracionista, o BC vem subindo juros, mas recentemente vimos um anúncio de novos créditos que vão no sentido oposto, de uma expansão fiscal”, afirmou. Quanto mais expansionista a política fiscal, mais o Banco Central tem que subir os juros para controlar a inflação, segundo Carvalho. O BNP Paribas projeta pelo menos mais dois aumentos de 0,50% p.p. na Selic nas próximas reuniões, levando os juros a 9,00% - a mesma projeção apresentada hoje pelo Boletim Focus.

Para o câmbio, a expectativa é de que a taxa fique em 2,20 (real/dólar) no final de 2013, indo para 2,35 (real/dólar) em 2014 – o que agrava o já desafiador quadro de inflação, segundo o economista. “As intervenções (do BC no câmbio) aliviam no curto prazo mas não alteram a trajetória de médio e longo prazo de desvalorização do real”, disse Carvalho. Para o economista, vale lembrar que, há um tempo, quando o foco estava no crescimento o Brasil lutava contra a guerra cambial. Hoje que a inflação é uma prioridade, o câmbio desvalorizado é ruim.

Na projeção do BNP, o déficit em conta corrente vai aumentar de 2% do PIB para 4% do PIB em 2014, o que dá cerca de 100 bilhões de dólares, segundo Carvalho. “As exportações sofrem com um mundo que não cresce tanto e onde o preço das commodities não sobe como no passado. Por outro lado, as importações sobem por causa da demanda doméstica”, disse.

Mundo

O crescimento global foi revisado de 3,2% para 2,9%. O crescimento mais lento leva a uma diminuição na projeção de inflação - o Brasil é uma exceção, segundo Carvalho. O economista destacou a revisão para baixo de crescimento na Europa e na China. Na Europa, a recuperação está demorando mais do que o esperado – agora se acredita que ela vai ocorrer só no segundo semestre. O crescimento será fraco por mais tempo.

Para a China, a projeção de crescimento foi revisada de 8,3% para 7,6% (em 2014 a projeção é de crescimento de 7,3%). Carvalho destacou a expectativa para 2014, abaixo de 7,5% que é a meta de crescimento oficial na China. “Essa mudança é importante para a América Latina e para o Brasil, em particular, porque se a China cresce menos, isso tira suporte de preço de commodities no mercado internacional e não é boa noticia para quem vende commodities no exterior como o Brasil’, disse.

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São Paulo - A revisão das projeções do BNP Paribas indicam um cenário global com menos crescimento e inflação em 2013 (esse último, não no caso do Brasil). “No Brasil, esse quadro indica que a festa acabou”, afirmou Marcelo Carvalho, economista-chefe do BNP Paribas para a América Latina.

“Hoje, o mundo está mais complicado para países como o Brasil do que imaginávamos há três meses”, disse Carvalho. O cenário internacional já esteve mais favorável para o Brasil nos últimos anos, com a China crescendo muito, exportações de commodities mais caras e o desemprego impedindo um quadro de inflação. “Essa história acabou. O mundo mudou“, disse carvalho.

“A china não cresce no mesmo ritmo e o preço das commodities não sobe tanto. O Brasil usou sua capacidade ociosa e hoje tem um quadro batendo em restrições de oferta, o Brasil incentivou muito o lado da demanda e se esqueceu de trabalhar no lado da oferta”, disse Carvalho. Esse descasamento leva a pressões de inflação e uma piora nas contas externas e no câmbio.

“É como se fosse dirigir um carro velho. Você pode tentar pisar mais fundo no acelerador, o carro pode fazer mais barulho mas não vai andar muito mais rápido. Você precisa de um motor melhor. No Brasil hoje, não adianta pisar fundo na demanda, você precisa de um motor melhor de oferta”, disse. O “motor melhor do lado da oferta” significa investir em capital humano (aumentar a produtividade, através de melhorias na educação) e investir em capital físico, através de investimentos públicos e privados.

No entanto, não dá para colocar a culpa no resto do mundo, segundo Carvalho. “Temos muitos fatores domésticos que levam a essa relação entre inflação e crescimento”, disse. O Brasil está se descolando de seus pares na América Latina , tanto em relação ao crescimento do PIB quanto à inflação. México, Peru, Chile e Colômbia vem crescendo a uma média de 3% nos últimos anos – o Brasil cresce cerca de 2%. A inflação nesses vizinhos nos últimos dois anos foi da ordem de 3%, enquanto no Brasil ela chegou a 6%, segundo Carvalho. “O dilema inflação e crescimento é muito pior no Brasil que nos seus pares na América Latina. A razão para isso me parece resultante do descasamento entre oferta e demanda, que é muito mais grave no brasil que nos seus pares da região”, afirmou.

Projeções

A projeção do BNP Paribas para o crescimento da economia brasileira em 2013 foi revisada para baixo, passando de 3% para 2,3%. Para 2014, a expectativa caiu de 3,5% para 3%. A principal razão para a revisão, segundo Carvalho, tem a ver com o primeiro trimestre mais fraco que o imaginado e com o mundo que cresce menos. O crescimento do Brasil no primeiro trimestre foi de 0,6%, ante expectativas de cerca de 1%.


“Temos uma política monetária que tenta ser mais contracionista, o BC vem subindo juros, mas recentemente vimos um anúncio de novos créditos que vão no sentido oposto, de uma expansão fiscal”, afirmou. Quanto mais expansionista a política fiscal, mais o Banco Central tem que subir os juros para controlar a inflação, segundo Carvalho. O BNP Paribas projeta pelo menos mais dois aumentos de 0,50% p.p. na Selic nas próximas reuniões, levando os juros a 9,00% - a mesma projeção apresentada hoje pelo Boletim Focus.

Para o câmbio, a expectativa é de que a taxa fique em 2,20 (real/dólar) no final de 2013, indo para 2,35 (real/dólar) em 2014 – o que agrava o já desafiador quadro de inflação, segundo o economista. “As intervenções (do BC no câmbio) aliviam no curto prazo mas não alteram a trajetória de médio e longo prazo de desvalorização do real”, disse Carvalho. Para o economista, vale lembrar que, há um tempo, quando o foco estava no crescimento o Brasil lutava contra a guerra cambial. Hoje que a inflação é uma prioridade, o câmbio desvalorizado é ruim.

Na projeção do BNP, o déficit em conta corrente vai aumentar de 2% do PIB para 4% do PIB em 2014, o que dá cerca de 100 bilhões de dólares, segundo Carvalho. “As exportações sofrem com um mundo que não cresce tanto e onde o preço das commodities não sobe como no passado. Por outro lado, as importações sobem por causa da demanda doméstica”, disse.

Mundo

O crescimento global foi revisado de 3,2% para 2,9%. O crescimento mais lento leva a uma diminuição na projeção de inflação - o Brasil é uma exceção, segundo Carvalho. O economista destacou a revisão para baixo de crescimento na Europa e na China. Na Europa, a recuperação está demorando mais do que o esperado – agora se acredita que ela vai ocorrer só no segundo semestre. O crescimento será fraco por mais tempo.

Para a China, a projeção de crescimento foi revisada de 8,3% para 7,6% (em 2014 a projeção é de crescimento de 7,3%). Carvalho destacou a expectativa para 2014, abaixo de 7,5% que é a meta de crescimento oficial na China. “Essa mudança é importante para a América Latina e para o Brasil, em particular, porque se a China cresce menos, isso tira suporte de preço de commodities no mercado internacional e não é boa noticia para quem vende commodities no exterior como o Brasil’, disse.

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