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Por que tanto temor se PIB dos EUA cresce a uma taxa de 3,3%?

Expansão dos EUA foi puxada por fatores que não devem se repetir nos próximos trimestres, diz Fator Corretora

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h26.

Quando foi divulgada, no final de agosto, a expansão do PIB americano no segundo trimestre foi recebida com alívio e surpresa. A maior economia do planeta cresceu 3,3% entre abril e junho, acima dos 2,7% previstos pelo mercado. Nos dois dias seguintes, as bolsas americanas subiram e puxaram vários pregões pelo mundo. Mas, passada a euforia, os números foram esmiuçados e revelaram indícios preocupantes. O crescimento americano, no período, baseou-se em fatores que tendem a não se repetir nos próximos trimestres. "Mesmo as boas notícias não foram boas em agosto", afirma um relatório do Banco Fator.

O PIB de qualquer país é composto por quatro elementos: consumo interno, investimentos das empresas, transações com o mercado externo e gastos públicos. No caso americano, o que mais pesou foi o desempenho no mercado externo, que respondeu por 3,1% dos 3,3% de alta do PIB, segundo o Fator. Em seguida, vieram o consumo interno e os gastos públicos, que juntos representam cerca de 2% de alta. Esses ganhos, porém, foram praticamente anulados pela retração dos investimentos privados, que ficou próxima de 2%.

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No segundo trimestre, o consumo interno foi estimulado, em grande parte, por um programa do governo Bush de restituir parte dos impostos pagos pelos contribuintes. O pacote pretendia contrabalançar a desaceleração decorrente do estouro da bolha do crédito imobiliário. As restituições foram pagas entre o final de abril, quando foram aprovadas pelo Congresso, e meados de julho, e injetaram cerca de 334 bilhões de dólares na economia americana. "Esta é uma situação que não vai se repetir", afirma o Fator. Sem a devolução dos impostos, os americanos voltarão a depender apenas de seus ganhos recorrentes - o que pode acarretar queda no consumo. Os primeiros números mostram que isto já pode estar em curso. Em julho, a renda pessoal dos americanos caiu 0,7% ante junho. Segundo o Departamento de Comércio do país, foi a maior queda desde os 2,3% de agosto de 2005.

Mercado externo

O bom desempenho dos Estados Unidos no comércio mundial, entre abril e junho, deveu-se a dois motivos. O primeiro foi a depreciação do dólar frente a outras moedas, como o iene japonês, o yuan chinês e o real. Mas, agora, a moeda americana voltou a se valorizar. "A apreciação do dólar contra o euro e o iene é devido mais ao enfraquecimento dessas moedas, do que à saúde da economia americana", afirma o Fator.

O enfraquecimento das moedas também está relacionado à desaceleração mundial. Nas últimas semanas, divulgou-se que importantes países, como o Japão e a Inglaterra, beiram a recessão. No segundo trimestre, por exemplo, a queda dos investimentos levou os 15 países da Zona do Euro a registrar sua primeira retração econômica, aumentando os temores de uma recessão na Europa.

"O ajuste do PIB americano tem sido feito às custas de seus parceiros comerciais, no melhor estilo ´empobreça o vizinho`", afirma o Fator. O banco lembra, ainda, que a desaceleração dos países emergentes também vai dificultar a continuidade do crescimento dos Estados Unidos.

"Como o mercado de trabalho continua fraco e o preço dos imóveis ainda tem um longo caminho para se recuperar, os Estados Unidos enfrentam a perspectiva de vários trimestres de atividade fraca", avalia o Fator. Outra dúvida é a extensão da crise das hipotecas de segunda linha, que pode dragar mais recursos públicos que o esperado, uma vez que o Congresso autorizou o governo a recorrer ao Tesouro para socorrer companhias em dificuldades.

Brasil melhor

Apesar do peso da economia americana, o cenário brasileiro melhorou. A previsão de inflação caiu, reduzindo a necessidade de alta dos juros. O Fator reduziu a expectativa para o IPCA deste ano de 7,1% para 6,3%. Para o IGP-M, o banco projeta 11,25%, ante a estimativa inicial de 14,34%.

Com isso, a expectativa para os juros também ficou menor. O Fator cortou em 0,75 ponto percentual sua estimativa para a Selic no final do ano - de 15,25% para 14,50%. Para atingir este patamar, o Fator aposta que o Banco Central promoverá uma alta de 0,75 ponto percentual na Selic em setembro, 0,50 ponto em outubro, e 0,25 ponto em dezembro. Para 2009, a projeção caiu de 14,25% para 13,75%.

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