Política energética de Trump pode fazer preços caírem ainda mais
Diferente de Barack Obama, que priorizou as energias renováveis, o próximo mandatário republicano promete relançar a extração de carvão
AFP
Publicado em 15 de novembro de 2016 às 14h02.
A estratégia do presidente eleito Donald Trump em matéria de política energética, favorável de reimpulsionar a produção americana de petróleo, gasolina e carvão, poderá impactar os preços em baixa, advertem especialistas.
Diferente de seu antecessor democrata Barack Obama, que priorizou as energias renováveis, o próximo mandatário republicano promete relançar a extração de carvão e facilitar ainda mais a exploração dos combustíveis fósseis.
Trump também garantiu eliminar as leis que limitam o "fracking" (fraturação hidráulica), apoiar a construção do oleoduto Keystone XL entre Canadá e Estados Unidos que Obama bloqueou, permitir a exploração de mais áreas -principalmente em Alasca- e acabar com a lei sobre a contaminação atmosférica (Clean Power Plan, em inglês).
"Produzir mais energia americana é parte central do meu plano para que os Estados Unidos voltem a ser rico", disse Trump durante uma coletiva sobre "fracking" em setembro.
"Vou eliminar as restrições sobre a energia americana e vou permitir que essa riqueza chegue a nossas comunidades", disse.
Superprodução mundial
Os especialistas alertam que essa estratégia pode exacerbar a atual superprodução mundial. Os preços do petróleo caíram em 2014 pela alta produção produção americana estimulada pelo "fracking", que permite alcançar reservas de difícil acesso.
A produção nacional passou de 5,5 milhões de barris por dia em 2010, a 9,6 milhões em 2015. Isso fez que o país reduzisse suas importações e que os preços no mercado mundial caíssem automaticamente.
A produção dos Estados Unidos se encontra desde então abaixo dos 9 milhões de barris por dia, mas as cotações do petróleo continuam baixas pelo alto rendimento de países como Iraque, Líbia, Arábia Saudita e Irã.
Abrir mais áreas para a exploração impulsionará novamente a produção e, consequentemente, levará a mais uma queda de preços.
"O petróleo de xisto pôs no mercado uma quantidade inacreditável de petróleo novo", ressalta Sam Ori, diretor do instituto de estudos energéticos da Universidade de Chicago.
"O principal desafio da indústria do petróleo são os preços", insiste.
Para o analista Carl Larry, da Frost & Sullivan, a produção de petróleo americana só tem futuro se as importações caírem. Para ele, um modo de fazer isso seria através de impostos.
No entanto, a exploração de xisto pode penalizar também o carvão porque o gás natural é mais limpo e mais fácil de transportar do que o carvão, que gera 50% da produção elétrica há cerca de 15 anos.
Aproximadamente 100.000 postos de trabalho desapareceram nas minas dos Apalaches, cordilheira do leste dos Estados Unidos, onde também sofreram a concorrência de campos mais fáceis de explorar, sobretudo no estado de Wyoming (oeste).
Trump, contudo, prometeu reativar o setor de carvão, uma iniciativa que possivelmente contribuiu para sua vitória sobre a rival democrata Hillary Clinton em vários estados do nordeste do país.
"O melhor que pode acontecer é a desaceleração da queda do carvão", afirma Ori. "Nada que o governo Trump fizer mudará isso", acrescenta.
Energias renováveis ameaçadas?
As energias verdes podem sofrer as consequências das políticas adotadas por Trump, depois de terem recebido grandes incentivos fiscais e subsídios na era Obama.
De todo modo, alguns especialistas reiteram que as energias renováveis já podem garantir sua rentabilidade sem ajudas. O Texas, principal produtor de petróleo nos Estados Unidos, recorre com frequência às energias eólica e solar para obter eletricidade.
"O setor das renováveis é realmente competitivo em matéria de preços", destaca Greg Wetstone, presidente do conselho americano sobre as energias renováveis. "A eleição [de Trump] não mudará nada".
O principal risco para as renováveis, setor que emprega cerca de 300.000 pessoas, seria uma nova queda dos preços de gás natural.
"É um setor importante e não há motivo para tirar a importância a seu crescimento e sua taxa de emprego", conta Wetstone.