Economia

"Política econômica está ligada à política de saúde", diz Armando Castelar

Para o coordenador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, recuperação econômica depende de controle da pandemia

Armando Castelar: "Os 9,7% foram piores do que se esperava. Nesse sentido, foi o insulto em cima da injúria" (Marcos Arcoverde/Estadão Conteúdo)

Armando Castelar: "Os 9,7% foram piores do que se esperava. Nesse sentido, foi o insulto em cima da injúria" (Marcos Arcoverde/Estadão Conteúdo)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de setembro de 2020 às 09h38.

Última atualização em 2 de setembro de 2020 às 11h06.

Em meio a tantos números negativos da economia no segundo trimestre e ao resultado negativo sem precedentes do PIB, o economista Armando Castelar, coordenador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), chama a atenção para o aumento da taxa de poupança. Com as pessoas confinadas em casa, a poupança subiu para 15,5% como proporção do PIB no segundo trimestre deste ano, superando os 13,7%, registrados no mesmo período de 2019.

Isso revela, segundo o economista, que o consumo não ocorreu pela falta de renda, mas porque os brasileiros não estão saindo de casa. Potencialmente, diz, é um indicativo de que a recuperação poderá ser acelerada, se houver uma melhora na saúde pública. A seguir, trechos da entrevista.

Como o sr. avalia o resultado do PIB do segundo trimestre?

O resultado foi terrível, totalmente sem precedentes em relação às séries estatísticas que temos. Veio pior do que se imaginava. Nós, do Ibre, trabalhávamos com uma queda de 8,8% e o mercado, com algo mais perto de 9%. Os 9,7% foram piores do que se esperava. Nesse sentido, foi o insulto em cima da injúria.

Com esse resultado, qual é sua projeção para o ano?

Eu estava mais otimista, trabalhando com uma queda de 4,5% no ano. Agora, projeto queda de 5%. A revisão do PIB do primeiro trimestre, de -1,5% para -2,5%, foi uma notícia adicional ruim. Essa crise é diferente de outras, com o desemprego muito alto, o consumo das famílias muito reprimido. Particularmente, com as pessoas dentro de casa, sem sair para ir a restaurantes, shows. Um dado que me chamou bastante a atenção foi a alta da poupança. A poupança subiu porque o consumo caiu mais do que a renda. Isso se observa muito claramente na Europa e nos Estados Unidos. Com as transferências de rendas e tudo mais, as pessoas não consumiram. O que mostra que o consumo não ocorreu porque faltou renda.

O fato de a taxa de poupança ter aumentado é um sinal positivo?

Potencialmente, sim, porque significa que as pessoas têm recursos para consumir no futuro. Isso poderá acelerar a recuperação. As pessoas estão começando a comprar imóveis, por exemplo. Se houver uma melhora na saúde pública, as pessoas têm recursos para sair consumindo.

Na sua avaliação, está ocorrendo, de fato, uma recuperação nos últimos meses?

Sim, melhorou a expectativa do mercado porque o auxílio emergencial, que inicialmente ia até junho, teve mais duas parcelas. Agora foi estendido até o fim do ano, com R$ 300.

O sr. acredita que o PIB do terceiro trimestre virá forte em relação ao segundo?

Sim. Gostaria de enfatizar que tudo isso está condicionado à pandemia. Se houver uma segunda onda, pode piorar. Mas, se houver uma vacina, vai ter um boom. Acredito que no terceiro trimestre a economia deve crescer na faixa de 6% em comparação com o segundo.

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