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Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2010 às 10h07.
PARIS/LONDRES (Reuters) - Políticos franceses e britânicos ofereceram apoio nesta sexta-feira ao plano do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de restringir o tamanho dos bancos e a sua exposição a riscos, em uma iniciativa que atordoou os mercados e que pode reescrever a ordem financeira global.
O plano impediria que bancos ou instituições financeiras que possuem bancos de deter, financiar ou investir em um hedge fund ou um fundo de private equity.
Isso estabeleceria um novo limite de tamanho aos bancos em relação ao sistema financeiro como um todo. Talvez de forma mais dramática, o plano também pode proibir que as instituições façam operações para ganhos diretos no mercado e sem relação com o serviço aos clientes.
O "proprietary trading" consiste no investimento com o próprio dinheiro das instituições financeiras e tem sido a fonte dos enormes lucros antes e depois da crise financeira global.
A ministra da Economia francesa, Christine Lagarde, deu boas-vindas à proposta, dizendo que ela é um "passo a frente muito, muito bom".
"Eles veem que a regulação, que era um tabu, uma palavra difícil de usar nos círculos financeiros dos Estados Unidos, é vital para conter e limitar os excessos bancários", disse ela.
A oposição conservadora britânica -- que, segundo pesquisas de opinião, deve tomar o poder nas eleições em junho -- também expressou apoio, em contraposição aos seus colegas conservadores republicanos nos EUA.
O porta-voz financeiro do Partido Conservador da Grã-Bretanha, George Osborne, disse que há um consenso internacional emergente para forçar os bancos a separar suas divisões de varejo e de propriedade.
"O presidente Obama criou muito espaço para que o resto do mundo crie o que eu penso ser um sistema sensato de regras internacionais", disse ele à rádio BBC.
As dúvidas continuam sobre se o plano de Obama será implementado sem mudanças, ainda mais após o Partido Democrata ter perdido um assento fundamental no Senado nesta semana, acabando com a sua "supermaioria" na Casa.
Contudo, o plano também pode ser popular.
A volta do pagamento de bônus polpudos pelos bancos irritou o público e a mídia nos Estados Unidos e na Europa, após o dinheiro do contribuinte ter sido usado para tirá-los da crise.
O Goldman Sachs disse nesta quinta-feira que reduziria a compensação média por funcionário para 498 mil dólares.
O que é certo é que Washington terá de conseguir apoio internacional para as suas medidas, ou correrá o risco de ver os bancos internacionais saírem do pais.
Wall Street teve uma forte baixa na quinta-feira depois do anúncio dos planos, e a onda de venda se espalhou para os mercados asiáticos e europeus.
AINDA DE ACORDO?
O porta-voz dos conservadores britânicos fez alusão aos perigos de agir sozinho.
"Eu não quero fazer coisas que danifiquem Londres de forma unilateral, ou que danifiquem os bancos britânicos de forma unilateral", disse ele.
"Se nós precisarmos de novas regras, elas precisam ser acordadas internacionalmente, e eu acho que a reunião do G20 na Coreia do Sul dentro de alguns meses é um bom lugar para tentar planejar essas regras."
Em setembro, uma reunião de líderes do G20 pediu a redução dos bônus e o aumento das bases de capital dos bancos.
Mas apesar de ainda existir a intenção internacional para coibir os excessos dos bancos, centros diferentes estão cada vez mais procurando caminhos diferentes.
Na semana passada, após Obama ter proposto que os bancos de Wall Street paguem uma taxa de até 117 bilhões de dólares para reembolsar os contribuintes norte-americanos que os salvaram da crise, britânicos, franceses e alemães elogiaram a ideia, mas sugeriram que eles têm seus próprios planos e que não fariam o mesmo.
A Grã-Bretanha e a França planejam um imposto de 50 por cento sobre os bônus dos bancos, e o governo alemão indicou que sob o seu plano "bad bank", os bancos pagam uma taxa por garantias para ativos ruins.
Da mesma forma, o Fundo Monetário Internacional (FMI) tem a tarefa de encontrar uma taxa global sobre transações financeiras, originalmente proposta pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, na conferência do G20 no final do ano passado. O governo norte-americano é contra isso.