PIB estagnado obriga Dilma a andar no fio da navalha
A economia, e não a política, confirma-se como o foco principal da atenção presidencial, e condição de popularidade
Da Redação
Publicado em 6 de dezembro de 2011 às 20h09.
São Paulo - O resultado do PIB, que mostrou estagnação do país no terceiro trimestre de 2011, além de já esperado, pode não ser uma notícia tão grave para a presidente Dilma Rousseff como parece.
Afinal, um crescimento de 3 por cento num ano tão conturbado na economia global, por mais que seja inferior ao dos demais países do grupo Bric (Rússia, Índia e China), não pode ser desprezado.
A paralisação do crescimento indica, porém, que a presidente terá de caminhar no fio da navalha para não perder popularidade nem abalar sua sustentação no Congresso. A economia, e não a política, confirma-se como o foco principal da atenção presidencial.
Bons os números do IBGE não são, é claro. Mas eram previsíveis. Com o aperto da política monetária, iniciado em janeiro, quando o Banco Central elevou a taxa de juros em 0,5 ponto percentual, e mantido até julho --para iniciar um ciclo de baixa da Selic em agosto--, era de se esperar um freio na economia.
Foi o preço que Dilma teve de pagar por sua própria eleição. No ano passado, o país cresceu ao ritmo de 7,5 por cento, impulsionado principalmente pelo aumento do consumo, incentivado pela expansão do crédito. Visto que os investimentos não acompanharam o mesmo ritmo, a alta da inflação era quase certa, assim como o consequente arrocho monetário.
Conforme observou o ministro Guido Mantega, a piora no cenário externo, com a Europa chafurdando em suas dívidas, foi o dado inesperado da equação. Apesar da tranquilidade aparente -"temos controle da situação", disse o ministro da Fazenda-, as perspectivas para o país e para a presidente não são exatamente serenas.
Um dado de fundamental importância, tanto para a política quanto para a economia, é a queda na demanda interna, em especial o consumo das famílias. Na comparação com o segundo trimestre, essa componente do PIB teve pequena retração de 0,1 por cento entre agosto e outubro.
Foi o primeiro resultado negativo desde o quarto trimestre de 2008, quando a redução foi de 1,9 por cento em relação aos três meses imediatamente anteriores. Na comparação com o mesmo período de 2010, o número ainda é positivo, 2,8%, mas em desaceleração. No segundo trimestre o crescimento havia sido de 5,6 por cento, e no anterior, de 6 por cento.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi otimista na análise divulgada por meio de nota à imprensa. A demanda doméstica "continua sendo o principal suporte da economia", disse ele, mencionando o crescimento acumulado de 5,4 por cento do consumo das famílias nos últimos 12 meses.
Tanto Tombini quanto Mantega indicaram que é nesse componente, ao lado do incentivo à produção, que o governo pretende intervir com vigor, com novas medidas de incentivo à expansão do crédito ao consumidor. Resta ver se será suficiente.
Ao mesmo tempo, para dar espaço para o Banco Central manter o ciclo de redução da taxa de juros, o governo Dilma precisará conter a expansão dos gastos públicos. O governo precisa evitar uma retomada da inflação, que segue batendo no teto da meta anual.
Depois das medidas de estimulo fiscal a alguns setores da indústria, tomadas pelo Ministério da Fazenda na semana passada, o mercado mostrou que não está tão convicto de que o atual tendência de baixa da Selic vai se manter forte ao longo do ano que vem.
Despesas públicas e políticas
Segurar as despesas públicas, porém, não é um ato apenas administrativo. Até porque, como não pode paralisar investimentos públicos e não tem muito espaço para reduzir o custeio da máquina pública, Dilma tem apoiado a contenção de gastos no corte de emendas dos parlamentares ao Orçamento Geral da União.
É aí que mora o perigo para a sua relação com o Congresso. No projeto de Orçamento do ano que vem, deputados e senadores aumentaram a previsão de receitas da União em 26 bilhões de reais. Esse é o montante de novas despesas que os parlamentares esperam incluir na peça orçamentária. É também sobre ele que a presidente agirá para cortar gastos -ou ao menos impedir uma expansão considerável.
Por mais que não dê muita bola para as reclamações no Congresso, Dilma não pode simplesmente ignorar a política. Ainda restarão na pauta temas importantes para o governo a serem aprovados no ano que vem, como o fundo de previdência complementar para os servidores públicos.
A criação do Funpresp, apesar de não ter impacto positivo imediato sobre o déficit da previdência pública, seria uma sinalização importante de compromisso do governo com o equilíbrio de suas contas.
Assim, a tão falada reforma ministerial, que já se prenunciava muito aquém de uma mudança estrutural na administração e na relação com os aliados, deve se confirmar como apenas um rearranjo.
Dilma não tem razões nem espaço agora para mudar o modelo político montado por Lula e mantido por ela em seu primeiro ano de mandato. Ou seja, ocupação de ministérios e de seus principais cargos deve continuar sendo sua principal moeda de troca por apoio político.
Claro, sempre que necessário aprovar algo mais delicado, a presidente poderá abrir um pouco as torneiras que irrigam as bases eleitorais dos parlamentares.
A necessidade de caminhar no fio da navalha política indica, no entanto, que a agenda do governo no Congresso, a exemplo do que ocorreu em 2011, deve ser restrita ao mínimo necessário.
São Paulo - O resultado do PIB, que mostrou estagnação do país no terceiro trimestre de 2011, além de já esperado, pode não ser uma notícia tão grave para a presidente Dilma Rousseff como parece.
Afinal, um crescimento de 3 por cento num ano tão conturbado na economia global, por mais que seja inferior ao dos demais países do grupo Bric (Rússia, Índia e China), não pode ser desprezado.
A paralisação do crescimento indica, porém, que a presidente terá de caminhar no fio da navalha para não perder popularidade nem abalar sua sustentação no Congresso. A economia, e não a política, confirma-se como o foco principal da atenção presidencial.
Bons os números do IBGE não são, é claro. Mas eram previsíveis. Com o aperto da política monetária, iniciado em janeiro, quando o Banco Central elevou a taxa de juros em 0,5 ponto percentual, e mantido até julho --para iniciar um ciclo de baixa da Selic em agosto--, era de se esperar um freio na economia.
Foi o preço que Dilma teve de pagar por sua própria eleição. No ano passado, o país cresceu ao ritmo de 7,5 por cento, impulsionado principalmente pelo aumento do consumo, incentivado pela expansão do crédito. Visto que os investimentos não acompanharam o mesmo ritmo, a alta da inflação era quase certa, assim como o consequente arrocho monetário.
Conforme observou o ministro Guido Mantega, a piora no cenário externo, com a Europa chafurdando em suas dívidas, foi o dado inesperado da equação. Apesar da tranquilidade aparente -"temos controle da situação", disse o ministro da Fazenda-, as perspectivas para o país e para a presidente não são exatamente serenas.
Um dado de fundamental importância, tanto para a política quanto para a economia, é a queda na demanda interna, em especial o consumo das famílias. Na comparação com o segundo trimestre, essa componente do PIB teve pequena retração de 0,1 por cento entre agosto e outubro.
Foi o primeiro resultado negativo desde o quarto trimestre de 2008, quando a redução foi de 1,9 por cento em relação aos três meses imediatamente anteriores. Na comparação com o mesmo período de 2010, o número ainda é positivo, 2,8%, mas em desaceleração. No segundo trimestre o crescimento havia sido de 5,6 por cento, e no anterior, de 6 por cento.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi otimista na análise divulgada por meio de nota à imprensa. A demanda doméstica "continua sendo o principal suporte da economia", disse ele, mencionando o crescimento acumulado de 5,4 por cento do consumo das famílias nos últimos 12 meses.
Tanto Tombini quanto Mantega indicaram que é nesse componente, ao lado do incentivo à produção, que o governo pretende intervir com vigor, com novas medidas de incentivo à expansão do crédito ao consumidor. Resta ver se será suficiente.
Ao mesmo tempo, para dar espaço para o Banco Central manter o ciclo de redução da taxa de juros, o governo Dilma precisará conter a expansão dos gastos públicos. O governo precisa evitar uma retomada da inflação, que segue batendo no teto da meta anual.
Depois das medidas de estimulo fiscal a alguns setores da indústria, tomadas pelo Ministério da Fazenda na semana passada, o mercado mostrou que não está tão convicto de que o atual tendência de baixa da Selic vai se manter forte ao longo do ano que vem.
Despesas públicas e políticas
Segurar as despesas públicas, porém, não é um ato apenas administrativo. Até porque, como não pode paralisar investimentos públicos e não tem muito espaço para reduzir o custeio da máquina pública, Dilma tem apoiado a contenção de gastos no corte de emendas dos parlamentares ao Orçamento Geral da União.
É aí que mora o perigo para a sua relação com o Congresso. No projeto de Orçamento do ano que vem, deputados e senadores aumentaram a previsão de receitas da União em 26 bilhões de reais. Esse é o montante de novas despesas que os parlamentares esperam incluir na peça orçamentária. É também sobre ele que a presidente agirá para cortar gastos -ou ao menos impedir uma expansão considerável.
Por mais que não dê muita bola para as reclamações no Congresso, Dilma não pode simplesmente ignorar a política. Ainda restarão na pauta temas importantes para o governo a serem aprovados no ano que vem, como o fundo de previdência complementar para os servidores públicos.
A criação do Funpresp, apesar de não ter impacto positivo imediato sobre o déficit da previdência pública, seria uma sinalização importante de compromisso do governo com o equilíbrio de suas contas.
Assim, a tão falada reforma ministerial, que já se prenunciava muito aquém de uma mudança estrutural na administração e na relação com os aliados, deve se confirmar como apenas um rearranjo.
Dilma não tem razões nem espaço agora para mudar o modelo político montado por Lula e mantido por ela em seu primeiro ano de mandato. Ou seja, ocupação de ministérios e de seus principais cargos deve continuar sendo sua principal moeda de troca por apoio político.
Claro, sempre que necessário aprovar algo mais delicado, a presidente poderá abrir um pouco as torneiras que irrigam as bases eleitorais dos parlamentares.
A necessidade de caminhar no fio da navalha política indica, no entanto, que a agenda do governo no Congresso, a exemplo do que ocorreu em 2011, deve ser restrita ao mínimo necessário.