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PIB brasileiro vai encolher 0,5% neste ano, afirma Barclays

Forte desaceleração da economia permitirá que BC corte juros para 9,50% ao ano em julho

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 4 de março de 2009 às 10h18.

Orgulhoso da solidez com que vem enfrentado a crise mundial, o Brasil pode encerrar 2009 ao lado das nações desenvolvidas em um quesito incômodo - o da retração econômica. O banco britânico de investimentos Barclays Capital estima que o PIB do país pode encolher 0,5% neste ano, contrariando a maior parte das expectativas do mercado e do governo. No último final de semana, durante um encontro de autoridades monetárias e financeiras em Portugal, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mostrou confiança ao afirmar que o Brasil crescerá acima da média mundial neste ano. O último relatório Focus, do BC, mostra que, na média, as instituições financeiras consultadas projetam uma expansão de 1,5% do PIB para 2009.

O Barclays, no entanto, não vê motivos para otimismo. Em relatório assinados pelos analistas Donato Guarino, Paulo Mateus, Rogério Oliveira, Mauro Roca e Rodrigo Valdes, o banco diz que a economia mundial vai encolher 0,6% neste ano e que o Brasil será fortemente afetado pela freada do mercado interno. A primeira trava será o aumento do desemprego. Depois de quase uma década de geração líquida de empregos (contratações menos demissões), o país deve viver um grande fechamento de postos de trabalho. Com isso, o Barclays estima que a taxa de desemprego fique acima de 10% no final do ano. As projeções do BC variam de 7% a 8,5%.

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Outro fator para conter a economia será a escassez de crédito para o consumo. Nos últimos anos, o país conheceu uma explosão de crédito, beneficiando desde o mercado imobiliário até o consumo de bens duráveis, como automóveis. Mas os cofres dos bancos deverão permanecer fechados neste ano, o que prejudicará os setores mais dependentes de financiamento. "Neste cenário, os salários serão compelidos à desaceleração, apesar do reajuste do mínimo, implicando que o forte aumento real da renda, visto nos últimos anos, vai enfraquecer. Isso, acompanhado pela contração do crédito, vai deteriorar o consumo privado", afirma o relatório. No cenário básico do Barclays, a demanda interna deve cair 1,4%.

Variação trimestral

Para o banco, a economia brasileira deve recuar 1% no primeiro trimestre. O setor de serviços ainda deve apresentar um desempenho positivo. A agricultura também pode dar "alguma contribuição", mas o resultado geral será prejudicado pela retração da produção industrial. No segundo trimestre, o Barclays não espera nenhum crescimento do PIB. Já no segundo semestre, o desempenho deve ser fraco.

Para 2010, as perspectivas são de uma expansão de 3,1%, abaixo dos 3,5% apresentados pelo último relatório Focus do BC. O consumo interno pode crescer 3%. Os investimentos em capital fixo, que devem cair 8% em 2009, podem encerrar 2010 com alta de 4,5%.

A retração da economia deve refletir no comportamento da inflação. O Barclays também estima que a queda dos preços internacionais das commodities deve compensar a alta do dólar, levando a uma influência moderada do câmbio sobre os preços. Por isso, o banco espera uma inflação de 3,8% neste ano - abaixo dos 4,5% do centro da meta do BC, e inferior aos 5,9% acumulados em 2008.

A guinada econômica e os preços sob controle levam o Barclays a apostar em um corte agressivo da taxa básica de juros (Selic). Atualmente, a Selic está em 12,75% ao ano. O banco aposta em dois cortes de um ponto percentual, em março e abril, um corte de 0,75 ponto em junho, e de 0,5 ponto em julho. Com isso, a taxa cairia para 9,50%. Este seria o patamar em que permaneceria pelo resto do ano.

Cenário negativo

O panorama de retração traçado pelo Barclays coloca o Brasil no mesmo caminho dos países que estão no centro da crise mundial. A Comissão Européia, por exemplo, estima que os 16 países que compartilham a mesma moeda - o euro - devam apresentar uma retração média de 1,9% neste ano. A expectativa é mais pessimista que a elaborada pela OCDE em novembro, que apontava um recuo de 0,6% para a região.

Já os Estados Unidos, cujo estouro da bolha imobiliária serviu de estopim para a crise mundial, devem encolher de 2% a 2,5%, conforme o oráculo de plantão. Em meados de fevereiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) admitiu que pode rebaixar a previsão de crescimento mundial deste ano, diante da deterioração da economia. O FMI estima, por enquanto, que o PIB mundial vá crescer 0,5% em 2009. A revisão deve ocorrer em maio, e o fundo já admite cortar a previsão para zero.

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