Guedes pede que servidores abram mão de aumento salarial por dois anos
O ministro da Economia voltou a defender a reforma administrativa, na qual deverá ser reduzido o número de categorias de servidores a serem contratados
Natália Flach
Publicado em 20 de abril de 2020 às 19h03.
Última atualização em 22 de abril de 2020 às 10h46.
Paulo Guedes, ministro da Economia, está otimista. "Vai dar tudo certo", disse em entrevista transmitida ao vivo pela internet, feito pelo BTG Pactual Digital. Isso porque não houve queda das exportações para a China. "Desde dezembro, sabemos que havia um problema de saúde na China, mas estávamos acompanhando principalmente o impacto econômico. Não sabíamos que seria uma pandemia. Até o momento não está havendo queda das exportações."
“As exportações brasileiras não caíram ainda, estão subindo. A queda para Europa foi de 1%. Para os Estados Unidos, caíram mais de 30%. Para Argentina, também foi uma queda de mais de 30%. Mas a queda foi compensada pelo aumento acelerado adivinha para quem? Para a China.”
Guedes diz que são duas ondas: a primeira de saúde e de economia, e que as duas precisam ser acompanhadas concomitantemente para o Brasil não entrar em depressão. "A nossa volta pode ser em V, temos capacidade de reagir novamente. Vamos surpreender de novo o mundo."
Segundo o ministro, o crescimento do ano passado deve ser reajustado para cima. "Na margem, [o produto interno bruto] deve ter subido 1,7% e integralmente, 1,3%", afirma. "Além disso, em janeiro tivemos a melhor arrecadação da história e em fevereiro houve a segunda melhor. O Brasil estava decolando."
Guedes afirma que a construção civil estava crescendo a dois dígitos, assim como o crédito privado.
Já as medidas tomadas pelo Brasil para reduzir a pandemia estão iguais ou à frente dos demais países. A Índia incluiu social, financeira e digitalmente 230 milhões de indianos. Proporcionalmente, o Brasil fez mais: 60 milhões de brasileiros serão incluídos. "Em nenhum momento, haverá um descaso com a saúde; só que precisa olhar o outro lado também: a economia", afirmou.
O ministro lembra que o presidente Jair Bolsonaro disse que são duas ondas. "A primeira onda é da saúde. E tem a segunda da economia. Temos que trabalhar as duas ondas. Não podemos deixar virar uma grande depressão. Temos que ter todos os cuidados para salvar vidas. Mas devemos preservar os sinais vitais da economia. É como um urso hibernando. Quando ele sai da caverna, ele sai forte e sai para caçar e vai celebrar. Ele não perdeu os sinais vitais, mas economizou energia."
Ele disse que nenhum brasileiro pode ficar para trás. "Não é hora de desentendimento entre os brasileiros, há vidas estão em jogo. E vamos sair do lado de lá da margem do rio. Preservar os sinais vitais da economia não significa sair agora do isolamento, isso é ponto futuro. Na China está acontecendo, e a Alemanha e os Estados Unidos estão pensando nisso também."
Ao todo, o governo vai disponibilizar 700 bilhões de reais. Cerca de 500 bilhões de reaisvirão de receitas que o governo iria receber e que foram adiadas e de linhas de crédito disponibilizadas. Além disso, anunciou 100 bilhões de reais para auxílio para informais, mais 51 bilhões de reais para complementação salarial e 34 bilhões de reais para folha de pagamento salarial - e o governo fica com 85% do risco, mas protege empregos e empresas. "Também estamos criando programa de microcrédito e fazendo consórcio de bancos para salvar setores brasileiros com debêntures conversíveis."
"Tínhamos três torres a derrubar. A Previdência foi a primeira a cair e os juros também caíram. Só falta o funcionalismo público que não pode continuar subindo assim. Será que o funcionalismo público pode ajudar? Ficar sem receber aumento neste ano e no ano que vem? Não vamos tirar o poder de compra de ninguém, mas vamos fazer um favor aos brasileiros e ficar sem pedir aumento por dois anos? Será que é possível?"
Segundo o ministro, o salário do funcionalismo cresceu 50% acima da inflação 17 anos seguidos, e ele voltou a defender sua reforma administrativa, na qual deverá ser reduzido o número de categorias de servidores a serem contratados. O fim da estabilidade para os novos contratados também deve entrar na pauta.
"Muita gente chegou a pedir queda de 25% do salário, redução da jornada já que muita gente ia ficar em casa. O funcionário está em casa em isolamento. Poderia muito bem declarar redução de jornada de 30% e redução de 30% de salário? Mas não é o que pedimos. Num momento de deflação, decidimos não tirar o poder de compra.”
Para Guedes, o que vai tirar o Brasil do vale do "V" é a volta dos investimento: "não é razoável que a oitava economia do mundo seja o 106o país mais fácil para fazer negócios no mundo. A nossa saída da crise será com investimentos, com reforma tributária, com respostas privadas para problemas públicos. Assim que tivermos sinais de saída do isolamento social, vamos conversar com o Congresso para aprovar medidas de saneamento e de independência do Banco Central. Vamos criar um bom ambiente". "Não quero vender sonhos, mas o mundo estava em desaceleração e o Brasil em recuperação. Não podemos nos esquecer disso. Até agora o efeito externo foi nulo, ganhamos exportação em agronegócio e mineração. Não veio o coice externo", disse.
O ministro diz que não sentiu que a economia foi desorganizada, de tal modo que impeça uma recuperação rápida. "Os sinais vitais ainda estão preservados, mas a coisa está ficando crítica - não sabemos quanto tempo segue a pandemia. Será que a economia aguenta mais dois meses (maio e junho) com isolamento? Eu não sei. O novo ministro disse que vai se basear em dados e testes para estudar uma saída programada."
Perguntado sobre a possibilidade de no futuro ter de aumentar impostos, Guedes que essa não será a saída. "O Brasil tem impostos demais, é um manicômio de impostos. Precisamos desmobilizar ativos. O nosso escape será por investimentos privados."
Sobre ventiladores, a previsão era fabricar 1.500 por mês. "Estamos em 2.400. Se sobrar ventilador, não tem problema. É melhor sobrar do que faltar."
Focus
Com o avanço da pandemia de coronavírus e a ameaça real de retração global, a expectativa de evolução da economia brasileira em 2020 caiu mais uma vez, de queda de 1,96% para recuo de 2,96%, conforme o Relatório de Mercado Focus divulgado nesta segunda-feira, 20, pelo Banco Central. Há quatro semanas, a estimativa era de crescimento de 1,48%.
Para 2021, o mercado financeiro prevê alta do Produto Interno Bruto (PIB) , de 3,10%, ante 2,70% na semana anterior. Quatro semanas atrás, estava em 2,50%.
No Focus agora divulgado, a projeção para a queda da produção industrial de 2020 passou de 1,42% para 2,25%. Há um mês, estava em alta de 1,00%. No caso de 2021, a estimativa de crescimento da produção industrial passou de 2,95% para 2,90%. Era 2,50% quatro semanas antes.