Para especialistas, 'Brasil Maior' não resolve dificuldades estruturais do setor
Avaliação é de que o plano é positivo, mas insuficiente diante da conjuntura
Da Redação
Publicado em 7 de agosto de 2011 às 09h03.
Brasília – Apesar de ser a iniciativa mais importante dos últimos anos para defender a indústria nacional, o Plano Brasil Maior, lançado na última semana, é ineficaz para resolver os problemas estruturais que inibem os investimentos do setor. Para especialistas, os estímulos anunciados ajudam, mas são insuficientes para fazer a indústria nacional superar a combinação de juros altos e dólar barato.
O professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Reinaldo Gonçalves adverte que a nova política industrial corre o risco de ser inócua porque as principais dificuldades do setor têm origem na política macroeconômica. “A ideia de fortalecer a indústria nacional é positiva, mas não adianta dar subsídio fiscal e incentivos se o Brasil continua com uma das maiores taxas de juros do planeta”, avalia.
A atual política macroeconômica, na avaliação do professor, tem acarretado um efeito colateral sobre a indústria brasileira na avaliação do professor. “Esse tripé de câmbio flexível, juros altos e superávit primário [economia para pagar os juros da dívida pública] provoca uma trajetória que desestimula o investimento industrial”, acrescenta.
Essa combinação, diz Gonçalves, tem contribuído para que a economia brasileira fique cada vez mais dependente de produtos primários (bens agrícolas e minerais). “Para desenvolver a indústria, são necessárias mudanças estruturais que desloquem a fronteira de produção e tire o viés dos setores primários”, critica.
Professor da Fundação Getulio Vargas e pesquisador do Brookings Institution, em Washington, Carlos Pereira tem uma avaliação mais otimista sobre a nova política industrial. Segundo ele, o anúncio de medidas concretas, como desoneração da folha de pagamentos de alguns setores e da compra de bens de capital (máquinas e equipamentos usados na produção), representa um avanço em relação às políticas industriais anteriores, baseadas em intenções e metas vagas.
“A iniciativa tem de ser elogiada porque abre um novo flanco na defesa da indústria brasileira. Até agora, o governo estava apenas emprestando dinheiro do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para estimular as grandes empresas”, destaca.
O economista, no entanto, admite que o pacote está bem longe de resolver as dificuldades da indústria. “O problema é mais grave. Os fabricantes nacionais têm perdido espaço para os importados e alguns setores enfrentam o risco de desindustrialização”, considera.
Pereira reconhece que as medidas aumentam o protecionismo em relação aos fabricantes nacionais, mas afirma que o Brasil apenas seguiu outros países que recentemente adotaram ações semelhantes: “Não sou adepto do protecionismo a qualquer custo, mas acredito que é bom ter uma indústria nacional pujante e sustentável numa economia globalizada e sujeita a tantas incertezas”.
Ele, no entanto, acredita que os incentivos tenham de ser temporários. “É preciso cuidado para o Brasil não passar sinais errados. Nos últimos anos, o país tem transmitido uma imagem de que está abrindo a economia”, adverte. “Se as medidas forem permanentes, a indústria pode acabar capturando o governo.”
Brasília – Apesar de ser a iniciativa mais importante dos últimos anos para defender a indústria nacional, o Plano Brasil Maior, lançado na última semana, é ineficaz para resolver os problemas estruturais que inibem os investimentos do setor. Para especialistas, os estímulos anunciados ajudam, mas são insuficientes para fazer a indústria nacional superar a combinação de juros altos e dólar barato.
O professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Reinaldo Gonçalves adverte que a nova política industrial corre o risco de ser inócua porque as principais dificuldades do setor têm origem na política macroeconômica. “A ideia de fortalecer a indústria nacional é positiva, mas não adianta dar subsídio fiscal e incentivos se o Brasil continua com uma das maiores taxas de juros do planeta”, avalia.
A atual política macroeconômica, na avaliação do professor, tem acarretado um efeito colateral sobre a indústria brasileira na avaliação do professor. “Esse tripé de câmbio flexível, juros altos e superávit primário [economia para pagar os juros da dívida pública] provoca uma trajetória que desestimula o investimento industrial”, acrescenta.
Essa combinação, diz Gonçalves, tem contribuído para que a economia brasileira fique cada vez mais dependente de produtos primários (bens agrícolas e minerais). “Para desenvolver a indústria, são necessárias mudanças estruturais que desloquem a fronteira de produção e tire o viés dos setores primários”, critica.
Professor da Fundação Getulio Vargas e pesquisador do Brookings Institution, em Washington, Carlos Pereira tem uma avaliação mais otimista sobre a nova política industrial. Segundo ele, o anúncio de medidas concretas, como desoneração da folha de pagamentos de alguns setores e da compra de bens de capital (máquinas e equipamentos usados na produção), representa um avanço em relação às políticas industriais anteriores, baseadas em intenções e metas vagas.
“A iniciativa tem de ser elogiada porque abre um novo flanco na defesa da indústria brasileira. Até agora, o governo estava apenas emprestando dinheiro do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para estimular as grandes empresas”, destaca.
O economista, no entanto, admite que o pacote está bem longe de resolver as dificuldades da indústria. “O problema é mais grave. Os fabricantes nacionais têm perdido espaço para os importados e alguns setores enfrentam o risco de desindustrialização”, considera.
Pereira reconhece que as medidas aumentam o protecionismo em relação aos fabricantes nacionais, mas afirma que o Brasil apenas seguiu outros países que recentemente adotaram ações semelhantes: “Não sou adepto do protecionismo a qualquer custo, mas acredito que é bom ter uma indústria nacional pujante e sustentável numa economia globalizada e sujeita a tantas incertezas”.
Ele, no entanto, acredita que os incentivos tenham de ser temporários. “É preciso cuidado para o Brasil não passar sinais errados. Nos últimos anos, o país tem transmitido uma imagem de que está abrindo a economia”, adverte. “Se as medidas forem permanentes, a indústria pode acabar capturando o governo.”