Países ricos iniciam corrida para novo comando da OCDE
Com a aposentadoria do secretário da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Angel Gurría, governo americano quer indicar seu sucessor
Fabiane Stefano
Publicado em 29 de outubro de 2020 às 08h15.
Última atualização em 29 de outubro de 2020 às 16h08.
A corrida para preencher uma vaga no centro da formulação da política econômica mundial se transforma em um novo campo de batalha para o futuro da globalização.
Angel Gurría se aposenta no próximo ano como secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, com sede em Paris, e o governo de Washington quer indicar Christopher Liddell, vice-chefe de gabinete do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como sucessor.
A OCDE atua como auditora da globalização, definindo políticas e estabelecendo padrões em áreas como tributação, comércio e educação. Atualmente conduz negociações contenciosassobre impostos digitais que estãoà beirade implodir em uma guerra comercial transatlântica. Liddell enfrenta a concorrência de candidatos europeus do outro lado da questão, como a ex-comissária de comércio da União Europeia, Cecilia Malmstrom.
Os países membros têm até 1º de novembro para apresentar um candidato. Na quarta-feira, a Suíça indicou Philipp Hildebrand, da BlackRock, ex-presidente do banco central do país.
“Esta é a organização multilateral mais importante da qual a maioria das pessoas nunca ouviu falar”, disse Daniel F. Runde, vice-presidente sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
A organização foi formalmente fundada em 1961, quando os EUA e o Canadá se juntaram ao que era originalmente um grupo europeu que conduzia o Plano Marshall após a Segunda Guerra Mundial. Embora ainda seja majoritariamente europeu, cresceu até se tornar umfórum global.
Sob a gestão de 15 anos de Gurria, a OCDE se expandiu ainda mais e assumiu um papel mais proativo, principalmente liderando o controle sobreparaísos fiscaisapós a crise financeira e trabalhando mais estreitamente com grandes países que não são membros, como China e Índia.
“Gurría tem sido o artesão de desenvolvimento da OCDE”, disse Françoise Nicolas, pesquisadora sênior do instituto francês de relações internacionais. “Quando chegou, não tinha a mesma aura; era um lugar misterioso e sufocante.”
John Llewelyn, que trabalhou em vários postos na OCDE por quase 20 anos, diz que a chave para a função é um equilíbrio cuidadoso entre pressionar os estados membros e preservar a neutralidade analítica da organização.
“Não é um posto fácil de preencher porque você realmente quer ser um líder intelectual até certo ponto, mas a secretaria tem que ser como o peixe-piloto com a baleia: na frente, mas não muito na frente”, disse Llewelyn.
O substituto de Gurría terá um assento na mesa principal das negociações de política global do G-20, apoiado por uma equipe de mais de 3 mil economistas, advogados e cientistas que operam no Chateau de la Muette, no oeste de Paris.
A decisão final sobre os candidatos será tomada até 1º de março, após entrevistas a portas fechadas e “consultas confidenciais” entre embaixadores junto à OCDE.
- Com a colaboração de Ott Ummelas, Bryce Baschuk, Peter Laca, Eric Martin, Theophilos Argitis, Michael Heath, Jason Scott, Zoe Schneeweiss, Gina Turner e Wei Lu.
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