Os pobres são uma oportunidade, diz consultor indiano

Está na hora de olhar para os pobres como uma oportunidade de negócios e não esperar que eles tenham os mesmos hábitos de consumo da classe média. Esse foi um dos pontos principais da apresentação de C. K. Prahalad, consultor e professor da Faculdade de Administração da Universidade de Michigan, num seminário apresentado nesta terça-feira no Hotel Transamérica, em São Paulo. Autor de "Competindo pelo Futuro" (ed. Campus) e um dos mais respeitados gurus da administração, Prahalad falou durante todo o dia a cerca de 500 executivos.

Indiano radicado nos Estados Unidos, Prahalad estabeleceu diversos paralelos entre a situação da Índia e do Brasil. Em ambos os países há uma grande parcela da população que está fora do mercado consumidor. Na opinião de Prahalad, parte da culpa é das empresas. "Há 3,5 bilhões de pessoas no mundo que vivem com 3 ou 4 dólares por dia", disse o consultor americano. "As grandes multinacionais criam produtos para a classe média de seus países de origem, e não para os mercados emergentes que vão explorar. É preciso criar inovações param lidar com a pobreza. E essas inovações não vão surgir na Alemanha ou nos Estados Unidos."

Apresentando uma série de fotografias feitas por ele mesmo na Índia, durante parte da apresentação Prahalad fugiu aos tradicionais slides recheados de frases-chave. Mostrou a página de internet de um grupo de artesãos do Rajastão, o maior estado indiano, que vendem peças de roupa para todo o mundo pela web. Falou de um banco que se especializou em microcrédito, ou a concessão de emprétimos de baixo valor para populações carentes. Segundo Prahalad, o banco Suvindha fez empréstimos de 10 a 15 dólares. A taxa de inadimplência ficou abaixo de 2% e a operação foi lucrativa. "É preciso pensar nos pobres como um mercado", disse o guru. "Eles não são um problema. São uma oportunidade." Para Prahalad, Índia, China, Brasil, México e Indonésia são os países emergentes com maior potencial de crescimento.

Prahalad também fez a tradicional exposição de idéias de gestão. O tema do evento, promovido pela HSM International e apoiado por EXAME, era A Nova Era da Competição. O consultor indiano apontou a tecnologia como ferramenta indispensável para a sobrevivência no mundo dos negócios de hoje e afirmou que a experiência, hoje, é tão importante quanto os próprios produtos. "Você consegue colocar uma marca numa commodity? Na água, por exemplo?", perguntou Prahalad para a platéia. Apanhou uma garrafa de água mineral da mesa e a ergueu. "Veja, se é possível fazer isso com água, então a energia elétrica, a telefonia, tudo terá marcas, experiências."