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O paradoxo de Jaguariúna

Empresários costumam ser recebidos para reuniões de negócios com aperto de mão, café e água. Em Jaguariúna, na região de Campinas, a água servida nos encontros sai da fonte natural do município -- e, dizem, quem bebe dela sempre volta. A água de Jaguariúna é vendida com o nome Fratelli Vita pela AmBev, que se […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h37.

Empresários costumam ser recebidos para reuniões de negócios com aperto de mão, café e água. Em Jaguariúna, na região de Campinas, a água servida nos encontros sai da fonte natural do município -- e, dizem, quem bebe dela sempre volta. A água de Jaguariúna é vendida com o nome Fratelli Vita pela AmBev, que se instalou no município em 1991, ainda como Antarctica. Não há como validar cientificamente os efeitos mágicos da fonte local, mas o fato é que os executivos voltam com freqüência para assinar contratos. Os copos de água mineral são acompanhados por documentos que garantem benefícios fiscais, como isenção de IPTU e de ISS por até 20 anos. A administração local está de olho no retorno de ICMS, que representa quase 70% da arrecadação. Entre 1994 e 2001, a receita passou de 8 milhões para 47,5 milhões de reais. Jaguariúna é o 38o colocado em arrecadação de ICMS entre os 645 municípios paulistas. Cerca de 150 indústrias estão instaladas na região. A lista das maiores inclui Bic, Delphi e Compaq, além da AmBev. O município é pequeno e pacato. A renda per capita anual é de 6 000 dólares e os moradores cumprimentam estranhos na rua porque assim manda a boa educação.

Jaguariúna encarna o paradoxo das pequenas cidades que conseguem atrair grandes investimentos. Vive no hiato entre o melhor que o interior foi e o melhor que deseja ser, expondo-se às vantagens e aos riscos da globalização. Um levantamento realizado pelo Centro das Indústrias (Ciesp) de Campinas revelou que Jaguariúna é o maior exportador entre os 19 municípios da região. No ano passado, 17 empresas de uma cidade que nem sempre aparece nos mapas exportaram 803,7 milhões de dólares, 1,37% do total nacional, de 58,2 bilhões de dólares. Pesaram, e muito, os negócios de uma única companhia, a Motorola. A unidade local exportou no ano passado 680 milhões de dólares em celulares para países como Estados Unidos, Venezuela, México e Israel. Mas, também no ano passado, a empresa, que fechou 40 000 postos de trabalho no mundo, extinguiu 780 em São Paulo. Novos cortes foram anunciados em junho e podem afetar o emprego de mais gente da região que nunca ouviu falar em crise internacional da telefonia. Muitos dos 33 000 habitantes não fazem a menor idéia de que em sua cidade estão instaladas linhas automatizadas capazes de produzir celulares que saem programados até em hebraico. A fábrica está a 4 quilômetros da entrada da cidade, cercada por um rígido esquema de segurança e por um laranjal de dar inveja a muito fruticultor. As frutas são distribuídas entre os 1 700 funcionários, que moram num raio de 100 quilômetros. A Motorola investiu 210 milhões de dólares para erguer seu Campus Industrial e Tecnológico, sede para sua atuação na América Latina. Segundo Luis Carlos Cornetta, presidente da Motorola do Brasil, o município está num centro geográfico privilegiado, com vantagens que vão do espaço físico à proximidade de centros de pesquisas e de modernas vias de acesso. Essas qualidades ajudam a reduzir custos com mão-de-obra e logística. Asseguram também melhores condições para a importação de componentes, base da produção e dos problemas da Motorola. Enquanto o dólar sobe, crescem os custos da empresa e a saída de dinheiro da região. A balança comercial de Jaguariúna registrou no ano passado um déficit de 59,8 milhões de dólares. Em toda a região de Campinas o saldo negativo foi de 1 bilhão de dólares.

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Empresários costumam ser recebidos para reuniões de negócios com aperto de mão, café e água. Em Jaguariúna, na região de Campinas, a água servida nos encontros sai da fonte natural do município -- e, dizem, quem bebe dela sempre volta. A água de Jaguariúna é vendida com o nome Fratelli Vita pela AmBev, que se instalou no município em 1991, ainda como Antarctica. Não há como validar cientificamente os efeitos mágicos da fonte local, mas o fato é que os executivos voltam com freqüência para assinar contratos. Os copos de água mineral são acompanhados por documentos que garantem benefícios fiscais, como isenção de IPTU e de ISS por até 20 anos. A administração local está de olho no retorno de ICMS, que representa quase 70% da arrecadação. Entre 1994 e 2001, a receita passou de 8 milhões para 47,5 milhões de reais. Jaguariúna é o 38o colocado em arrecadação de ICMS entre os 645 municípios paulistas. Cerca de 150 indústrias estão instaladas na região. A lista das maiores inclui Bic, Delphi e Compaq, além da AmBev. O município é pequeno e pacato. A renda per capita anual é de 6 000 dólares e os moradores cumprimentam estranhos na rua porque assim manda a boa educação.

Jaguariúna encarna o paradoxo das pequenas cidades que conseguem atrair grandes investimentos. Vive no hiato entre o melhor que o interior foi e o melhor que deseja ser, expondo-se às vantagens e aos riscos da globalização. Um levantamento realizado pelo Centro das Indústrias (Ciesp) de Campinas revelou que Jaguariúna é o maior exportador entre os 19 municípios da região. No ano passado, 17 empresas de uma cidade que nem sempre aparece nos mapas exportaram 803,7 milhões de dólares, 1,37% do total nacional, de 58,2 bilhões de dólares. Pesaram, e muito, os negócios de uma única companhia, a Motorola. A unidade local exportou no ano passado 680 milhões de dólares em celulares para países como Estados Unidos, Venezuela, México e Israel. Mas, também no ano passado, a empresa, que fechou 40 000 postos de trabalho no mundo, extinguiu 780 em São Paulo. Novos cortes foram anunciados em junho e podem afetar o emprego de mais gente da região que nunca ouviu falar em crise internacional da telefonia. Muitos dos 33 000 habitantes não fazem a menor idéia de que em sua cidade estão instaladas linhas automatizadas capazes de produzir celulares que saem programados até em hebraico. A fábrica está a 4 quilômetros da entrada da cidade, cercada por um rígido esquema de segurança e por um laranjal de dar inveja a muito fruticultor. As frutas são distribuídas entre os 1 700 funcionários, que moram num raio de 100 quilômetros. A Motorola investiu 210 milhões de dólares para erguer seu Campus Industrial e Tecnológico, sede para sua atuação na América Latina. Segundo Luis Carlos Cornetta, presidente da Motorola do Brasil, o município está num centro geográfico privilegiado, com vantagens que vão do espaço físico à proximidade de centros de pesquisas e de modernas vias de acesso. Essas qualidades ajudam a reduzir custos com mão-de-obra e logística. Asseguram também melhores condições para a importação de componentes, base da produção e dos problemas da Motorola. Enquanto o dólar sobe, crescem os custos da empresa e a saída de dinheiro da região. A balança comercial de Jaguariúna registrou no ano passado um déficit de 59,8 milhões de dólares. Em toda a região de Campinas o saldo negativo foi de 1 bilhão de dólares.

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