Exame Logo

Nova York contra o Citi e o CSFB

Pelo menos dois nomes da lista de instituições financeiras investigadas pelas autoridades americanas por fraude foram conhecidos na semana passada: o Credit Suisse First Boston e o Citigroups Salomon Smith Barney. As duas instituições fazem parte do acordo firmado pelo procurador-geral do estado de Nova York com vários níveis do governo americano, bancos, corretoras e […]

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h06.

Pelo menos dois nomes da lista de instituições financeiras investigadas pelas autoridades americanas por fraude foram conhecidos na semana passada: o Credit Suisse First Boston e o Citigroups Salomon Smith Barney. As duas instituições fazem parte do acordo firmado pelo procurador-geral do estado de Nova York com vários níveis do governo americano, bancos, corretoras e fundos de investimento. O principal objetivo é tornar mais transparente a recomendação de ações de empresas em Wall Street - o maior mercado de capitais do planeta em meio à maior crise de credibilidade da sua história.

Eliot Spitzer, o procurador-geral de Nova York, comanda há um ano e meio investigações na contabilidade e e-mails de grandes instituições financeiras. Descobriu irregularidades cabeludas, contatou os fraudadores e autoridades do governo e conseguiu fechar um mega-acordo: novas regras, mais transparentes, passam a valer a partir de agora. Quem sair da linha paga uma multa de 1,5 bilhão de dólares. Em troca, o governo se compromete a arquivar as atuais acusações contra as instituições investigadas. Não sou nenhuma Pollyana, mas acredito estarmos no caminho certo, diz Spitzer.

Veja também

A unidade do CSFB comandada por Frank Quattrone estava sendo investigada há mais de dois anos pelo governo federal americano. Quattrone é suspeito de favorecer empresas ligadas ao banco recomendando-as a investidores de Wall Street e de ordenar à sua equipe, via e-mail, a destruição de documentos comprometedores, de acordo com uma reportagem publicada pelo jornal americano Wall Street Journal.

Houve confusão quando o governo federal soube que o CSFB de Quattrone fazia parte do acordo de Spitzer - e que ganharia imunidade pelas fraudes cometidas. A briga pela jurisdição das investigações foi abafada por declarações dos dois escritórios - o estadual e o federal - sobre o caso. "Trabalharemos juntos para esclarecer os fatos", afirmaram os procuradores. Apesar do desfile de boas intenções, ainda não está decidido qual deles ficará responsável pelo caso.

O caso do Citigroup é mais notório. Um analista do Citi, chamado Jack Grubman, especialista em telecomunicações, teria aumentado suas recomendações sobre a AT&T a pedido do próprio CEO do Citi, Sanford Weill, interessado em negócios com a AT&T. Em troca, Weill teria ajudado Grubman a matricular suas filhas num dos jardins de infância mais exclusivos de Manhattan. Não é crime nenhum fazer uma análise errada sobre o mercado, diz Spitzer. O problema são os conflitos de interesse, em que as firmas recomendam papéis de corporações com as quais mantêm negócios de outra natureza.

Para solucionar questões como essa, a receita de Spitzer recomenda a construção de uma verdadeira muralha da China dentro das empresas financeiras, separando os departamentos de pesquisa de bancos de investimento, corretoras e afins. É fazer funcionar na prática aquilo que, no papel, já existe.

Já do ponto de vista da transparência da informação de mercado, o acordo prevê que as empresas que fornecem recomendações de compra e venda de ações aos clientes liberem os relatórios para o público em prazos que oscilam de 90 a 120 dias após a publicação original. Tal exigência tem duplo objetivo: além de propiciar uma avaliação da performance dos analistas, ela também serviria para revelar o teor das recomendações e denunciar possíveis conflitos de interesse. Para incrementar ainda mais a transparência nesse setor, Spitzer quer que, além de seus próprios relatórios, as firmas de Wall Street comprem análises de mercado feitas por empresas independentes e as forneçam gratuitamente à clientela.

Outro ponto sensível na cadeia da informação são os e-mails trocados por analistas, gerentes e corretores das corporações. Segundo regras do jogo já aprovadas pelo governo, eles devem ser mantidos pelas empresas como documentos oficiais.

É cedo para saber se tal injeção de ética em Wall Street será suficiente para recuperar a confiança do investidor, arredio desde a eclosão dos escândalos da Enron e da WorldCom em 2001. Há também quem considere Eliot Spitzer, que pertence aos quadros do Partido Democrata e sonha com o governo do estado de Nova York, um demagogo à procura de uma plataforma irresistível para o eleitorado. Mas é inegável que foi graças ao empenho dele que os mamutes de Wall Street concordaram em rever as regras de um jogo viciado e ameaçador.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame