Economia

No Japão, investidores pagam por empréstimos ao governo

A adoção de taxas negativas, anunciada no final de janeiro, arrastou rapidamente o rendimento dos JGBs de 10 anos para o território negativo


	Banco do Japão (BoJ): analistas expressaram preocupação ante a demanda vista antes do leilão
 (Kamoshida/Getty Images)

Banco do Japão (BoJ): analistas expressaram preocupação ante a demanda vista antes do leilão (Kamoshida/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de março de 2016 às 13h49.

Tóquio - O governo japonês está agora sendo pago para pegar dinheiro emprestado, após vender seus títulos de referência com juros negativos pela primeira vez nesta terça-feira.

Hoje, quando o Ministério das Finanças fez uma oferta de títulos de dez anos com rendimento de 0,1% e preço médio de 101,25 ienes, isto produziu um rendimento de -0,24% caso o investidor mantenha o papel até seu vencimento.

Este estranho leilão de Japanese Government Bonds (JGBs, na sigla em inglês) com juros negativos é consequência de três anos de um agressivo relaxamento monetário do Banco do Japão (BoJ, o BC japonês), que vem trabalhando para baixar os juros dos empréstimos numa tentativa de reanimar a economia.

A adoção de taxas negativas, anunciada no final de janeiro, arrastou rapidamente o rendimento dos JGBs de 10 anos para o território negativo, mas ainda não havia feito o mesmo com bônus ofertados já no seu leilão.

Analistas expressaram preocupação ante a demanda vista antes do leilão, e sugeriram que muitos compradores planejam vender seus JGBs para o banco central no curto prazo, em busca de lucro.

A jogada seria feita na expectativa de que os rendimentos continuarão a cair à medida em que o BoJ continua seus cortes nos juros e seu programa de compra de ativos.

Para Shuichi Ohsaki, estrategista-chefe de juros para o Japão do Bank of America Merrill Lynch, o mercado pode ser inundado com posições especulativas do tipo, o que pode resultar em mais volatilidade.

Alguns economistas dizem que a queda dos juros oferece ao governo japonês a oportunidade de expandir estímulos fiscais para reviver sua economia adormecida.

O déficit público no Japão é duas vezes maior do que o tamanho da economia, o que levou o governo a trilhar uma política de cortes de gastos até o momento.

Heizo Takenaka, ex-ministro da Economia e conselheiro do atual primeiro-ministro, Shinzo Abe, disse que o governo deveria preparar um pacote de estímulos de cerca de US$ 50 bilhões ao longo deste ano.

"O governo deve deveria emitir os bônus necessários, uma vez que estamos com taxa de juros zero", disse Takenaka em uma entrevista no final de semana. "A saúde das finanças do governo só pode ser atingida através da saúde da economia".

Muitos economistas e formuladores de políticas argumentam que o nível de endividamento do governo japonês não reflete seu risco financeiro, uma vez que cerca de 90% de sua dívida está na mão de investidores domésticos.

Apesar do anúncio, no final de janeiro, os juros negativos foram implementados apenas em 16 de fevereiro.

Nesta terça-feira, investidores estavam recebendo -0,06% de rendimento por um JGB de 10 anos. Isso significa que, para cada 10 mil ienes emprestados ao BoJ, o investidos precisa pagar outros 6 ienes ao governo. 

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaBancosEmpréstimosFinançasJapãoJurosPaíses ricos

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor