Nenhum país deu certo “se escondendo da globalização”, diz secretário
Marcos Troyjo vê pela primeira vez coerência entre política econômica e comercial e minimiza risco de divergência com a China
João Pedro Caleiro
Publicado em 15 de abril de 2019 às 19h20.
Última atualização em 15 de abril de 2019 às 20h01.
São Paulo – Marcos Troyjo, Secretário Especial de Comércio Exterior e Relações Internacionais do Ministério da Economia , disse nesta segunda-feira (15) que o Brasil precisa “parar de fugir da globalização e fazer inserção competitiva”.
A declaração foi feita em conversa com André Lahoz Mendonça de Barros, diretor editorial do grupo EXAME, para um evento com a VEJA em São Paulo para debater os primeiros 100 dias do governo Bolsonaro .
O secretário disse ser difícil encontrar nas últimas décadas países que deram certo “se escondendo da globalização”, citando exemplos de sucesso como Chile e China.
Sua aposta é que o Brasil, apesar de atrasado no comércio internacional, ainda tem oportunidades de integração pois o mundo não deve ficar para sempre na desglobalização atual, mesmo que não volte para a globalização acelerada vista entre 1989 e 2008.
Ele também não vê risco para a relação brasileira com a China por causa da aproximação com os EUA, que classifica como um reset, acelerado para compensar um afastamento anterior.
Troyjo lembrou também que EUA e China são o maior parceiro comercial e tem o maior fluxo de investimentos nas duas direções. Ele vê as disputas atuais, como a guerra de tarifas, como parte de um “ajuste entre dois gigantes”.
Estratégia
Para impedir que as discussões de integração econômica do Brasil sejam dominadas por interesses corporativos, a ideia é pensar as aproximações de maneira estratégica e de longo prazo.
Um dos caminhos para isso é superar a ideia de "acordos comerciais" e abarcar temas como investimentos e regras mais amigáveis aos negócios; a tentativa de adesão na OCDE visaria esse tipo de alinhamento.
Ele notou que essa foi uma área de divergências internas em governos anteriores, como entre Pedro Malan (Fazenda) e José Serra (Planejamento) no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, mas que na nova estrutura do Ministério da Economia “há uma coesão importante que traz o comércio internacional para o coração da política”.
Em um painel seguinte, Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e ex-embaixador nos Estados Unidos, apontou incoerência entre o discurso do secretário e de outros setores do governo: “Tudo que o Marcos Troyjo disse é perfeito, mas é o contrário do que o Itamaraty diz”.
Ricupero também rebateu uma frase, citada por Troyjo, repetida frequentemente pelo presidente de que o país iria fazer negócios sem viés ideológico.
“Isso é o que ele diz, não é o que ele faz. Na prática ele [Bolsonaro] é um homem totalmente orientado pelo viés ideológico e só se ilude quem quiser”.