Não há nenhuma possibilidade de governo eleito taxar o Pix, diz Haddad
"Temos de ir na direção contrária, garantir cada vez mais desenvolvimento a crédito", afirmou o futuro ministro da Fazenda
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de dezembro de 2022 às 19h00.
O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, garantiu em entrevista à GloboNews no período da tarde desta quarta-feira, 14, que "não há nenhuma possibilidade" de o governo taxar operações do Pix. "Temos de ir na direção contrária, garantir cada vez mais desenvolvimento a crédito", afirmou.
Haddad disse que o ex-secretário da Receita Federal no primeiro ano do governo Bolsonaro, Marco Cintra, queria adotar o imposto único e cogitou tributar o Pix para "morder parte da receita" das transações. "Isso atrapalhou a reforma tributária, ficou se insistindo numa tese tão atrasada do ponto de vista de justiça tributária que parou a reforma, inviabilizou o processo."
Ele argumentou que são necessárias ações em três frentes para viabilizar a mobilidade social: acesso a crédito, educação de qualidade do ensino básico ao superior, e acesso à moradia (reforma agrária e urbana). "O Brasil perdeu e perde ainda várias oportunidades nesta direção, então como vai taxar o Pix? Temos de fazer reformas na direção contrária", disse.
O futuro ministro da Fazenda também qualificou como "absurda" a oferta de crédito consignado aos recursos do Auxílio Brasil e a "espoliação" da população pobre. "Se a gente não prorroga o Auxílio Brasil, a Caixa quebra, porque nenhum banco privado fez (o crédito consignado), mas a Caixa foi mandada fazer. Só que se não tiver Auxílio Brasil, (a Caixa) vai receber de quem?", questionou.
Haddad diz que não trabalhará na Fazenda pensando na próxima eleição
Haddad, disse também que não vai trabalhar na pasta pensando na próxima eleição. "A pior coisa que uma pessoa pode fazer é sentar em uma cadeira pensando na próxima", disse, em entrevista à GloboNews.
Falando acerca seus predecessores no cargo, Haddad elogiou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que comandou a Fazenda no governo de Itamar Franco e foi responsável pela implementação do Plano Real, e Antonio Palocci, primeiro chefe da pasta do primeiro governo Lula.
"Às vezes as pessoas falam que o Fernando Henrique não é economista mas, se não fosse o Fernando Henrique na Fazenda, não sei se aquilo o Plano Real era viável. Tinha de ter autoridade política para propor aquilo", disse ele. "Foi uma combinação muito virtuosa, de Persio (Arida) e André (Lara Resende) e de um ministro da Fazenda que se tornou presidente por mérito próprio."
Sobre Palocci, Haddad disse não considerar que o então ministro agiu de forma equivocada por adotar uma política mais ortodoxa no início do governo Lula, embora tenha ponderado que em um determinado momento uma mudança era necessária. Ele ainda defendeu o segundo mandato de Lula, dizendo que as políticas adotadas de 2007 a 2010 não desfizeram a responsabilidade do mandato anterior. Haddad afirmou que chegou a aconselhar Palocci a acumular reservas cambiais, que depois se provaram úteis.
O futuro ministro disse ainda que sua intimidade com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será um ativo, porque permite que conversem sem cerimônia. Sobre a senadora Simone Tebet (MDB), Haddad disse considerar que ela "tem um papel", que será considerado na composição dos ministérios.
Questionado sobre o clima de conflito no País, especialmente após os protestos violentos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em Brasília, Haddad disse considerar que é necessário afastar o clima antidemocrático. Ele acrescentou considerar que Lula tem condições para fazê-lo.