Não é preciso um muro, imigração latina aos EUA já está caindo
Segundo economistas, os países ao sul dos EUA “atualmente experimentam um crescimento muito mais lento da oferta de mão de obra”
Da Redação
Publicado em 23 de março de 2017 às 16h23.
Washington - As tendências demográficas já estão desacelerando a imigração da América Latina para os EUA, fazendo o desejo do atual governo americano de construir um muro na fronteira parecer “anacrônico”, segundo uma nova pesquisa de economistas da Universidade da Califórnia em San Diego, EUA.
“O dilema que os EUA enfrentam não é tanto a forma de impedir um enorme aumento da oferta de mão de obra estrangeira. Ao contrário, é como se preparar para um futuro com pouca imigração”, escreveram os economistas Gordon Hanson, Chen Liu e Craig McIntosh em trabalho a ser apresentado em uma conferência nesta quinta-feira, na Brookings Institution em Washington.
Os países ao sul dos EUA “atualmente experimentam um crescimento muito mais lento da oferta de mão de obra” e, como resultado, “a imigração futura de mão de obra jovem e de baixa qualificação cairá rapidamente, independentemente da implementação de políticas mais draconianas para controlar a imigração nos EUA”, escreveram os autores.
O presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou a construção do muro que prometeu em campanha para impedir a entrada de imigrantes ilegais do México.
O plano de construir o muro na fronteira sul do país -- que Trump insiste que será pago pelo México -- já provocou um alerta entre os senadores democratas a respeito de um possível fechamento do governo dos EUA.
Entre as demais dinâmicas que reduzem a imigração para os EUA estão o crescimento econômico estável em alguns países do Hemisfério Ocidental, o que ajudou a reduzir sua desigualdade de renda em relação aos EUA.
Além disso, os controles de fronteira foram intensificados. Entre 2000 e 2010, o número de agentes da Patrulha de Fronteira dos EUA que policiam a fronteira EUA-México dobrou para 17.500 oficiais, segundo o estudo.
Robôs trabalhadores
Os autores afirmam que o declínio da oferta de mão de obra com baixa qualificação provavelmente resultará em mais investimentos em automação e em outros dispositivos para economia de mão de obra, com o potencial de substituir permanentemente empregos americanos que seriam preenchidos por estrangeiros.
O impacto “provavelmente será observado mais fortemente em setores que utilizam muita mão de obra imigrante, como agricultura, construção, estabelecimentos que servem alimentos e bebidas e manufatura não-durável”, escreveram os economistas.
Os autores pontuam nos dados que acompanham o estudo que a proporção de trabalhadores estrangeiros mais jovens nos EUA com 12 anos ou menos de escolaridade caiu de 42 por cento em 2000 para 27 por cento em 2015.
Os EUA estariam olhando para trás ao adotarem políticas imigratórias para impedir grandes fluxos de mão de obra e deveriam, em vez disso, focar no gerenciamento da “grande população estabelecida de imigrantes ilegais” que já está nos EUA, segundo os pesquisadores.