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Na guerra comercial, pressa de Trump esbarra na política e no calendário

Negociações comerciais costumam seguir um padrão: quem tem mais paciência geralmente vence - e paciência não é o forte de Trump

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e presidente da China, Xi Jinping, durante cerimônia em Pequim (Thomas Peter/Reuters)

João Pedro Caleiro

Publicado em 16 de fevereiro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 16 de fevereiro de 2019 às 08h00.

Assessores de Donald Trump costumam dizer que o presidente americano gosta de fazer as coisas no tempo dele. Tempo é dinheiro e Trump age com rapidez. Ele quer que os acordos saiam imediatamente. Isso ficou evidente na abordagem dele em relação ao comércio internacional e à China . Mas a realidade implacável do calendário está batendo na porta da Casa Branca.

O plano de forçar a China a aceitar um acordo até 1º de março parece estar afundando. Os dois lados agora contemplam uma prorrogação por 60 dias.

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As conversas com a União Europeia e o Japão para assinatura de outros acordos ainda não começaram e podem não decolar se Trump cumprir a ameaça de impor tarifas sobre veículos importados dessas regiões. O objetivo de longa data de celebrar um pacto comercial com o Reino Unido está paralisado pela incerteza em relação ao Brexit.

E o calendário do próprio Trump está mais apertado. A campanha para a eleição de 2020 está logo ali e aumentará a pressão para que ele entregue os acordos comerciais que prometeu — sendo que a promessa em si diminui seu poder na mesa de negociação.Existem três razões para não se esperar melhora no curto prazo.

Acordos comerciais são difíceis e demoram

A abordagem toda de Trump com a China foi de iniciar uma guerra para depois impor a paz nos termos dele. Até certo ponto, funcionou. As tarifas que ele impôs sobre US$ 250 bilhões em produtos importados da China trouxeram o presidente Xi Jinping para a mesa de negociação.

Mas Trump aparentemente superestimou seu poder nessa conversa. Especialistas afirmam que a lista de exigências dos americanos poderia ser interpretada como um ultimato para o governo chinês “se render ou morrer”.

Há quem diga que somente uma rendição e uma profunda reformulação do modelo econômico chinês podem levar ao relacionamento que os americanos desejam.

Mas a China retaliou e mostrou que tem cartas na manga – como os produtores de soja dos EUA entenderam na marra. O país mostrou que não está disposto a ceder a muitas das exigências da equipe de Trump, como eliminar os subsídios à indústria que são pilar do modelo econômico.

Todo mundo tem calendário político

Em algum momento, todos os mandatos acabam. A disputa pela Casa Branca em 2020 não está longe e o número de presidenciáveis do Partido Democrata cresce rapidamente. Quem se senta do outro lado da mesa de negociação não perde isso de vista.

Trump precisa de vitórias no âmbito comercial ao longo do próximo ano para justificar as tarifas que impôs. Democratas e até correligionários de Trump no Partido Republicano enxergam aí uma potencial vulnerabilidade eleitoral.

Fora dos EUA, os líderes têm seus próprios calendários políticos, o que estreita as possibilidades para assinatura de acordos comerciais neste ano.

Na China, a sessão anual do Congresso Nacional do Povo começa em 5 de março e termina duas semanas depois. É o baile político de Xi, o que limita as opções de seus negociadores e talvez impeça o líder chinês de se encontrar pessoalmente com Trump antes de abril.

Em maio tem eleição ao parlamento da União Europeia, o que por sua vez ajudará a definir quem estará à frente da Comissão Europeia, já que o mandato de cinco anos dos atuais comissários termina no final de outubro.

O Japão tem eleições locais em abril e mais para frente haverá a votação que definirá o controle de uma das câmaras legislativas.

E ninguém sabe o que vai acontecer no Reino Unido.

Economias crescem muito e depois crescem pouco

As negociações comerciais não são isoladas do tempo.

Trump atribuiu a desaceleração da economia chinesa às suas decisões e afirmou que isso dá vantagem aos EUA nas negociações. Mas a atividade econômica oscila e isso pode causar mudanças inesperadas.

O desaquecimento na China abalou resultados de empresas americanas e europeias. Economistas temem o impacto disso na economia global e na própria economia dos EUA, onde o temor de recessão já entrou nas conversas.

O nervosismo nos mercados financeiros alimenta um senso de urgência para que Trump chegue a um acordo com a China. Porém, negociações comerciais costumam seguir um padrão. Quem tem mais paciência geralmente vence. E paciência não é o forte de Trump.

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