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Brasil vive momento inédito de convergência política

Para o cientista político Fernando Abrúcio, país vive a maior coincidência de pautas entre governo e oposição desde a redemocratização

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h25.

À parte as propagandas de televisão e o jogo de cena dirigido por marqueteiros, governo e oposição têm hoje mais pontos em comum do que gostariam de admitir, como o consenso de que se deve combater a inflação e restringir os gastos públicos. Por isso, quem quer que seja o próximo presidente da República, não haverá grandes surpresas nem fortes guinadas na agenda política do país. Segundo o cientista político Fernando Abrúcio, o Brasil vive o momento de maior convergência entre as agendas do governo e da oposição desde a redemocratização, em 1985.

"A agenda de governabilidade é maior que as diferenças partidárias hoje", afirma Abrúcio. Com isso, o mercado tende a permanecer calmo durante o processo sucessório e o próximo governo terá um início bem menos conturbado que o de Lula, em 2003, que assumiu sob o temor de choques heterodoxos na economia.

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O próximo presidente assumirá com uma série de temas já negociados por todos os partidos e que só não foram avante devido à crise política que abateu a base parlamentar de Lula em maio. Entre eles, de acordo com Abrúcio, estão a reforma tributária e a assinatura das primeiras Parcerias Público-Privadas. "A agenda futura está mais próxima do consenso que do dissenso", diz.

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Justamente porque a agenda comum não depende mais de debates partidários, quem conquistar a presidência encontrará condições favoráveis de sustentação. O caso se aplica ao próprio Lula, desgastado pelas denúncias de corrupção em seu governo e paralisado pela crise política no Congresso. "Se Lula ganhar a próxima eleição, será com certeza um presidente fraco, mas não será isolado como o [Fernando] Collor", afirma Abrúcio.

O Congresso também deve ser depurado no próximo ano. O cientista político estima que 70% das cadeiras serão renovadas. A cláusula de barreira regra que obriga os partidos a obter pelo menos 5% dos votos em nove estados da União para conseguir assento na Câmara dificultará a proliferação de legendas de aluguel e tornará o parlamento "menos gelatinoso" na nova legislatura, segundo Abrúcio.

A economia, território em que tradicionalmente naufraga a popularidade de inúmeros governantes, também será uma ajuda e tanto para o futuro ocupante do Planalto. "O próximo presidente encontrará um país espetacularmente melhor. Não tenho dúvidas de que ele começará o governo com robustez macroeconômica", afirma o economista-chefe do Bradesco, Octavio de barros.

O motivo é que o desempenho do país deve continuar razoável em 2006, abrindo caminho para uma transição tranqüila. O economista projeta um crescimento do PIB perto de 4% no ano que vem, com o câmbio chegando a 2,40 reais por dólar em dezembro e desemprego abaixo dos 9,8% com que o país encerrará 2005.

Os especialistas concordam que o país ainda não chegou ao paraíso e há muito trabalho pela frente. A começar pelas reformas microeconômicas, pela reestruturação das políticas sociais, implementação da reforma política e do choque de gestão na máquina pública. Mudar o sistema como o Orçamento Geral da União é elaborado também é uma das recomendações de Abrúcio. "Sem um novo meio de elaborar o orçamento, não teremos planejamento orçamentário sério", diz o cientista político.

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