Economia

Mercado aposta em queda menor da Selic

Para analistas, sinais de recuperação da economia, maiores gastos públicos e inflação sob controle levarão o Copom a baixar os juros em só 1 ponto percentual nesta quarta

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2009 às 10h21.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve adotar uma postura mais moderada na reunião desta semana. As expectativas do mercado convergem para um corte de 1 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), que cairia, assim, dos atuais 11,25% para 10,25% ao ano.

"Há espaço para reduzir mais, mas os últimos cortes foram fortes e o BC deve esperar um pouco para ver o resultado sobre a economia", afirma Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora.

Se a expectativa for confirmada, marcará uma posição mais cautelosa do BC, depois de um início de ano agressivo. Na primeira reunião de 2009, o Copom reduziu a Selic em 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano. A decisão surpreendeu o mercado, cujas projeções se concentravam em um corte de 0,5 a 0,75 ponto.

Em meados de março, no segundo encontro do ano, a autoridade monetária acelerou o passo, diante da grande deterioração de indicadores como a produção industrial. O corte foi de 1,5 ponto percentual - agressivo, mas em linha com as estimativas de mercado.

Para os analistas, o cenário em que se dará o encontro desta semana é mais tranqüilo do que o de março, quando a economia emitia sinais de forte retração e a safra de balanços do quarto trimestre mostravam que as empresas estavam sofrendo pesadas perdas.

Agora, o BC observará, sobretudo, três indicadores. O primeiro é o comportamento da inflação, que dá sinais de se manter comportada. Segundo relatório do Banco Fibra, assinado pelos economistas Maristella Ansanelli e Flávio Martins, "os índices de preços no atacado seguem em deflação e os índices de preços no varejo, em desaceleração".

O banco Fibra projeta um IPCA de 4% para 2009 e de 3,5% para 2010. O IPCA é o índice oficial de inflação, utilizado pelo BC para saber se está cumprindo as metas determinadas pelo Conselho Monetário Nacional. Para este ano, a meta é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

A projeção de inflação do Fibra está ligeiramente abaixo da média de mercado apurada pelo Relatório Focus, do Banco Central - 4,23%, segundo a divulgação da semana passada. O importante, porém, é notar que as projeções vêm caindo seguidamente. Há quatro semanas, o mercado estimava uma inflação de 4,42% para este ano. O número está em queda há sete semanas.

Economia

No campo econômico, alguns dados mostram uma tênue recuperação, segundo os especialistas. "Ao contrário do ambiente da última reunião, nesta, os números trazem alguma reação na margem", afirma o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. Em fevereiro (últimos dados disponíveis), a produção industrial cresceu 1,8% sobre janeiro, segundo o IBGE. Ainda assim, acumula uma queda de 17% sobre fevereiro do ano passado.

Informações mais recentes também permitem aos economistas supor que o país está reagindo. Um dos principais termômetros da economia, a venda de automóveis novos, voltou a crescer em março, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

No mês passado, foram emplacados 260.959 automóveis, entre veículos de passeio e utilitários leves. O volume foi 36% maior que o de fevereiro e superou as estimativas dos próprios revendedores. "A parte mais forte do ajuste já ocorreu", afirma Rosa, da Sul América.

Situação fiscal

A maior parte dos analistas também elogia as medidas adotadas pelo governo para combater a crise com uma política anticíclica. Entre elas, estão a redução da meta de superávit primário de 2009, liberando a Petrobras, por exemplo, para realizar pesados investimentos no setor petrolífero, e a renúncia fiscal por meio de redução de alíquotas de impostos (caso dos automóveis e dos eletrodomésticos).

Mas, embora apoiem essas medidas, a maioria dos economistas ressalta que elas têm um custo para a política monetária: restringe o espaço para o corte da taxa de juros. A avaliação reforça a aposta de que o BC reduzirá o passo nesta reunião.

O banco britânico Barclays, por exemplo, afirma que "a política fiscal ativa, com a combinação de medidas setoriais para estimular a produção de maior valor agregado, empréstimos agressivos de bancos públicos e mudanças nas metas fiscais para 2009 também implicam que o espaço para um rápido e considerável afrouxamento está menor".

Cenário externo

A quarta-feira, 29 de abril, em que a nova taxa de juros será divulgada pelo BC coincidirá, também, com a publicação do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre e com a reunião do banco central americano para discutir os juros.

Os economistas, porém, acreditam que não haverá surpresas no front externo capazes de mudar o cenário e levar o Copom a uma decisão diferente da esperada. "Os dados dos Estados Unidos virão fracos, mas não devem afetar o BC", afirma Bandeira, da Ágora.

Já para Rosa, da Sul América, os juros básicos americanos devem continuar no chão, isto é, na faixa de 0% a 0,25% ao ano. "O que o Fed pode fazer é enfatizar algum ponto do programa de recompra de títulos", diz.
 

Banco/Corretora

Previsão

Fibra

100 bps

Modal

100 bps

Barclays

100 bps

LCA

100 bps

Banco Schahin

100 bps

Sul América Investimentos

100 bps

Ágora

100 bps

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Governo aumenta estimativa e deve prever salário mínimo de R$ 1.509 em 2025

Secretário executivo da Fazenda diz que arcabouço fiscal será mantido até 2026 ‘custe o que custar’

Em recado claro, membros do Copom afirmam que podem subir os juros para conter a inflação

Mais na Exame