Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro: a Venezuela se encontra em recessão, após três trimestres de contração do PIB (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2015 às 20h39.
Pequim - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, reuniu-se com executivos de bancos e empresas nesta terça-feira, na China, em busca de apoio financeiro para compensar a queda na receita nacional oriunda do petróleo, no momento em que cresce a expectativa com uma nova desvalorização.
Esta viagem é crítica para o herdeiro político de Hugo Chávez: a Venezuela se encontra em recessão, após três trimestres de contração do PIB; a inflação galopa; e o petróleo, principal produto de exportação e fonte de 96% das divisas que entram no país, está em franca queda.
A aprovação do governo Maduro chega a apenas 22,6%, em meio à escassez de um terço dos produtos básicos e a um ano de eleições legislativas - de acordo com enquete realizada pela consultoria Datanálisis em dezembro passado. Além disso, 86% da população considera negativa a situação do país. Esse percentual, afirma a empresa, inclui até mesmo adeptos do chavismo.
Salva-vidas chinês
Analistas locais acreditam que o presidente tentará ampliar o apoio chinês às finanças venezuelanas. Pequim já concedeu cerca de US$ 42 bilhões em créditos à Venezuela.
Nesta terça, Maduro se reuniu, na capital chinesa, com os presidentes do Banco da China e da petroleira estatal CNPC, relataram fontes do governo venezuelano, consultadas pela AFP. Maduro ainda deve se encontrar com o presidente chinês, Xi Jinping.
"As necessidades de financiamento da Venezuela estão acima de US$ 20 bilhões em 2015", disse à AFP o economista Asdrúbal Oliveros, da consultoria Ecoanalítica.
Oliveros adverte que "a China se manteve cética" quanto a ampliar sua ajuda, "pelo uso e pela transparência, com que esses recursos são administrados, pelo descumprimento venezuelano em relação às exportações de petróleo e pela falta de um plano estruturado de ajuste econômico, claramente necessário na conjuntura atual".
A Venezuela amortiza parte da dívida com petróleo e, segundo dados oficiais, cancelou US$ 24 bilhões do total que lhe foi emprestado.
O economista Francisco Faraco duvida da possibilidade de Maduro conseguir novos recursos, já que o governo chinês vai exigir dele "garantias reais de crédito".
"Muito mais do que o que o Fundo Monetário Internacional exige", frisou, referindo-se às garantias.
O fantasma de outra desvalorização
Na Venezuela, os economistas preveem que o governo poderá recorrer a uma nova desvalorização para aliviar o controle cambial em vigor desde 2003. A última foi em fevereiro de 2013.
Em 30 de dezembro passado, Maduro anunciou um "novo sistema cambial".
Até esta terça-feira, conhecia-se apenas uma modificação, por meio da qual a estatal Petróleos de Venezuela poderá vender as divisas obtidas com exportações em convênios de abastecimento, a taxas cambiais mais altas do que a oficial.
Atualmente, o dólar custa 30 vezes mais no mercado ilegal do que no oficial.
Um aumento do preço do dólar oficial na economia venezuelana pode-se traduzir em alta de preços, devido à dependência do país petroleiro da importação de alimentos e remédios, entre outros itens.
Alguns economistas antecipam que o governo poderá recorrer a medidas impopulares, como um ajuste no preço da gasolina, a mais barata do mundo nesse país com as maiores reservas de cru. Na Venezuela, o litro de gasolina custa US$ 0,015, enquanto uma garrafa de água mineral de um litro sai por US$ 2, no câmbio oficial.
Em sua viagem iniciada pela Rússia, Maduro também se reunirá com representantes de países da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep), na qual a Venezuela defende um corte na produção para afetar os preços da commodity. O país fracassou em sua tentativa anterior, no final de novembro, de promover uma queda na produção do cartel.