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Latinos querem pegar embalo no crescimento da China

Fórum Econômico Mundial diz que empresas da América Latina precisam aprender a encarar crescimento chinês como oportunidade, e não ameaça

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h23.

Apesar de o tema ser América Latina, a China dominou a maior parte das discussões do primeiro dia da reunião do Fórum Econômico Mundial que teve início nesta quarta-feira (05/04) em São Paulo. Uma pesquisa realizada com 50 participantes do evento apontou o gigante asiático como o maior risco à economia da região, o único classificado como "muito alto" em uma lista de ameaças econômicas, sociais, ambientais e geopolíticas. O medo tem com maiores justificativas os avanços dos chineses em crescimento tanto do Produto Interno Bruto - que, segundo o Fundo Monetário Internacional, deve ter taxa de 8,2% em 2006 - quanto da competitividade, tema desta edição brasileira do fórum. De acordo com dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), os latinos têm motivo para tremer: enquanto a China vê a produtividade aumentar entre 8% e 10% ao ano, países como Brasil e México registram altas de 3% e 4%. A solução, concluíram os participantes do fórum, é convencer a América Latina a encarar tamanho fosso de eficiência como oportunidade, aproveitando o enorme mercado consumidor da ordem de 1,3 bilhão de pessoas e os baixos custos de mão-de-obra chinesa.

Pegar embalo no crescimento chinês é a saída proposta por quem acompanha números como o das exportações mundiais de manufaturas: responsável por 1% das vendas externas do setor nos anos 80, hoje a China vende 12% do total que circula no comércio entre países. Em mais de 20 anos, a América Latina não avançou na porcentagem e continua com 4%. "Estamos estagnados. Para que a gente tenha alguma chance, é preciso acordar logo", diz Mauricio Mesquita, economista-sênior do BID. O caminho do despertar, para Mesquita, está no fomento a exportações de produtos de maior valor agregado à China. A opinião é compartilhada por Renato Amorim, secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil-China. "Há espaço para bens de capital, para a indústria de componentes, podemos aumentar as vendas", afirma. Mostra disso, explica Amorim, é o avanço nas compras de produtos brasileiros pelos chineses, que passaram de um valor de 600 milhões de dólares em 1999 para 6 bilhões de dólares em 2005.

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Diretor de programas globais do Instituto Banco Mundial, Daniel Kaufmann indica como exemplo à América Latina seu país natal, o Chile. Reconhecido por pesquisa do Fórum Mundial como o país latino mais competitivo - deixando logo atrás Argentina, Costa Rica e Brasil, nesta ordem - o Chile tem lucrado com as elevações nos preços do cobre, impulsionadas pela demanda chinesa, afirma Kaufmann. E não por sorte. "Os chilenos procuraram cedo fazer acordos com os asiáticos. Eles disseram: ';o Mercosul não é suficiente';", diz o diretor.

Produção latina em solo chinês

Os brasileiros também parecem estar despertando para a necessidade de ver a China como um aliado, e não como inimigo feroz. Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), conta que os exportadores de soja tiveram de aprender como lidar com o gigante depois de encontrarem uma barreira no comércio bilateral. Quem conta a história são os números registrados pela Abiove: de 1999 a 2005, o Brasil viu a exportação de grãos de soja para a China crescer do zero - literalmente - para um volume de 7,158 milhões de toneladas. Já a importação do óleo de soja brasileiro pelos chineses despencou de 939 000 toneladas para 366 000 toneladas nesse mesmo período. O motivo: a China está deixando de comprar produtos do complexo soja de valor agregado, mais caros, para produzi-los dentro de suas próprias fronteiras, o que deve acabar com as vendas de óleo de soja do Brasil para a China em dois ou três anos, segundo Lovatelli. Ao invés de chiar, os exportadores perceberam que a melhor saída seria se unir aos chineses, instalando fábricas justamente em terra asiática. A Bunge, por exemplo, da qual Lovatelli é diretor, mantém atualmente duas unidades por lá, e pretende aumentar esse número se a redução de vendas de óleo de soja continuar. "Perdemos 200 milhões de dólares por ano em receita com a queda", diz o presidente da Abiove.

Se não for possível levar uma fábrica inteira para a Ásia, o embaixador do Brasil nos Estados Unidos Roberto Abdenur, que já  liderou a Embaixada brasileira na China, aconselha às empresas brasileiras promover a terceirização de empregos na China, o que é conhecido como outsourcing. "Temos de aproveitar a habilidade e o custo da mão-de-obra chinesa", diz o diplomata.

Outras ameaças

A pesquisa realizada pelo Fórum, que colocou a China como a maior ameaça à economia dos latinos, também mostrou que os participantes do evento se preocupam com a desigualdade social, os preços do petróleo, as mudanças climáticas e a corrupção. Para o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer, muito mais do que a China, a disparidade de renda é o principal risco comum aos países latinos. "É algo que gera fragmentação no mercado interno e no mercado externo. No mercado interno, dificulta  a governabilidade; no externo, a estabilidade econômica", diz.

Na área de riscos geopolíticos, a pesquisa mostrou que os participantes do Fórum estão mais preocupados com o crime organizado e a corrupção, instabilidade política regional e terrorismo internacional. Quanto aos riscos econômicos, o maior perigo para a América Latina está no crescimento da China, na desigualdade social, nos preços do petróleo, nas crises fiscais, no protecionismo, no déficit gêmeo dos Estados Unidos e nos fundos hedge. Outros apontados foram os riscos sociais (ligados à regulamentação, leis de governança corporativa, propriedade intelectual, doenças mundiais e pandemia) e ambientais (degradação ambiental, mudanças climáticas e desastres naturais).

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