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Jovens adiam trabalho e contribuem para baixo desemprego

Dados mostram que o número de pessoas que não quer trabalhar nas seis maiores regiões metropolitanas do Brasil aumentou em 6% desde 2002

Estudantes brasileiros: cerca de 39% das pessoas em idade ativa no Brasil não querem trabalhar (Joedson Alves/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2014 às 16h26.

Brasília - Por que o desemprego ainda é tão baixo no Brasil se a economia cresce tão pouco há anos? Há muitas respostas para esse enigma, mas uma delas chama a atenção: há mais pessoas que simplesmente decidiram não trabalhar, uma tendência que parece ser duradoura e que pode limitar o crescimento da economia por muitos anos ainda.

Dados sobre o mercado de trabalho mostram que o número de pessoas que não quer trabalhar nas seis maiores regiões metropolitanas do país aumentou em seis pontos percentuais desde 2002 para 39 por cento das pessoas em idade ativa.

O aumento é equivalente a cerca de 2,5 milhões de pessoas. Como comparação, é o dobro do número de pessoas que são hoje classificadas como desempregadas.

O caso de Mariane Soares, 18, ajuda a explicar o que mudou.

Sua mãe, professora, tem cinco irmãos --algo que já foi comum no Brasil. Em vez de buscar o sonho de estudar na Universidade de Brasília (UnB), uma das universidades públicas mais prestigiosas do país, ela começou a trabalhar logo após terminar o equivalente ao ensino médio para pagar as contas.

Mariane, em contrapartida, é filha única, o que tem sido a regra em um número cada vez maior de famílias. Em vez de trabalhar, ela faz cursinho para entrar na graduação de Ciência Política da UnB.

"Hoje em dia esses pais falam: como posso te ajudar, vou te ajudar com certeza", disse Mariane em um bate-papo com outros 11 estudantes com idades entre 17 e 26 anos no cursinho Alub.

A cautela toma conta do cenário projetado para este ano por executivos latino-americanos. Com resultados no ano passado abaixo do esperado, a previsão para 2014 não é lá das mais promissoras, sobretudo em termos de oportunidades profissionais. Esta é a conclusão do PageGroup a partir do estudo “Perspectivas Econômicas e Profissionais da América Latina para 2014”, feito com 614 representantes de empresas que possuem sedes na América Latina: México, Colômbia, Chile, Argentina e Brasil. No entanto, mesmo com menos investimentos, há setores que se sobressaem e que devem receber mais recursos para contratações . Para alguns profissionais que atuam em áreas estratégicas, há mais possibilidades de crescimento nos cinco países citados na pesquisa . Confira as áreas das empresas latino-americanas que mais devem abrir novas oportunidades de carreira para os profissionais, de acordo com seus representantes:
  • 2. Operações

    2 /7(Getty Images)

  • Veja também

    Quem disse que vai contratar: 71% dos argentinos, 67% dos brasileiros, 65% dos chilenos, 58% dos colombianos e 58% dos mexicanos. Por que está em alta: “As empresas estão focadas na melhoria de suas esquipes operações para lidar com os gargalos de produção, transporte e distribuição. Já faz tempo que tem demanda porque faltam profissionais qualificados”, diz João Nunes, diretor da Michael Page. Ele explica que toda a América Latina tem problemas de infraestrutura. “Isso tem a ver não só com a carência técnica, mas também com as regras de cada país, como as dificuldades de importação, por exemplo”, diz Nunes. Profissionais que se destacam: engenheiros, profissionais de logística que migraram para a área de gestão de operações.
  • 3. Vendas

    3 /7(Getty Images)

  • Quem disse que vai contratar: 65% dos mexicanos, 54% dos chilenos, 50% dos colombianos, 42% dos brasileiros e 29% dos argentinos. Por que está em alta: Independente do ciclo há demanda. “É uma área que sempre contrata. Quando o mercado vai bem o objetivo é ter bons vendedores e expandir vendas. Quando mercado vai mal, objetivo é ter bons profissionais e conseguir alavancar resultados”, explica o diretor da Michael Page. No Brasil, a necessidade é puxada pelas empresas internacionais que estão desembarcando por aqui. “México, Colômbia e Chile são países em crescimento rápido por isso há demanda”, explica Nunes. Profissionais que se destacam: vendedores nas áreas de bens de consumo, bens de capital e tecnologia.
  • 4. Finanças

    4 /7(Ken Funakoshi/Flickr/Creative Commons)

    Quem disse que vai contratar: 29% dos argentinos e 25% dos brasileiros. Por que está em alta: No Brasil, a atenção das empresas está voltada para controle de custos e maior controle dos negócios, segundo Nunes. “Já se enxerga a grande responsabilidade da área de finanças na estratégia de negócios das empresas. Profissionais de finanças participam das etapas de elaboração do plano de negócios como planejamento, investimento, receita, controle de custos”, diz o diretor da Michael Page. Na Argentina, Nunes destaca  a necessidade é de controle contabilístico. Profissionais que se destacam: No Brasil o cargo que mais se sobressai é o de controller e na Argentina são os profissionais das áreas fiscal e contábil.
  • 5. Tecnologia

    5 /7(Reprodução/Neuwald)

    Quem disse que vai contratar: 22% dos mexicanos, 17% dos colombianos. Por que está em alta: as palavras de ordem no setor de TI são integração e proteção de informações. “Está havendo investimentos nessas áreas”, diz Nunes, que destaca também o crescimento na adoção do trabalho em esquema de home office. Profissionais que se destacam: especialistas em implementação de sistemas e profissionais de segurança. Analistas de negócios também estão sendo disputados, segundo Nunes. “É o profissional que faz a ponte entre a área de TI e a área de negócios”, explica.
  • 6. Marketing

    6 /7(Getty Images)

    Quem disse que vai contratar: 26% dos chilenos, 22% dos mexicanos e 17% dos colombianos. Por que está em alta: “Marketing digital vai continuar em crescimento, com criações de campanhas online e atenção às redes sociais”, diz Nunes. No México, a entrada de empresas no país também puxa a demanda. “ é um mercado que esteve retraído e agora empresas multinacionais estão investindo lá, e quando uma companhia chega em um país os primeiros investimentos são em marketing e distribuição. Profissionais que se destacam: gerentes de marketing digital que tenham boa capacidade de criação e também de execução, diz o diretor da Michael Page
  • 7. Agora, veja as profissões em alta no Brasil

    7 /7(Getty Images)


  • Essa lenta mudança é uma boa notícia para a geração mais nova. Embora a década de forte crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) tenha dado lugar a uma expansão de apenas 2 por cento em média nos últimos três anos, a maioria dos brasileiros ainda está satisfeita em geral com a economia, o que coloca a presidente Dilma Rousseff como favorita à reeleição em outubro.

    O desemprego caiu de 12,9 por cento em 2002 para 5,1 por cento em fevereiro deste ano, de acordo com o dado mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    No longo prazo, a busca por mais educação vai ajudar o Brasil a superar os problemas recentes com a produtividade.

    Mas no curto prazo, a dificuldade das empresas em encontrar e reter mão-de-obra força os salários para cima, reduz os lucros das empresas e alimenta a inflação.

    "O Brasil no passado era uma história de mão de obra abundante. Agora somos uma história de mão de obra escassa", disse o sócio da AC Pastore & Associados e ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore.

    Mão de Obra Escassa Limita PIB

    Educação ficou em segundo plano por muitos anos no Brasil, com sucessivas crises econômicas forçando famílias inteiras a procurar emprego. Antes disso era ainda pior: nos anos 1950, apenas uma em cada três crianças frequentava a escola.

    Reformas começaram a estabilizar a economia nos anos 1990. Em 2001, o governo federal começou a pagar para que os filhos de famílias pobres não saíssem da escola. Enquanto isso, uma reforma abriu o ensino superior privado para milhões de estudantes, e recentemente até intercâmbio a universidades estrangeiras tem recebido ajuda do governo.


    Depois de tudo isso, é fácil encontrar estudantes hoje dizendo que serão bancados por seus pais e ficarão sem trabalhar pelo menos até terminar a faculdade com 23 ou 24 anos, cinco ou até dez anos mais velhos que seus pais quando começaram a trabalhar.

    "A vontade de estudar em uma universidade federal prevalece. A gente está podendo adiar um pouco o sonho de formar uma família", disse Monalisa Feitosa, 18, que quer ser dentista em Brasília.

    Economistas dizem que há outras explicações possíveis para o baixo desemprego. Alguns citam a possibilidade de que empresas estejam evitando demitir para escapar do alto custo de recrutamento e treinamento quando a economia acelerar de novo.

    A Copa do Mundo, que começa em 12 de junho, também pode estar mantendo muitas pessoas com emprego no setor de serviços, que tem ganhado espaço em relação à indústria.

    Quaisquer que sejam as causas, a escassez de mão de obra deve ser um problema permanente no Brasil. Mesmo quando os estudantes de hoje terminarem a faculdade, a oferta de trabalhadores deve continuar a crescer a uma taxa muito lenta por causa do baixo número de crianças por família. Dentro de apenas 25 anos, a população do Brasil deve começar a encolher.

    Mesmo assim, essas preocupações não tiram o foco de estudantes como Maria Laura Cordeiro, 18, que diz que vai continuar a busca pelo diploma de qualquer forma --mesmo na hipótese ainda improvável de uma recessão, que poderia ser causada, entre outras razões, por um racionamento de energia nos próximos meses.

    "Se acontecer isso, não vou abandonar mesmo. Vou trabalhar dia ou noite, vou viver no energético, mas não vou deixar. É meu sonho e vou até o final."

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