JetSmart prepara desembarque no Brasil: 'já encomendamos aviões e não teremos onde voá-los'
Empresa com sede nos EUA quer entrar no mercado doméstico brasileiro, hoje dominado por três empresas
Repórter de macroeconomia
Publicado em 1 de fevereiro de 2024 às 06h08.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2024 às 09h45.
Em janeiro, a companhia aérea de origem americana JetSmart anunciou sua entrada no mercado doméstico da Colômbia. O próximo plano é desembarcar no setor de voos internos do Brasil.
"Temos 120 aviões já comprados. Recebemos 32, mas serão mais de 100. Se não contar com o Brasil, não vamos ter onde voá-los. Assim que, sem dúvidas, vamos chegar ao Brasil", diz Veronica Alvarez, gerente de mercados internacionais da empresa, em entrevista à EXAME.
Alvarez não cita uma data para a entrada, no entanto. Para operar no Brasil, empresas aéreas precisam ter uma filial no país e cumprir vários requisitos burocráticos, que podem levar vários meses ou até anos para serem concluídos.
A Jetsmart já opera no Brasil em voos internacionais, com sete rotas, ligando Florianópolis, Rio de Janeiro, São Paulo e Foz do Iguaçu a Santiago, Montevidéu e Buenos Aires.
A gerente diz não ver problema em uma das questões que as empresas aéreas mais reclamam no país: o excesso de processos judiciais contra as companhias, iniciados por passageiros que tiveram problemas nos voos, como atrasos ou cancelamentos.
"O Brasil é um país muito mais intensivo em termos de cuidado ao consumidor. Isso nos traz um desafio que vamos encarar com gosto. Isso nos empurra a melhorar nossos processos", diz.
O mercado doméstico brasileiro é dominado por três empresas: Latam, com 38,7% de participação, Gol (33,3%) e Azul (27,5%), segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em janeiro, a Gol entrou em processo de recuperação judicial nos EUA. Em seguida, as ações da empresa despencaram e deixaram de integrar o índice Ibovespa.
"Algumas companhias são exitosas e outras, não, porque ao final é um negócio de escala, que requer um investimento importante e sem dúvida tem a ver com estabilidade financeira. Uma companhia aérea necessita de uma base forte para iniciar as operações e poder sobreviver a crises como a da pandemia", afirma Alvarez, sem citar concorrentes específicos. "A JetSmart faz parte de um fundo de investimentos norte-americano muito grande, proprietário de outras companhias aéreas no mundo, e este respaldo é o que nos permite efetivamente poder crescer e ter investimentos suficientes para ingressar em países tão grandes como Brasil ou Colômbia."
Criada em 2016, a JetSmart faz parte do grupo americano Indigo Partners, que tem sede nos Estados Unidos e é dono das companhias Frontier (EUA), WizzAir (Europa), Volaris (México), Lynx (Canadá) e Cebu Pacific (Ásia). A empresa atua hoje nos mercados domésticos do Chile, Argentina e Peru e tem conexões internacionais para Brasil, Paraguai e Uruguai.
Crise aérea na Colômbia e no Brasil
O mercado para as companhias aéreas na América do Sul tem sido desafiador nos últimos anos, e a situação na Colômbia foi a mais complicada delas. Em 2020, a Avianca, principal e centenária empresa aérea do país, entrou em recuperação judicial, da qual saiu em 2021. No processo, deixou de ter ações em bolsa e passou a apostar no modelo low cost, inclusive em voos internacionais.
A Avianca também se juntou à Gol, na holding Abra, formalizada em 2023. Elas passaram a fazer parte de um mesmo grupo, mas mantiveram operações e marcas separadas.
Enquanto a Avianca se recuperava, no entanto, outras duas empresas colombianas, a Viva Air e a Ultra Air, encerraram as atividades de forma abrupta, em 2023. A Viva tentou uma fusão com a Avianca, mas o movimento foi barrado pelas autoridades e a empresa disse ter ficado sem fôlego financeiro para operar. O vácuo deixado pelas duas empresas abriu espaço para a entrada da JetSmart, que passará a operar voos domésticos na Colômbia, em sete rotas.