Inflação pode despencar em 2017 - e juro deve ir junto
Na mínima do ano, o IPCA pode ficar bem abaixo do centro da meta, de 4,5% ao ano
Da Redação
Publicado em 18 de janeiro de 2017 às 17h33.
Última atualização em 18 de janeiro de 2017 às 21h58.
São Paulo - Embora as expectativas sejam primordiais no regime de metas, os dados correntes de inflação também devem ter papel relevante em manter o sinal verde para o Banco Central cortar juros este ano.
O IPCA acumulado em 12 meses deve registrar nova queda aguda ao longo de 2017, a exemplo do que já ocorreu no segundo semestre de 2016. Na mínima do ano, o índice pode ficar bem abaixo do centro da meta, de 4,5% ao ano.
“A inflação acumulada em 12 meses vai despencar”, diz Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra.
Integrante da minoria de analistas que previu o corte inesperado do juro para 13% na semana passada, Oliveira prevê que a inflação vai começar 2017 já em queda forte e poderá atingir o piso do ano em agosto, com 3,77% no acumulado em 12 meses.
Estatisticamente, o mergulho da inflação se explica pelo fator substituição. Os dados acumulados em 12 meses ainda incorporam a inflação mais alta dos primeiros oito meses de 2016.
Esses dados mensais mais altos, porém, vão sendo paulatinamente substituídos por números novos e menores. Esta substituição começou em setembro do ano passado e deve prosseguir por boa parte deste ano.
Em janeiro de 2016, o IPCA foi de 1,27%, pressionado pela alta dos alimentados impulsionada pelo clima. Este ano, com clima mais benigno, o índice mensal deve cair para menos da metade, segundo a pesquisa Focus.
Com isso, o dado acumulado em 12 meses despencará. Oliveira estima que o índice descerá de 6,29% em dezembro de 2016 para 5,52% agora em janeiro.
E não são só os alimentos a causa da inflação melhor. Os preços de serviços desaceleraram com a recessão e o alto desemprego. E os núcleos do IPCA estão apontando para uma inflação em torno de 4% no ano, diz o economista do Fibra.
Se a inflação ficar significativamente abaixo do esperado e a atividade não engatar uma retomada, o BC pode mudar o ritmo de corte da Selic para 1 ponto percentual, diz Samuel Kinoshita, economista e sócio da Bozano Investimentos.
Ele lembra que o próprio presidente do BC, Ilan Goldfajn, não fecha as portas para o outro tipo de movimento. “O Brasil deve trabalhar com taxa de juros no futuro próximo muito mais baixa, o que já está precificado na curva de juros.”
Cristiano Oliveira espera um ciclo total de reduções maior do que estima a média do mercado. Ele trabalha com mais quatro cortes de 0,75 pp e dois de 0,50 pp este ano, num total de 4 pp - além do corte já feito este mês. Com isso, a Selic cairia dos atuais 13% para 9% no final do ano.
Apesar de riscos como os representados pelo governo Trump nos EUA e a Lava Jato no Brasil, o mercado também conta com as reformas fiscais para reforçar a percepção mais positiva sobre a economia.